EUA alegam que a presença militar russa junto à fronteira da Ucrânia é a maior desde 2014. Alemanha fala em tentativa de “provocar reações”.
Um dia depois de a Rússia anunciar que estava a realizar “exercícios militares” perto da fronteira ucraniana, em resposta às ações consideradas ameaçadoras da NATO, a Ucrânia indicou também estar a proceder a manobras militares junto à fronteira com a Crimeia (anexada ilegalmente pelos russos em 2014). Por seu lado, Moscovo denunciou terem chegado pelo menos cinco aviões norte-americanos de transporte militar à zona. E dois navios de guerra da Marinha dos EUA terão pedido autorização à Turquia para cruzar o Bósforo e entrar no mar Negro, onde devem ficar pelo menos até 4 de maio.
“Declaram que não estão interessados em reativar o conflito, mas na realidade enviam recursos para armar o Exército ucraniano, aumentam a presença de navios de guerra no mar Negro, planeiam manobras conjuntas, fornecem armas letais, preparam os militares ucranianos”, afirmou o secretário do Conselho de Segurança russo, Nikolai Patrushev, numa reunião realizada na Crimeia.
A convergência de militares na região surge diante de uma escalada também nas trocas de acusações de ambos os lados. O secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, considerou que o acumular de tropas russas na fronteira é “injustificado, inexplicado e profundamente preocupante”. Já a ministra da Defesa alemã, Annegret Kramp-Karrenbauer, indicou antes de uma reunião com os homólogos da NATO, que a sua impressão “é que a parte russa está a fazer todo o possível para provocar reações”, alegando que “com a Ucrânia não seremos arrastados para este jogo”.
O ministro da Defesa russo, Serguei Shoigu, alegou que Moscovo tomou as “medidas adequadas”, em resposta às atividades militares da Aliança que ameaçam a Rússia”. O Kremlin negou por várias vezes o envolvimento no conflito na Ucrânia, rejeitando acusações de que está a ajudar as forças separatistas no Leste, nomeadamente em Donbass.
Cimeira Biden-Putin?
O presidente dos EUA, Joe Biden, numa conversa telefónica na terça-feira com o homólogo russo, Vladimir Putin, pediu o aliviar da tensão na região, reiterando o apoio de Washington a Kiev. “O presidente Biden sublinhou o apoio inabalável dos EUA à soberania e integridade territorial da Ucrânia”, lia-se no comunicado sobre o telefonema.
Biden terá ainda proposto a Putin uma cimeira entre ambos, num país terceiro, “para construir uma relação estável e previsível”, com o Kremlin a dizer ontem que vai estudar essa proposta. “É ainda prematuro falar desse encontro de modo concreto. É uma nova proposta que vai ser estudada”, disse à imprensa o porta-voz Dmitri Peskov.
Enquanto isso, no terreno, os EUA alegam que a presença militar russa é a maior desde 2014. “A Rússia tem agora mais tropas estacionadas na fronteira com a Ucrânia do que em qualquer outro momento desde 2014. A Rússia destacou entre 15 mil e 25 mil soldados”, disse a representante norte-americana na Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), Courtney Austrian, numa reunião do grupo em Viena.
“As atividades militares unilaterais da Rússia servem apenas para desestabilizar ainda mais uma situação já volátil e ameaçam desfazer o frágil cessar-fogo no leste da Ucrânia”, acrescentou. “A Ucrânia tem razão em preocupar-se com essas atividades. Tanto em 2008 como em 2014, a Rússia reuniu forças antes de lançar operações militares contra a Geórgia e a Ucrânia”, lembrou a diplomata norte-americana.
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, numa visita aos militares na zona de fronteira, na semana passada.