Queda do teto do metro. Todos são culpados
Câmara, que é a dona da obra, bem como projetista, revisor do projeto, empreiteiro, fiscalização, mas até o próprio Metropolitano de Lisboa têm responsabilidade no acidente que abriu um buraco no túnel na Praça de Espanha.
Acomissão de inquérito nomeada pela Câmara Municipal de Lisboa (CML) para investigar o desabamento no túnel da estação de metro da Praça de Espanha, ocorrido em setembro, atribuiu responsabilidades às várias entidades envolvidas na obra.
Segundo o relatório divulgado ontem pela autarquia, a responsabilidade do incidente, que ocorreu durante as obras do Parque Urbano da Praça de Espanha, é das várias entidades envolvidas: o dono da obra (Câmara de Lisboa), o Metropolitano,
o projetista, o revisor de projeto, o empreiteiro, bem como a fiscalização.
“Face aos elementos analisados, conclui-se que nenhum dos intervenientes neste processo valorizou o facto de o canal [previsto ser demolido] passar sobre o túnel do metro, recomendando a adoção de medidas particulares na sua demolição”, pode ler-se no documento.
A comissão de inquérito, que integra elementos da Ordem dos Engenheiros, da CML e do Metropolitano de Lisboa, entende que se tivesse havido valorização do canal a demolir, o Metro, “na sua análise do projeto e acompanhamento da obra, podia ter alertado para os cuidados a ter nessa demolição”.
A empresa municipal de reabilitação urbana (SRU), por sua vez, “podia ter solicitado e enviado ao projetista o projeto do canal” ou, não o tendo feito, “podia ter realizado sondagens e alertado para os cuidados a ter nessa demolição”. Já o projetista, “tendo elementos indicativos da proximidade das cotas do túnel e do canal podia ter alertado para a situação, exigindo sondagens e cuidados particulares na demolição”. Também o revisor, que tinha informação sobre a proximidade das cotas do túnel e do canal, “podia ter alertado para a situação, recomendado sondagens e cuidados particulares na demolição”. Por fim, o empreiteiro e a fiscalização “não tendo informação sobre as cotas” podiam ter “feito as sondagens e ter adotado mais cuidados na demolição” e acompanhado a mesma, defende a comissão de inquérito.
No relatório é ainda referido que “o operador/empreiteiro não detetou que estava a furar o túnel, até ser mandado parar pelo colaborador do ML [Metropolitano de Lisboa] e, aparentemente, nem sabia da sua existência”.
O desabamento aconteceu em 29 de setembro, tendo provocado ferimentos ligeiros em quatro pessoas. Na ocasião do incidente, estavam cerca de 300 pessoas na composição que passava no túnel.
O presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Fernando Medina (PS), assumiu na altura que o desabamento decorreu de um “erro grosseiro” associado à empreitada da autarquia.