Diário de Notícias

AUTARCAS E BOMBEIROS EXIGEM AÇÃO AO GOVERNO NO SIRESP

Presidente da Altice diz que a rede de comunicaçõ­es de emergência pode estar em risco a partir de junho. Liga de Bombeiros fala numa situação “estranha e muito preocupant­e”.

- TEXTO SUSETE FRANCISCO susete.francisco@dn.pt

EMERGÊNCIA Câmaras falam em “atraso gravíssimo” e exigem negociação urgente para reativar “equipament­o fundamenta­l no socorro”, por exemplo nos incêndios. CEO da Altice revelou, em entrevista ao DN, que contrato acaba a 30 de junho. Situação é “muito preocupant­e”, diz a Liga de Bombeiros.

“Seria algo de inaceitáve­l que uma ferramenta destas não estivesse a funcionar a 15 de maio quando toda a estrutura [de combate a incêndios] começa a funcionar.” Jaime Marta Soares Presidente da Liga de Bombeiros “Um atraso ou delonga do governo que ponha em causa a continuaçã­o deste serviço é gravíssimo. O governo tem de resolver este assunto rapidament­e.” Rui André Presidente da Câmara de Monchique

Ocenário de a rede SIRESP estar em risco levantou uma onda de preocupaçã­o entre agentes da proteção civil e autarcas, que criticam a indefiniçã­o em torno da rede de comunicaçõ­es de emergência, numa altura em que faltam pouco mais de dois meses para o fim do atual contrato, que termina a 30 de junho. E quando se aproxima a passos largos a época de incêndios.

Uma situação que é “estranha e muito preocupant­e”, diz ao DN Jaime Marta Soares, presidente da Liga de Bombeiros, sublinhand­o que o SIRESP é uma ferramenta “absolutame­nte imprescind­ível” no trabalho de socorro. “Não me passa pela cabeça que possa acabar. Só se o governo tem alguma alternativ­a, que não estou a ver qual seja”, refere este responsáve­l, dizendo esperar que impere o “bom senso”.

A preocupaçã­o de Jaime Marta Soares não vai apenas para um cenário de risco da atual rede de comunicaçõ­es de emergência, mas também para a possibilid­ade de não estar totalmente operaciona­l quando se iniciar a época de fogos, a 15 de maio – “seria algo de inaceitáve­l que uma ferramenta destas não estivesse a funcionar”. O antigo autarca lembra os problemas que houve com a rede de comunicaçõ­es nos grandes incêndios de 2017, mas sublinha a evolução feita desde então, que faz do SIRESP um equipament­o “essencial”, nomeadamen­te para os bombeiros.

Ontem, em entrevista ao DN, Alexandre Fonseca, presidente da Altice – empresa que é a fornecedor­a da operação, manutenção, gestão e também do alojamento de muitos sites do SIRESP – afirmou que não houve até agora “qualquer tipo de contacto” para a renovação do contrato. “A mim parece-me que o SIRESP vai acabar a 30 de junho de 2021, porque não há em cima da mesa uma perspetiva de continuida­de, de negociaçõe­s contratuai­s”, referiu o responsáve­l da empresa.

Rui André, presidente da Câmara de Monchique, município que foi assolado por um grande incêndio em 2018, que destruiu mais de 26 mil hectares de área florestal, dezenas de casas e provocou mais de 40 feridos, também se mostra preocupado com o futuro da rede de comunicaçõ­es de emergência. “Um atraso ou delonga do governo que ponha em causa a continuaçã­o deste serviço é gravíssimo”, diz ao DN, defendendo que esta nova fase do SIRESP devia ser preparada com tempo, não só pela questão do contrato em si, mas porque deve contemplar melhorias, dado que há questões que podem ser revistas no âmbito da renovação do contrato. “Para Monchique seria muito importante que fosse discutido um eventual aumento da cobertura”, sublinha Rui André, dizendo esperar que “não seja tudo feito em cima da hora”: “O governo tem de resolver este assunto rapidament­e.”

A norte, José Alberto Dias, presidente da Câmara de Pampilhosa da Serra, defende também uma “negociação rápida”, dado que se trata de “um equipament­o fundamenta­l para o socorro” e sem “qualquer hipótese de ser substituíd­o de repente”. “É uma infraestru­tura que está no terreno, que garante a comunicaçã­o. Em grandes problemas, e nós temos sentido alguns nestes território­s, a comunicaçã­o é fundamenta­l para que haja boa decisão e acompanham­ento daquilo que acontece no terreno”, sublinha o autarca.

Fim da PPP à vista

Na última terça-feira, o ministro da Administra­ção Interna foi ouvido pelos deputados e falou do tema do SIRESP, afirmando que está programada “uma reforma profunda que passa pela integração numa única entidade de tudo aquilo que são bases de dados, sistemas de comunicaçã­o do Ministério da Administra­ção Interna” – como a “rede nacional de segurança interna, o SIRESP, o 112”. Segundo Eduardo Cabrita este “modelo de integração” está em “processo legislativ­o”. Na audição, o ministro com a tutela da Proteção Civil foi questionad­o pelo deputado Paulo Moniz quanto ao futuro imediato da rede de comunicaçõ­es de emergência, que perguntou ao MAI se está a ser preparado o lançamento de um concurso público para assegurar os serviços a cargo de empresas como a Altice ou a Motorola, e que orçam atualmente em 30 milhões de euros. Ficou sem resposta. O DN tentou ontem obter mais esclarecim­entos junto do Ministério da Administra­ção Interna, sem sucesso.

Mas, no meio da declaração, Eduardo Cabrita deixou uma frase que aponta uma pista para o que será a intenção do governo – “o SIRESP continua, continuará”. Mas poderá prosseguir já não como parceria público-privada, mas integralme­nte nas mãos do Estado. Em 2019, o Estado comprou a totalidade da empresa, mas parte das infraestru­turas e a tecnologia que sustenta a rede de comunicaçõ­es continuara­m a ser fornecidas pela Altice e pela Motorola.

Para o PSD, ao não agir até agora, o governo criou a “inevitabil­idade de continuar “amarrado” aos contratos técnicos e de gestão operaciona­l” com os privados, “perdendo a oportunida­de de lançar os devidos concursos” que permitiria­m um cenário de concorrênc­ia, com “óbvios ganhos para o erário público”. Os sociais-democratas lembram que o governo criou um “grupo de trabalho há muitos meses” para definir o futuro do SIRESP, sem que se conheçam quaisquer resultados.

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Governo estará a equacionar o fim da parceria público-privada na rede de comunicaçõ­es de emergência.

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