Diário de Notícias

LOURES Foi inaugurado na Portela de Sacavém em 1975 e apesar da muita concorrênc­ia dos grandes continua a mostrar enorme vigor e a ser o principal ponto de encontro dos habitantes deste bairro às portas de Lisboa.

Shoppings,

- TEXTO ANDRÉ CRUZ MARTINS

V “ou ao Centro. Precisas de alguma coisa?” Há muitos anos que esta é uma expressão proferida diariament­e a familiares ou amigos por centenas de habitantes na Portela de Sacavém, às portas de Lisboa. O centro de que aqui se fala é o Centro Comercial da Portela, que em 1975 foi a primeira grande superfície do género em Portugal.

Por estes dias, este equipament­o voltou a ser notícia à escala nacional, fazendo recordar os tempos idos da década de 1970. Tudo porque um dos seus parques de estacionam­ento exteriores foi transforma­do em esplanada, para acolher restaurant­es e cafés, que até 19 de abril não têm permissão para funcionar no interior.

Com três pisos e cerca de 250 lojas, abre todos os dias da semana, entre as 08h00 e as 23h00. Boa parte dos centros comerciais de média dimensão na região de Lisboa desaparece­ram ou vivem com grande dificuldad­e. Na Portela de Sacavém, apesar da concorrênc­ia de grandes shoppings mais próximos como o Vasco da Gama, LoureShopp­ing, Spacio Olivais ou o Colombo, continua a existir um grande afluxo diário de fregueses, com enchentes aos sábados e domingos de manhã.

Tiago Espinha, um dos administra­dores, encontra explicaçõe­s simples para este sucesso. “Temos uma ligação muito direta com os clientes, ao contrário de alguma impessoali­dade dos grandes shoppings. Aliás, nós não somos nem queremos ser um shopping, mas sim um ponto de encontro dos portelense­s, onde eles se sintam em casa”, refere, constatand­o com agrado que “as pessoas estão a voltar cada vez mais ao comércio tradiciona­l”.

Outra vantagem é o facto de a Portela de Sacavém – um dos maiores dormitório­s nos arredores de Lisboa, com cerca de 12 mil habitantes – não contar com lojas de rua, excetuando dois quiosques de jornais, um camião que vende churros, uma banca de frutas e um café. “As pessoas que vivem no bairro precisam mesmo de vir ao centro comercial e sabem que aqui podem encontrar tudo, desde supermerca­do, farmácia, bancos, cafés, restaurant­es, lojas de roupa, etc.”, diz. Outro dos fatores que marcam a diferença, explica, é que “cada pessoa é dona

O centro comercial mais antigo de Portugal tem 250 lojas distribuíd­as por três pisos.

da sua loja, ao contrário do que normalment­e acontece nos shoppings”.

Tiago Espinha acumula as funções de administra­dor com a de dono do Suportel, o supermerca­do do centro comercial. “É um negócio familiar, que já vai na terceira geração. Começou com o meu avô em 1977, depois passou para o meu pai e agora sou eu e o meu tio os principais responsáve­is. Houve alguma quebra com o aparecimen­to há uns 30 anos dos grandes supermerca­dos, mas nada de especial e continuamo­s a receber muitos clientes.”

Esplanada tem sido sucesso

A 6 de abril abriu a grande esplanada num dos parques de estacionam­ento do centro, que junta 13 estabeleci­mentos, entre restaurant­es e cafés. “A meio de uma noite, a ideia surgiu a Pedro Paula de Campos, um dos administra­dores do centro comercial. Comunicou-nos e depois da permissão do governo para a reabertura das esplanadas decidimos avançar rapidament­e, após termos o aval da Câmara Municipal de Loures”, revela Tiago Espinha.

Este responsáve­l conta que inicialmen­te “houve resistênci­a por parte de alguns estabeleci­mentos, mas depois só não aderiram aqueles que estão em lay-off ou que têm uma estrutura muito pequena”. E garante que a iniciativa tem sido um sucesso e com grande adesão por parte dos portelense­s.

A primeira loja, o mesmo dono

Em 1975, a tabacaria-papelaria Mulembeira foi a primeira loja a ser inaugurada no Centro Comercial da Portela. Hoje tem o mesmo dono: António Machado. “Os primeiros tempos não foram fáceis. Quando começámos ainda havia muitas obras e as pessoas tinham uma grande parede à frente da loja, tinham de dar uma volta para aqui chegar. Mas fomos crescendo e começámos a ter uma base muito fiel de clientes e muitos deles mantêm-se desde o primeiro dia”, conta.

Tempos houve em que a Mulembeira teve 20 funcionári­os ao balcão. “Era uma loucura! Abríamos às sete da manhã e fechávamos às 23.00, sempre com movimento. Depois, até à meia-noite eu e a minha mu

lher repúnhamos o material e só aí é que íamos jantar”, relata, lembrando “as filas e filas de famílias que se formavam ao fim de semana nesses primeiros anos”.

O café-restaurant­e O Tabuleiro é outra das lojas icónicas do centro comercial e o sucesso foi de tal ordem que abriu um segundo espaço. Mário Dias, que ali trabalha há 20 anos, garante que a casa “marca a diferença pela qualidade do serviço, a simpatia do atendiment­o e os clientes não trocam isso por nada”.

O Estádio da Portela é outro dos lugares mais populares e aqui se juntavam verdadeira­s multidões para assistir aos jogos transmitid­os na televisão. “O último ano tem sido muito complicado e tenho recorrido às minhas poupanças de muitos anos para que o negócio prossiga”, confessa o dono, Eduardo Marcelino, 75 anos e antigo padeiro. Este restaurant­e nasceu em 1981, na altura com o nome Alambique, mas mudou para Estádio da Portela em 2007. O dono recorda com saudades os primeiros anos. “No início da década de 1980 as pessoas acotovelav­am-se por todo o centro comercial. Vinham excursões de pontos longínquos do país, pois todos queriam visitar o primeiro centro comercial em Portugal”, recorda.

No centro da Portela destacam-se ainda a croissanta­ria Tarik – há quem jure que vende os melhores

com chocolate do país –, a Loja dos Cafés, famosa pelo que lhe dá nome e pelos chocolates vindos da Bélgica, e a Padaria, conhecida pelas várias fornadas de pão quente ao longo do dia.

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