TURISTAS FOGEM DA PRAIA E VIRAM-SE PARA A NATUREZA
FÉRIAS Não viajam para fora por causa da pandemia, mas também não vão para o Algarve. Portugueses já são dois terços dos que dormem nos hotéis portugueses, mas optam por destinos rurais e de serra. Norte e Centro ganham clientes.
Oturismo nacional vive dos estrangeiros e mantêm-se restrições às viagens internacionais, logo continua com grandes quebras. Prejuízos esses que não são compensados pelos portugueses, que passaram a representar 65,1 % das dormidas em alojamentos turísticos, mas sem atingir os valores anteriores à pandemia. O turista nacional diversifica mais os destinos, preferindo também o Norte, Lisboa e o Centro do país, o que faz com que o Algarve perca terreno. Já para os estrangeiros, o Sul é o destino de eleição.
O Algarve, a Área Metropolitana (AM) de Lisboa e a Madeira ocupavam os três primeiros lugares nas preferências dos viajantes internacionais antes da pandemia, daí que registem as maiores quebras. Em 2019, o mercado internacional tinha 69,9 % dos 79,2 milhões de dormidas no país, sendo, agora, os portugueses a ficar com essa fatia do bolo. A questão é que o número total de noites ocupadas nos primeiros cinco meses de 2021 é cinco vezes inferior comparativamente a 2019.
Nos primeiros cinco meses do ano, as regiões que diminuíram menos no número de dormidas foram o Alentejo (-0,4%), os Açores (-16,4%), Centro (-26,8%) e o Norte (-39,3%), enquanto as restantes registaram decréscimos superiores a 50%, segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE).
Em relação a igual período de 2020, registam-se aumentos da procura dos nacionais pela Madeira (+23,6%), Alentejo (+16,9%), Açores (+13,9%) e Algarve (+8,9%). Já no que diz respeito aos estrangeiros, todas as regiões apresentaram decréscimos expressivos nas dormidas. As menores reduções verificaram-se no Alentejo (-42,2%). As restantes apresentaram quebras superiores a 60%.
Segundo um inquérito online da DecoProteste, os portugueses preferem fazer as férias deste ano cá dentro. “O litoral irá receber 40% destes portugueses. As zonas serranas e rurais são a escolha de dois em cada 10 portugueses e perto de 8% irão viajar dentro do país, para visitar cidades de norte a sul de Portugal. Perto de um quarto não tem planos para o verão e 20% vão ficar em casa. Apenas 6%, sobretudo na população dos 25 aos 39 anos, planeiam ir ao estrangeiro”, conclui .
Praias fluviais e trilhos
Pedro Machado, presidente do Turismo Centro Portugal, avança que, tal como em 2020, existe um número significativo de reservas na região e marcadamente no interior. “Os portugueses voltaram a escolher mais alojamento em espaço rural, turismo de montanha. Esta preferência é alavancada pelo turismo de natureza, em especial pelas praias fluviais e pelas barragens (Castelo do Bode e da Aguieira). Há uma forte tendência do mercado interno pelo turismo ativo e de natureza, particularmente associado aos circuitos pedestres, cicloturismo e praias fluviais”.
Apesar disso, as quebras no turismo da região foram grandes comparativamente a 2019, menos 56,5%, segundo um inquérito da entidade aos empresários. Ainda, assim, inferiores ao total nacional, na ordem dos 65%. As menores reduções são no regime de pensão completa, seguindo-se o turismo rural. As Beiras e a Serra da Estrela foram as sub-regiões que se aguentaram melhor face à pandemia.
As escolhas no centro interior são para o alojamento mais qualificado, produtos de segmento médio e médio alto. Em agosto e julho de 2020, tiveram mais procura do que em 2019. Ainda assim, as perspetivas já foram mais animadoras.
“Tivemos fechados em janeiro, fevereiro e março, e com o atual crescimento de casos de covid-19, estamos piores. As perspetivas para junho, julho e agosto eram de recuperação, infelizmente com este avançar da pandemia, as expectativas são goradas. Tivemos um junho e julho pior que em 2020, neste momento, é difícil prever o que se vai passar. Até porque, e bem, os operadores permitem os cancelamentos em cima da hora”.
O panorama é sensivelmente idêntico no norte do país, com o Porto a ter as maiores quebras. Luís Pedro Martins, presidente da Entidade Regional de Turismo do Porto e Norte de Portugal, refere que a situação é pior nas grandes cidades. “O peso das viagens aéreas tem um grande impacto e a nossa grande expectativa é saber como as companhias vão recuperar, se voltarão a ter a mesma presença em Portugal que em 2019. Para o Porto, é fundamental resolver a questão das coletividade aérea”. Argumenta que o turista está a avaliar as deslocações “em função do tempo que leva a regressar a casa”.
A região está a apostar nas vantagens turísticas que asseguram ter em relação a outros destinos: “segurança, diversidade e qualidade”“No mercado dos turistas nacionais, o Norte está em primeiro lugar no número de hospedes e, em segundo nas dormidas, ultrapassando o Algarve”, refere o dirigente. Está também a ajudar a compor a ocupação turística na região a vinda de espanhóis e franceses.
