Diário de Notícias

Autarca de Vila Real de Santo António suspeita de corrupção apanha PSD de surpresa

Conceição Cabrita foi detida por suspeitas de corrupção, recebiment­o indevido de vantagem e abuso de poder. PSD admite que o caso pode ter impacto eleitoral na candidatur­a de Luís Gomes à autarquia.

- TEXTO PAULA SÁ * paulasa@dn.pt * COM LUSA

PJ emitiu um comunicado em que esclarecia que tinham sido detidas mais três pessoas por suspeitas de corrupção, recebiment­o indevido de vantagem e abuso de poder.

“Uma surpresa completa.” Foi assim que uma fonte da direção do PSD comentou ontem a detenção da presidente da Câmara deVila Real de Santo António por suspeita de corrupção. Conceição Cabrita tinha anunciado em fevereiro que não se recandidat­aria ao cargo, apesar de o poder fazer, mas o motivo que invocou, mesmo internamen­te, foi o de que “o mandato tinha sido muito desgastant­e” e “não teve outra justificaç­ão”. Na corrida às eleições autárquica­s de outubro está o antigo presidente do município Luís Gomes, que já era o nome desejado, segundo fontes sociais-democratas, pelas estruturas locais do partido. E “Conceição Cabrita também terá percebido que não existia vontade na sua recandidat­ura”, asseguram as mesmas fontes.

Mas a realidade é que ontem a autarca foi detida pela Polícia Judiciária (PJ) por suspeitas de irregulari­dades num negócio imobiliári­o em Monte Gordo. Conceição Cabrita terá sido detida “à saída de casa”, quando se dirigia para o município, onde iria participar numa reunião de câmara, que acabou por se realizar sem a sua presença.

Durante a manhã, depois da detenção da presidente daquela câmara algarvia ter sido noticiada, a PJ emitiu um comunicado em que esclarecia que tinham sido detidas mais três pessoas. “No decurso desta operação, denominada Operação Triângulo, foram detidas quatro uma delas titular de cargo político”, é referido no comunicado na PJ. Entre os detidos, todos com idades entre os 50 e os 70 anos, “estão ainda um trabalhado­r da Administra­ção Pública e dois empresário­s”. Segundo a PJ, em causa estão “factos suscetívei­s de integrarem a prática dos crimes de corrupção, recebiment­o indevido de vantagem e abuso de poder”, havendo “suspeitas de atuação ilícita de titular de cargo político, que beneficiou da colaboraçã­o de funcionári­os, bem como outros intervenie­ntes, na intermedia­ção de um negócio, de compra de imóvel, propriedad­e do município, na praia de Monte Gordo”.

Foram realizadas “cerca de duas dezenas de buscas, designadam­ente domiciliár­ias, em estabeleci­mentos e escritório­s de advogados”, diligência­s que “tiveram lugar na região do Algarve, Lisboa, Leiria e Ourém”.

O negócio imobiliári­o envolveu a venda de um terreno em Monte Gordo por 5,6 milhões de euros. A proposta de venda do terreno, com cerca de cinco mil metros quadrados, situado na praia de Monte Gordo, junto ao Hotel Vasco da Gama, foi aprovada em assembleia municipal no dia 3 de abril de 2020, com os votos a favor do PSD e contra da bancada do PS e da CDU, pode ler-se na ata da reunião a que a Lusa teve acesso. A autarquia pretendia “receber à cabeça 50% do valor” e o resto quando os projetos estivessem “concluídos e licenciado­s”. O objetivo seria a construção de “habitação, comércio, serviços e turismo”, além de um estacionam­ento no subsolo, refere o documento.

Em declaraçõe­s à Lusa, o vereador da CDU na câmara algarvia referiu que o terreno em causa esteve “várias vezes à venda em hasta pública”, mas estas acabaram “sempre desertas”, ou seja, sem propostas, tendo a autarquia optado pelo ajuste direto. Álvaro Leal admitiu que na altura a “forma do negócio” lhe pareceu “algo estranha”, com a autarquia a vender “por metade do valor, sendo que a outra metade seria paga depois de o promotor vender”.

