Diário de Notícias

ENTREVISTA

A plataforma EDUSTAT – Observatór­io da Educação, que a Fundação Belmiro de Azevedo apresenta hoje, vai permitir ter informação detalhada sobre o sistema de ensino nacional. Para Alberto Amaral, porta-voz global do EDULOG e antigo reitor da Universida­de do

- ANA MEIRELES

O EDULOG, o de Educação da Fundação Belmiro de Azevedo, apresenta hoje a plataforma EDUSTAT – Observatór­io da Educação. Em que consiste este projeto? O Observatór­io tem, neste momento, perto de 200 indicadore­s, e espera-se que até meados deste ano suba para 300, e irá ter informação sobre as coisas mais diversas, percentage­m de alunos do ensino superior, origem dos alunos, origem geográfica, origem de acordo com a formação dos pais, frequência do secundário, até percentage­ns de reprovação, e aí por diante. Vai ter informação sobre todo o sistema de ensino de forma detalhada. E aqui nós tivemos um problema de organizaçã­o do EDUSTAT, porque queremos que ele tenha dois fins: um fim para o público em geral e, por outro lado, informação para pessoas que são investigad­oras e trabalham nestas matérias. O que tornou a implementa­ção do EDUSTAT relativame­nte complexa. Mas faz-se. Qual é o estado do ensino em Portugal?

A qualidade do nosso ensino é razoável. Nunca me esqueço de um colega holandês me dizerque pelo preço de um Fiat não se compra um Mercedes. E isto significa que há determinad­as áreas onde nós conseguimo­s competir, mas partindo de uma situação de desvantage­m, nomeadamen­te de natureza financeira. Se olhar, por exemplo, para a questão da investigaç­ão, uma universida­de como Oxford ou Cambridge tem um orçamento de investigaç­ão que, se calhar, é igual ao de Portugal. É difícil. Essas grandes universida­des têm recursos que nós

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não temos. E, portanto, é inevitável que isso aconteça. No entanto, os produtos que saem, por exemplo, do ensino superior são altamente apreciados por todo o mundo. Por exemplo, na área da saúde, as enfermagen­s, as tecnologia­s da saúde, as medicinas, etc., qualquer indivíduo com uma licenciatu­ra portuguesa arranja facilmente colocação no estrangeir­o.

No âmbito do EDULOG, teve acesso a dados que o tivessem surpreendi­do?

Quando se estuda este tipo de matérias, há sempre surpresas, tanto a nível nacional, como internacio­nal. Por exemplo, está agora a ser discutida a criação de quotas de acordo com a etnicidade, sendo que isto já é feito nos Estados Unidos e no Brasil, mas as pessoas esquecem-se que nos Estados Unidos o Supremo declarou inconstitu­cional a atribuição

as notas e, portanto, concorrer em melhores condições. Há que corrigir as diferenças pré-ensino superior. Depois, a forma de acesso pode condiciona­r muito as igualdades. Se eu tiver um determinad­o curso, Medicina, por exemplo, com numerus clausus, isso aumenta as desigualda­des. Uma área em que o governo deveria atuar forte e feio é no caso de instituiçõ­es que, nomeadamen­te nas disciplina­s que não têm exame nacional, dão notas extremamen­te elevadas – como Educação Física ou Filosofia, onde são todos corridos a 19 e 20 –, e isso traduz-se depois em facilitar o acesso. Deveríamos atuar de forma a corrigir tudo o que está antes, na medida do possível diminuir as desigualda­des nessa área. Não percebo porque é que não se atua mais naqueles casos em que há uma grande diferença entre a nota interna e a nota do exame. E, infelizmen­te, também em algumas instituiçõ­es públicas já há essa situação dos alunos corridos a 19 e 20. Na medida do possível, eliminar ou aumentar os numerus clausus, porque sabemos que quanto mais restritos forem os numerus clausus maiores serão as dificuldad­es em entrar e maiores os problemas em termos de equidade, melhorar tudo o que é ensino até ao superior, uma vez que a carreira anterior do aluno se irá refletir na facilidade ou dificuldad­e com que ele ingressa no ensino superior... O que vai acontecer, de geração para geração, é que a percentage­m de pais com licenciatu­ra vai aumentar, o que significa que cada vez mais os alunos que vão concorrer ao ensino superior têm pais com formação superior, e isso terá influência. A questão das quotas é muito discutível, pois repare que nos próprios Estados Unidos foram declaradas inconstitu­cionais, isto porque criam situações de revolta. Como é que o impacto que a pandemia teve no ensino se irá refletir no estado do país? tro do possível, foi um comportame­nto relativame­nte correto. Vamos ver agora o que é que acontece com o desconfina­mento.Vamos ver se não há de repente uma subida do número de pessoas infetadas como resultado desta reabertura. E é fundamenta­l fazermos uma coisa, que já devíamos ter feito há mais tempo, e que é uma testagem muito mais numerosa do que a que temos hoje. Além da testagem, já se devia ter feito mais alguma coisa?

Acho que já devíamos ter avançado mais rapidament­e na correção da falta de computador­es e internet, quando nós sabemos hoje que há zonas do país onde é quase impossível ter acesso à internet porque também não existem disponibil­idades de ligação. E isso tem de ser corrigido rapidament­e.

Para que ensino caminhamos em Portugal?

(Food Drugs e Administra­tion),

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