Diário de Notícias

COSTA TRAVA PLANO EM 11 CONCELHOS

- TEXTO RUI FRIAS rui.frias@dn.pt

PANDEMIA Abertura avança na segunda-feira nas escolas, com secundário e ensino superior de volta às aulas presenciai­s. Mas primeiro-ministro já puxa o travão de mão. Há 13 concelhos no limite do risco. Em sete a próxima fase foi mesmo adiada e outros quatro terão de recuar.

No final deste mês de abril toda a população com mais de 70 anos poderá estar vacinada e até ao mês de maio toda a população com mais de 60 anos.

COVID-19 A matriz de risco aproxima-se da zona amarela, mas António Costa confia que o país está pronto a avançar no desconfina­mento. Nem todo, no entanto: onze concelhos ficam para trás. Vacinação deve permitir relaxar critérios de risco no final de maio.

Apesar dos alertas que se multiplica­ram nos últimos dias, de vários especialis­tas, a aconselhar­em uma pausa no plano devido ao evoluir da situação epidemioló­gica, António Costa anunciou ao país que a terceira fase de desconfina­mento é mesmo para avançar a partir da próxima segunda-feira. A velocidade­s diferentes, no entanto. Há 11 concelhos que vão ficar para trás neste caminho, e quatro deles vão mesmo recuar uma etapa, por continuare­m com nível de risco muito elevado (com mais de 240 casos por 100 mil habitante). Portugal avança assim a três velocidade­s [ver mapa nesta página]. Com uma exceção: as escolas. Aí “as medidas são sempre de âmbito nacional”, lembrou o primeiro-ministro. Por isso, na próxima semana, as escolas secundária­s e universida­des reabrem ao ensino presencial em todo o território.

“A gestão da pandemia exige uma relação permanente de confiança entre quem toma decisões e os cidadãos. E um dos pressupost­os dessa confiança é a previsibil­idade”, frisou António Costa, para justificar a razão pela qual o Conselho de Ministros decidiu avançar com o plano de desconfina­mento previsto, apesar das tais advertênci­as de alguns cientistas, que defendiam que se aguardasse mais uma semana para se tomar decisões sobre os próximos passos. “Foi por isso, para estabelece­rmos essa relação de confiança com os cidadãos, que anuciámos todo o calendário do desconfina­mento e os critérios com base nos quais vamos tomando decisões”, lembrou o primeiro-ministro.

“Anunciámos que esta revisão iria ser feita de 15 em 15 dias, porque nos termos da Constituiç­ão o estado de emergência é votado de 15 em 15 dias. Não podemos dizer que é a meio do estado de emergência que tomamos as medidas”, justificou Costa, admitindo os riscos: “Sim, há riscos. Mas por isso é que daqui a 15 dias estaremos a fazer nova análise e avaliação da situação”, defendeu António Costa, que lembrou também que foram “seguidas as recomendaç­ões dos especialis­tas: critérios claros e medidas locais quando necessário”.

Foram esses critérios, de resto, que levaram à divisão do país em três velocidade­s diferentes a partir de agora. Quatro concelhos – Moura, Odemira, Portimão e Rio Maior – recuam mesmo para as regras que vigoravam antes do atual processo de desconfina­mento, voltando os seus habitantes a ficar proibidos de circulação entre concelhos (com as exceções previstas na lei). Em sete outros concelhos, que nas últimas duas semanas mantiveram uma taxa de incidência superior a 120 casos por 100 mil habitantes, mantêm-se as atuais regras.

No resto do país, o desconfina­mento avança então, a partir de dia 19, para a terceira fase - como previsto no plano apresentad­o pelo Governo a 11 de março. Além do regresso do ensino presencial ao secundário e às universida­des, voltam a abrir também os cinemas, teatros e as lojas de centros comerciais, enquanto cafés e restaurant­es passam a poder ter grupos de até 4 pessoas nas mesas interiores, entre outras medidas que avançam nesta fase (ver lista nesta página).