De acordo com o vereador, a CDU foi sempre “contra a sua venda”, porque o terreno teria sido “cedido há muitos anos para a construção de um jardim” e não deveria ter outro uso que não o público.

Os deputados comunistas na assembleia municipal justificar­am o chumbo numa declaração de voto em que referiam que a sociedade imobiliári­a Saint Germain – Empreendim­entos Imobiliári­os, SA, sediada em Aveiro, a quem foi atribuído o ajuste direto, não apresentou àquele órgão autárquico “quaisquer referência­s de idoneidade para um negócio desta envergadur­a”.

Também a bancada socialista justificou o voto contra alegando “não estarem reunidos os pressupost­os definidos na lei, pareceres e informaçõe­s, nomeadamen­te o convite a uma ou várias entidades, para a apresentaç­ão de proposta e alienapess­oas, ção ser efetuada pelo valor base de licitação em hasta pública”.

Impacto no PSD

A notícia da detenção da autarca do PSD caiu com estrondo no partido. “Apesar de Conceição Cabrita já não ir concorrer às eleições, o que está a acontecer terá impacto na candidatur­a de Luís Gomes”, admitiu ao DN uma fonte social-democrata. O candidato aprovado por Rui Rio para o município tinha antecedido Conceição Cabrita, que assumiu o comando da câmara em 2017, já que Luís Gomes tinha atingido o limite dos três mandatos.

Em fevereiro, numa publicação no Facebook, a autarca anunciava que não estava nos seus planos recandidat­ar-se ao cargo. “Levo deste mandato muitos momentos de cansaço, frustração, impotência, incapacida­de em ajudar mais um pouco quem precisa, ausência de casa, da família, dos amigos, e, com muita dor e saudade no coração, a perda do meu pai. Sinto no mais fundo de mim que não é o momento de baixar os braços, mas é o momento de estar presente na vida dos outros e, acima de tudo, na minha vida.”

alegadas divergênci­as nas estruturas socialista­s locais. “As notícias vindas a público sobre as hipóteses de candidatur­a do PS à Câmara do Porto assentam em fontes marcadamen­te especulati­vas. O PS nacional e as suas estruturas locais e distritais estão totalmente concentrad­as na estratégia nacional autárquica do PS”, escreveu José Luís Carneiro numa nota que enviou à agência Lusa. Uma estratégia que, segundo o secretário-geral-adjunto do PS, “tem como primeira missão afirmar um compromiss­o autárquico nacional que honre o seu património histórico e que alicerce o futuro do poder local democrátic­o em Portugal”.

“O concelho do Porto merece e terá, a seu tempo, uma candidatur­a que sirva a cidade, toda a região e o país. Por outro lado, temos em mãos a organizaçã­o do Congresso Nacional do PS. Por último, continuare­mos o trabalho político que está na nossa primeira prioridade: combater a pandemia e apoiar as iniciativa­s políticas que permitam a recuperaçã­o das condições de vida económica e social”, acrescento­u o “número dois” da direção socialista.

Por sua vez, fonte da Comissão Política do PS referiu à Lusa que o nome do candidato ao Porto só será formalizad­o em maio, depois de concluído um trabalho de concertaçã­o política e de definição estratégic­a a realizar entre a direção nacional, por um lado, a concelhia e a federação do Porto, por outro lado. Os nomes que têm sido noticiados como potenciais candidatos socialista­s à autarquia são os de Manuel Pizarro e do próprio José Luís Carneiro. A concelhia também quer ter uma palavra a dizer sobre o candidato e os nomes de Rosário Gamboa e Tiago Barbosa Ribeiro também foram testados.

O PSD avançou com um candidato à segunda maior câmara do país: Vladimiro Feliz, antigo vice-presidente de Rui Rio na autarquia. O CDS anunciou que apoia a recandidat­ura de Rui Moreira.

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Conceição Cabrita trabalhava há 16 anos no município e foi ontem detida pela PJ por suspeita de corrupção.

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