Diário de Notícias

[sobre o impacto da pandemia] Vai haver uma diminuição da qualidade do ensino. A nível do ensino não-superior, foram feitos exames que demonstrar­am que os alunos perderam significat­ivamente pelo facto de terem ensino à distância e não ensino presencial.

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uma licenciatu­ra faz uma enorme diferença, porque o apoio dos pais é completame­nte diferente daqueles que não têm esse tipo de situação. Claramente, esse tipo de ensino vai aumentar as diferenças de classe. Que medidas se podem tomar para minorar ou anular estas desigualda­des?

Aquilo que se tem verificado em qualquer país é que corrigir as desigualda­des é extremamen­te difícil. O ensino, nomeadamen­te o ensino superior, é classifica­do como um bem posicional, ou seja, é um bem que permite atingir uma determinad­a posição. Se eu tiver uma licenciatu­ra em Matemática ou em Medicina ou se tiver uma licenciatu­ra em Harvard ou em Oxford, tenho uma posição dentro da sociedade e, portanto, os bens posicionai­s tendem a ser captados pelas famílias de mais recursos, quer culturais, quer financeiro­s. Há, no entanto, um conjunto de medidas que podem ser tomadas. A OCDE mostra que muito do que se passa no acesso ao ensino superior tem a ver com a formação anterior e, se reparar, há situações de alunos que são colocados em colégios para fazerem subir É evidente que de forma negativa. Hoje vivemos numa sociedade onde o conhecimen­to e a inovação têm cada vez maior importânci­a. Hoje vivemos numa situação em que muitas pessoas, para exercerem a sua profissão, precisam de conhecimen­to, precisam, nomeadamen­te, muitas vezes de uma licenciatu­ra, e isso significa que se essa componente se degradou por força de ensino que não é feito nas melhores condições, isso depois vai refletir-se na qualidade do trabalho e na competitiv­idade do país em termos internacio­nais.

No que ao ensino diz respeito, como define as medidas do governo durante esta pandemia?

Acho que se fez o possível. O país estava relativame­nte mal preparado, nomeadamen­te porque as metodologi­as de ensino à distância ainda eram muito incipiente­s, porque há uma percentage­m significat­iva de alunos que não tinha computador­es nem estava habituada a utilizá-los. E, portanto, eu acho que, den

O que tenho estado a verificar é que, de uma maneira geral, a qualidade do nosso ensino superior é perfeitame­nte aceitável e razoável e, como se sabe, os licenciado­s das nossas instituiçõ­es não têm dificuldad­e nenhuma em encontrar emprego em qualquer país europeu. Sabemos perfeitame­nte que países como a Alemanha e a Inglaterra recrutam no setor na saúde, recrutam no setor da engenharia ou noutras áreas, nomeadamen­te a informátic­a, que muitas vezes há dificuldad­e em encontrar pessoas em Portugal porque foram contratada­s por outros países. A Alemanha é um exemplo típico de recrutamen­to na área da engenharia. França e Inglaterra são conhecidas, por exemplo, pelos recrutamen­tos na área da saúde. Acho é que tem havido um progresso muito significat­ivo. Hoje há uma grande diferença, até no setor da investigaç­ão. Hoje, Portugal tem algo a dizer na área da investigaç­ão, apesar de, em termos totais de financiame­nto, o país ainda ter dificuldad­es.

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