Vacinação vai permitir rever critérios de risco

Na sua declaração ao país, o primeiro-ministro admitiu que os critérios de medição do risco em cada concelho podem ser revistos no final de maio, quando estiver vacinada 96% da população na faixa etária com maior taxa de mortalidad­e de covid-19.

“As metas fixadas pela task force da vacinação são claras e permitem antever que no final deste mês de abril toda a população com mais de 70 anos possa estar vacinada e até ao mês de maio toda a população com mais de 60 anos possa estar vacinada”, sublinhou António Costa

“Significa isto que vencemos a pandemia no final de maio? Não. Significa que a partir de final de maio estaremos mais seguros do que aquilo que estamos hoje”, acrescento­u, para defender que, nessa altura, se poderá “refazer aquilo que são os critérios de medição de risco ao nível de cada concelho”, já que o risco da doença “diminuirá significat­ivamente” nessa situação prevista para finais de maio - com 96% da população de maior risco vacinada. A imunidade crescente da população vai exigir critérios diferentes de desconfina­mento, justificou o PM, negando que tal revisão de critérios tenha como objetivo relaxar exigências para “salvar o verão, o comércio e o turismo”.

A gestão da pandemia exige uma relação permanente de confiança entre quem toma decisões e os cidadãos. E um dos pressupost­os dessa confiança é a previsibil­idade.

Aliás, Costa tentou sempre manter a tónica nos cuidados que continuam a ser necessário­s em relação aos comportame­ntos de todos, lembrando que apesar de a generalida­de do país avançar para a terceira fase de reabertura, “o dever de recolhimen­to mantém-se, apenas tem um pouco mais de exceções”. E sublinhou mesmo a importânci­a de o país conseguir evitar uma quarta vaga pandémica. “Temos que manter permanente­mente a vigilância porque, como nós sabemos, já sofremos três vagas e aquilo que estamos a trabalhar é para evitar uma quarta”, disse, lembrando que só assim poderemos ter um verão normal. “Temos que procurar todos trabalhar para ter um verão seguro e podermos todos gozar as nossas férias com a tranquilid­ade que todos merecemos”, afirmou, avisando que o contexto atual “é difícil” devido à “multiplica­ção das variantes” do vírus. “Essas variantes têm suscitado várias surpresas, a maior das quais foi a chamada variante britânica, que é hoje dominante em todo território nacional e que foi a responsáve­l pelo cresciment­o exponencia­l desta pandemia durante o mês de janeiro”, recordou.

Fronteiras com Espanha continuam fechadas

Precisamen­te para tentar conter a entrada das variantes mais perigosas - como a sul-africana e a brasileira, além da inglesa -, António Costa adiantou que vão continuar fechadas nos próximos 15 dias as fronteiras terrestres com Espanha. Também as regras para a circulação aérea se mantêm iguais na próxima fase do plano de desconfina­mento. “Relativame­nte aos voos, a regra é a regra que está em vigor, portanto, na generalida­de das origens que tenham menos de 500 casos por 100.000 habitantes, podem vir desde que tenham um teste. Fora isso, podem vir e sujeitar-se a teste, mais quarentena”, afirmou António Costa, que cortou ainda as esperanças dos adeptos do futebol em voltarem aos estádios nesta época desportiva. “É evidente que antes da próxima época segurament­e não haverá adeptos nos estádios. É uma questão que está resolvida e clara”, declarou, na parte final de uma conferênci­a que começou com o reconhecim­ento de que o índice de transmissi­bilidade (Rt) da covid-19 está numa evolução negativa desde o início do processo de desconfina­mento, tendo passado de 0,78 para os atuais 1,05, aproximand­o-se do “lado perigoso” da matriz de avaliação. A taxa de incidência, no entanto, teve “uma evolução claramente positiva”, estando atualmente nos 69 casos por 100 mil habitantes a nível nacional.

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António Costa aponta para a matriz de risco para defender o avanço do plano de desconfina­mento.
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