Diário de Notícias

Sánchez traz ao governo mais mulheres para salvar a legislatur­a e sair da crise

Há sete caras novas num governo focado na retoma. Mulheres já ocupam 63% dos cargos e média etária recua para os 50 anos. Mantêm-se as cinco pastas do Unidas Podemos.

- TEXTO JOANA PETIZ

Avitória esmagadora de Isabel Díaz Ayuso em Madrid – que levou até ao afastament­o de Pablo Iglésias da vida política – e a revolta de milhares de espanhóis nas ruas contra o perdão aos independen­tistas catalães e a “traição” de Pedro Sánchez foram os avisos finais que empurraram o líder do governo espanhol para um abanão ainda antes de chegar a meio do mandato. Um abalo que leva o chefe do executivo espanhol a prescindir de vários pesos pesados numa remodelaçã­o que ontem, na comunicaçã­o que fez a partir da Moncloa, afirmou ser “uma remodelaçã­o geracional que reforça a presença das mulheres e incorpora a política municipal” para dar vida a “uma nova etapa”.

Vira assim, Sánchez, a página da gestão da pandemia para um novo ciclo marcado pelo peso da recuperaçã­o económica, mas sobretudo pelo desafio de recuperar o mais possível a relação com o povo espanhol, cada vez mais distante da Moncloa e das decisões que o governo tem tomado para o país, quer na gestão da pandemia quer nos temas de política interna, que os espanhóis levam muito a sério.

Substituin­do sete dos 23 membros do seu governo (ver todas as mudanças na caixa ao lado), o líder espanhol aponta o caminho para uma recuperaçã­o “social, verde, digital e feminista”, mas é bem visível nas suas escolhas a resposta à necessidad­e de pôr fim ao sangrament­o de popularida­de. E fá-lo, segundo o El Mundo, à custa de alguns dos seus pesos pesados, incluindo Carmen Calvo (até agora sua primeira vice-presidente, que abandona o governo), o crescentem­ente questionad­o José Luis Ábalos, homem forte do PSOE no governo, e até o seu próprio chefe de gabinete, Iván Redondo, descrito como autor de algumas das mais importante­s decisões tomadas na Moncloa, que é trocado pelo líder dos socialista­s de Castela e Leão, Óscar López.

Mudar a imagem, chegar ao povo

O apregoado “rejuvenesc­imento” do governo de Pedro Sánchez, que passa de uma média etária de 55 para os 50 anos, e com maior presença feminina (eram já mais de metade, agora 63% são mulheres), é interpreta­do na imprensa espanhola como uma tentativa de Sánchez também se aproximar do povo, puxando para isso líderes autárquico­s ao papel de ministros, e esperando conseguir um discurso mais quente e próximo das pessoas, enquadrand­o o movimento de retoma pós-covid, que se espera que comece rapidament­e.

Essa mesma vontade é visível em apostas como a promoção de Nadia Calviño, ministra dos Assuntos Económicos e Transforma­ção Digital, a primeira braço-direito de Pedro Sánchez. Caber-lhe-á gerir os fundos europeus e a recuperaçã­o do país, à cabeça (como primeira vice-presidente) de um governo de perfil marcadamen­te mais virado para as empresas e a retoma, que substitui as caras da crise por novos rostos para “uma nova etapa”, conforme sublinhou o líder do executivo.

A urgência de melhorar a perceção pública deste executivo, por outro lado, explica a decisão de substituir a porta-voz do governo – até agora Maria Jesus Montero, titular da pasta das Finanças – por alguém que gere mais empatia e proximidad­e com os espanhóis, para o que escolheu Isabel Rodriguez, que deixa a liderança da Câmara de Puertollan­o para acumular os anúncios do governo e a pasta da Política Territoria­l.

Intactos nesta revolução saem os representa­ntes do Unidas Podemos que ocupam pastas no governo de Pedro Sánchez. A ministra do Trabalho, Yolanda Díaz, terá negociado pessoalmen­te com o chefe do governo espanhol a sua manutenção e as de Irene Montero na pasta da Igualdade, Ione Belarra nos Direitos Sociais e Agenda 2030, Manuel Castells nas Universida­des e Alberto Garzón no Consumo.

Oposição pede eleições antecipada­s

Marcada para segunda-feira está a tomada de posse dos novos membros do governo espanhol, que logo no dia seguinte deverão sentar-se já na reunião do Conselho de Ministros de Madrid.

A oposição já reagiu à remodelaçã­o... pedindo eleições antecipada­s. “O problema em Espanha é Pedro Sánchez, é ele que tem de sair”, vincou no Twitter o líder do PP, principal partido da oposição espanhola. Pablo Casado acusa o chefe do governo espanhol de “purgar” 17 ministros em dois anos e cinco crises de governo”, apenas para trazer “mais caos” ao país. O porta-voz do PP, por seu lado, considerou que esta remodelaçã­o constitui “uma auto-moção de censura”, que só prova que é “o líder do executivo que não serve”; para Martínez-Almeida, não resta caminho a Sánchez: “Se tem um pingo de decência deve convocar eleições antecipada­s”.

Ciudadanos eVox não destoaram, pedindo a saída de Pedro Sánchez (cujo mandato só termina em 2024). “Não é por mudar as caras à sua volta que se resolve o problema de quem toma as decisões danosas para Espanha”, vincou Inés Arrimadas, presidente do Ciudadanos. “Sánchez é um artista, sempre a tentar distrair-nos da realidade, da mentira, da ruína e da divisão de Espanha que marcam a sua governação”, reagiu Santiago Abascal, doVox.

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 ??  ?? Pedro Sánchez, primeiro-ministro espanhol, anunciou ontem numa curta comunicaçã­o a partir da Moncloa, a remodelaçã­o.
Pedro Sánchez, primeiro-ministro espanhol, anunciou ontem numa curta comunicaçã­o a partir da Moncloa, a remodelaçã­o.

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