O presidente afegão, Ashraf Ghani, repete que as forças de defesa do Afeganistão “são perfeitamente capazes de defender o povo e o país”.
Combatentes talibãs conseguiram resistir a intervenção americana.
Joe Biden, na quarta-feira, e citado pela Deutsche Welle, resume de algum modo a situação.“A história lança uma sombra negra no Afeganistão. A muitos dos mesmos tenentes do poder e senhores da guerra que viraram as armas uns contra os outros num frenesim de guerra depois da retirada soviética em 1988 foi dado o prémio de um lugar num novo processo negocial”. Receia-se que papel poderão agora ter no Afeganistão.
Esta retirada acabará provavelmente por provocar também sérias alterações na geopolítica do Afeganistão. A decisão de Biden de retirar as tropas do Afeganistão vai dar um papel acrescido aos actores regionais no país. Países como o Paquistão, a Índia, a Rússia e a China têm os seus próprios interesses estratégicos que serão mais viáveis sem a presença americana no Afeganistão. Islamabad sempre teve uma influência considerável sobre os talibãs e teve um papel crucial na anuência dos “estudantes de teologia” às negociações.
De Gorbachev a Biden
Quando os últimos soldados soviéticos cruzaram a Ponte da Amizade que ligava o Afeganistão à URSS, no dia 15 de fevereiro de 1989 - mais de nove anos depois da entrada do ExércitoVermelho no Afeganistão -, a América rejubilou. Momento crucial nas reformas de Gorbachev, a situação foi vista como um símbolo da humilhação do Exército Vermelho e do declínio da própria União Soviética.
Ao cabo de vinte anos de intervenção, de um investimento de triliões de dólares e de mais de 2000 soldados mortos, no que foi a guerra mais longa dos Estados Unidos, a América prepara-se para deixar o Afeganistão sem glória.
O futuro político do país mergulha na incerteza. Os talibãs – que a intervenção americana expulsou há 20 anos de Cabul–, estão de novo à beira do poder e de restabelecer o “Emirado Islâmico do Afeganistão”. O fantasma de uma nova e sangrenta luta pelo poder assombra de novo o Afeganistão.
A gigantesca operação internacional de assistência social, económica e humanitária internacional e os biliões de dólares parecem ter dado escassos resultados. América deixa um Afeganistão em que, segundo dados do Banco Mundial, mais de metade dos 36 milhões de habitantes do país vivem com menos de 1.60 euros por dia.
Em 1989 os soviéticos deixaram o Afeganistão entregue ao regime de Najibullah e a um exército treinado e equipado, mas que em breve se mostraria incapaz de manter o controlo do país. Trinta anos depois a América deixa o Afeganistão entregue a um regime refém e a um exército que, à luz dos dados disponíveis, terão escassas condições políticas e militares para resistirem aos talibãs.
Salvini e a advogada, Giulia Bongiorno, à saída da audiência.