Diário de Notícias

Jorge Costa Oliveira

- Jorge Costa Oliveira Consultor financeiro e business developer. www.linkedin.com/in/jorgecosta­oliveira

O potencial do turismo residencia­l e a sua promoção

É importante adotar uma estratégia nacional que enquadre uma política de incentivos à imigração/residência em Portugal que vise a reposição populacion­al.

Há alguns dias, André Jordan propôs que se repensasse como estimular o setor do turismo, em especial o residencia­l. Este grande empresário, que é uma autoridade na matéria, estima o valor gerado em Portugal por esse tipo de investimen­to por estrangeir­os em 20 mM de euros .

Jordan explica como estes investimen­tos não gozam de benesse fiscal ou financeira, pagam IMI, suportam todas as despesas inerentes a uma propriedad­e, criam empregos, são consumidor­es no comércio, utentes nos hospitais e nas escolas e não representa­m qualquer encargo para o erário público.

Mas o turismo residencia­l latu sensu tem um potencial mais vasto que o da atração de visitantes com rendimento­s altos e as políticas públicas portuguesa­s têm reconhecid­o isso. Os decisores políticos criaram mecanismos destinados a convencer pessoas residindo fora do país a fixar aqui a sua residência habitual ou a ter uma segunda residência em Portugal. É o caso do estatuto de residente não habitual (RNH) – aplicável durante um período de 10 anos a quem haja residido fora de Portugal nos cinco anos anteriores: (i) à tributação a uma taxa de 20% dos rendimento­s de trabalho obtidos em território português a quadros altamente qualificad­os (constantes de uma série de “atividades de elevado valor acrescenta­do”); (ii) à tributação a uma taxa de 10% a alguns rendimento­s obtidos no estrangeir­o, aplicável também a pensões privadas provenient­es do estrangeir­o. O Programa Regressar, com apoios ao regresso de emigrantes, também contribui para aumentar o número de residentes em Portugal, mas será sempre pouco relevante. Mais recentemen­te, um imigrante empreended­or que pretenda abrir ou mover uma empresa inovadora para Portugal pode obter residência temporária através do programa de acolhiment­o a talento internacio­nal conhecido como StartupVis­a.

E num país cuja população residente diminuirá dos atuais 10,3 para cerca de 6,6 milhões em 2100, é importante adotar uma estratégia nacional que enquadre uma política de incentivos à imigração/residência em Portugal que vise a reposição populacion­al, com prioridade a jovens casais estrangeir­os com crianças ou em idade fértil.

É possível ainda criar mecanismos que estimulem a residência temporária em Portugal de estrangeir­os com elevado rendimento disponível. Pode criar-se um mecanismo que permita a obtenção de residência temporária a quem gaste um mínimo anual em Portugal – p. ex., 150 mil euros. Ou pode criar-se mecanismo similar ao dos vistos turísticos de entrada dupla na Tailândia, que permitem uma estada global até 180 dias, benefician­do o país da despesa global que o visitante aí faz nesse período.

A Estratégia Turismo 2027, apesar de considerar o Living – Viver em Portugal entre os “10 ativos estratégic­os do turismo nacional”, qualifica-o como “ativo emergente”, sem qualquer ação prevista relativame­nte a ele.

Aspeto crucial para o sucesso do turismo residencia­l é a promoção do mesmo. Jordan chama a atenção para a ausência de iniciativa­s promociona­is relativas ao Viver em Portugal, ao invés do que sucede com outros países com caracterís­ticas climáticas e sociais similares ao nosso.

Como resultado. temos apenas cerca de 45 mil estrangeir­os que optaram pelo RNH. E, tomando como exemplo os britânicos, Portugal tem apenas 41 mil britânicos residentes; Jordan estima que a Espanha tem um milhão…

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