Acrescenta Luís Pedro Martins: “Tal como em 2020, o ano de 2021 continua a ser um ano para a afirmação das sub-regiões, destinos como o Douro, Minho, Trás-os-Montes, à procura de segurança, tranquilidade e natureza. Nessas sub-regiões, temos 70 % das reservas, com a perspetiva de chegar aos 90 % em agosto.”
Alojamento local pessimista
A presença do turista português, também devido às dificuldades em viajar para o estrangeiro, estão longe de superar as quebras dos dos estrangeiros, garante Eduardo Miranda, presidente da Associação de Alojamento Local em Portugal (ALEP). “Os portugueses representavam 30% do turismo em 2019, o mercado nacional ajuda, mas é um balão de oxigénio muito pequeno e, nos três meses do verão, nem sequer permite fazer uma reserva para os meses seguintes. O português faz férias no verão, o estrangeiro vêm todo o ano”. Antevê um 2021 ainda pior do que 2020.
As dormidas entre janeiro e maio de 2021 são quase metade das registadas em 2020 (4784,6 para 9345,6), que já representavam menos 2,5 vezes do que em 2019.
Maio deste ano teve um comportamento melhor que o homólogo de 2020 e até havia perspetivas de um bom verão, só que uma nova variante do SARS-CoV-2 cortou as esperanças. “As tendências de 2020 mantém-se. O que infelizmente é novo em 2021 é que a perspetiva para o início do verão é pior ainda que o ano passado devido ao novo surto associado à variante Delta. A situação ficou mais crítica. É o segundo verão quase sem atividade. Se não houver algum apoio urgente será quase impossível as empresas aguentarem-se”, diz Eduardo Miranda.
É uma avaliação do alojamento local a nível nacional. As maiores razões de queixa são de quem tem unidades no Algarve, na AM Lisboa e no Porto. A única certeza é que não serão alcançados os valores de 2019, estimando aquele dirigente que levarão três anos após pandemia para recuperar p movimento.
Em 2019, o mercado internacional representava 69,9 % das 79,2 milhões de dormidas no país, com um aumento de 3,8 % nesse ano. Os nacionais registaram maior subida (6,5 %), mas ficaram-se pelos 30,1 %. A ordem dos dois mercados mudou em 2020. A maioria dos hospedes passaram a ser portugueses, representando 13,6 milhões de dormidas em 26 milhões (52,5 %). E, entre janeiro e maio, a percentagem é de 65,5 %(nacionais) para 34,9 % (internacionais).
O Algarve tem a maior quebra, ficando-se por uma quota de 19 % das dormidas a nível nacional (907 mil), independentemente da nacionalidade. Representava 26,1 do total (6 153 600) em 2019. Ocupa, no entanto, o mesmo segundo lugar, continuando a AM Lisboa em primeiro (1 117 700), com uma quota de 24,3 %, quase menos 6 % que antes da pandemia (29,3%).
Em junho, a taxa de ocupação no Algarve era de 43,1 %, menos 45,5 % de há dois anos (78,8 %), desanimando os operadores turísticos. “Tínhamos boas perspetivas para este verão, ainda não a nível de 2019, mas esperávamos que fosse bastante melhor que o ano passado.
Hoje, encontra-se comprometido devido às restrições impostas pelo Reino Unido” [que vão ser levantadas a partir de dia 19], que é o nosso maior mercado”, sublinha ElidéricoViegas, presidente da Associação de Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve. Ao nível concelhio, as descidas variaram entre menos 52,6 % em Albufeira e menos 21,7 % em Tavira.
Ainda assim, junho deste ano foi muito melhor do que em 2020, quando o país acordava de três meses de confinamento. Regista um aumento de 263, 5 % nas noites ocupadas, mas que fica muito aquém de 2019 (-47,3 %) . O mercado nacional aumentou 8,4% e o externo diminuiu -67,6%.
ElidéricoViegas recebeu com alegria o levantamento das limitações por parte da Alemanha relativamente a Portugal, mas sublinha: “Não se carrega num botão hoje e amanhã passamos a ter turistas, além de que se mantém algumas condicionantes que condicionam a procura a curto prazo.” Mas acredita que setembro e outubro poderão ser bons meses, uma vez que britânicos e alemães também viajam fora do verão. Perspetivas que rapidamente podem mudar, com recuos e avanços à medida que os casos de covid-19 aumentam ou diminuem.
O balanço do alojamento local é mais negativo: “O pouco mercado que tínhamos perdemos com o aumento de casos de covid-19. Junho foi o mês que teve um maior número de cancelamentos: 60 mil. Entre 26 e 30 de junho houve 15 mil cancelamentos, em quatro dias Foi o resultado das restrições impostas pela Alemanha, a notícia propagou-se aos países vizinhos, foi terrível. Perdeu-se o que se conseguiu em maio, em que começaram a surgir reservas. As reservas para julho estão más e já e começa a comprometer agosto”, lamenta Eduardo Miranda.
Os portugueses preferem fazer férias este ano no país. O litoral irá receber 40%. As zonas serranas e rurais são a escolha de dois em cada 10 portugueses e perto de 8% irão viajar pelo país, segundo a DecoProteste.