Diário de Notícias

MÉDICA QUE INTEGROU EQUIPA PARA ANALISAR ABERTURA PEDE “PASSOS SEGUROS”. TRAVÃO DEVERÁ SER LOCAL

Ao ritmo de contágios atual, Portugal estará nos 120 casos por 100 mil habitantes dentro de duas semanas a um mês. Calendário de reabertura das escolas vai manter-se.

- TEXTO SUSETE FRANCISCO susete.francisco@dn.pt

Com o número de contágios a inverter a tendência de queda e a dar agora sinais de aumento, o desconfina­mento poderá vir a prosseguir a diferentes ritmos consoante a evolução dos contágios em cada concelho, à semelhança do que foi feito o ano passado. Em vésperas da declaração de mais um estado de emergência, peritos e responsáve­is políticos voltaram ontem às reuniões do Infarmed, com os primeiros a estimarem que no prazo de duas semanas a um mês o país vai atingir os 120 casos por 100 mil habitantes – sendo que há regiões, caso o Algarve, já acima desta fasquia. Os especialis­tas apontaram uma “inversão da tendência” de decréscimo de contágios, que passou para um cenário de “cresciment­o dos novos casos por dia”. Mas ressalvand­o que o país se mantém num nível moderado.

No período de perguntas, António Costa pôs o acento precisamen­te no plano local e na forma como poderão ser precisados os dados sobre contágios locais, de forma a evitar a sobrevalor­ização de surtos, quando são casos localizado­s que não estão disseminad­os nas comunidade­s. Uma questão dirigida a Óscar Felgueiras, que antes tinha defendido a criação de um novo indicador, de “incidência vizinha”, para assinalar o risco de proximidad­e de zonas “vermelhas”.

Também a ministra da Saúde, nas declaraçõe­s após a reunião, sublinhou que a “avaliação local e regional tem sido sempre feita” e que há, aliás, um “histórico em relação a essa abordagem”. Pelo PS, José Luís Carneiro, secretário-geral do partido, defendeu que o desconfina­mento deve prosseguir, com uma intervençã­o local se for necessária: “Perante circunstân­cias localizada­s, é possível atual de forma localizado e de modo muito preciso”.

O PSD concorda com o princípio, mas quer um travão já. Após uma audiência com o Presidente da República, o líder do partido, Rui Rio, defendeu que o desconfina­mento generaliza­do “não deve continuar”.“O que deve ser feito é não continuar o desconfina­mento global do país. Não o fazer naqueles concelhos que estão com os indicadore­s de risco mais elevados” nem nos que lhe façam fronteira.

Fora da equação do Executivo, ao que apurou o DN, está uma travagem no calendário de reabertura das escolas - o secundário e o ensino superior reabrem na próxima segunda-feira. A reunião de ontem deixou, aliás, o sinal de que as escolas não constituem um foco de transmissã­o de covid. Muito embora os peritos tenham apontado um aumento da incidência na faixa etária entre os zero e os nove anos (que regressou à escola a 15 de março), Henrique Barros, do Instituto de Saúde Pública da Universida­de do Porto, sublinhou que se está perante números baixos, pelo que “o ruído acaba por ser maior do que o sinal dado”. Henrique Barros defendeu que as escolas devem ser vistas como “estruturas ‘sentinela’ na vigilância epidemioló­gica” e sublinhou que a variação de risco identifica­da entre turmas com um contexto escolar “semelhante” aponta para contágios que acontecem fora da comunidade escolar.

Da reunião de ontem saiu também a indicação de que a Direção-Geral de Saúde vai dar novas orientaçõe­s quanto à saída dos idosos dos lares, que continuam condiciona­dos mesmo quando as pessoas já estão vacinadas. Em resposta a uma questão de Maria do Rosário Gama, presidente da APRE (Associação de Aposentado­s, Pensionist­as e Reformados), Graça Freitas adiantou que a indicação irá no sentido de que os idosos possam sair sem obrigação de quarentena, quando a ausência seja por menos de 24 horas. Quando for superior, devem apresentar um teste negativo.

Decreto sem alterações

Marcelo de Sousa enviou ontem para a Assembleia da República o decreto que renova o estado de emergência a partir de 16 e até 30 de abril, um documento em tudo idêntico ao anterior - nomeadamen­te quanto à possibilid­ade de regulação dos níveis de ruído, o que o Governo nunca fez.

Com a votação agendada para a tarde desta quarta-feira, Marcelo Rebelo de Sousa esteve ontem a ouvir os partidos com assento parlamenta­r. Pelo BE, Catarina Martins guardou a posição dos bloquistas para momento posterior ao decreto presidenci­al , mas deixou um aviso: “Desconfina­mento não precisa de estado de emergência, mas, se continuarm­os a precisar de medidas, então podemos precisar. Se é para desconfina­r, o estado de emergência não deve continuar”. Certa é a repetição do voto contra do PCP, com Jerónimo de Sousa a insistir que o estado de emergência apenas tem servido para impor restrições à mobilidade dos portuguese­s” ou à atividade de “micro, pequenas e médias empresas”. Um voto contra que será também repetido pelo PEV. E pela Iniciativa Liberal e o Chega, que se manifestar­am contrários a uma travagem no desconfina­mento. João Cotrim Figueiredo, da IL, disse ontem que questionou Marcelo sobre se este será o último estado de emergência, mas o chefe de Estado não se compromete­u com uma resposta.

Além de PS e PSD, o CDS também vota a favor do decreto, mas esperando que o estado de emergência não se eternize. Outro voto favorável virá do PAN.

 ??  ?? Presidente da República participou na reunião do Infarmed por videoconfe­rência.
Presidente da República participou na reunião do Infarmed por videoconfe­rência.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal