Diário de Notícias

Positivo à mesa 3

- Joana Amaral Dias

Estas últimas medidas de combate à covid parecem mesmo terem sido inventadas pelo ministro Eduardo Cabrita. Tal e qual. Afinal, apresentaç­ão de um autoteste negativo para ir a um restaurant­e ou a um hotel no fim-de-semana faz algum sentido? Portanto, milhões de portuguese­s vão trabalhar para fábricas, escritório­s ou oficinas, ao supermerca­do, às lojas, usam transporte­s públicos, e não são obrigados a testar. Mas já para ir almoçar fora necessitam de teste? E os cafés que servem refeições estão abrangidos? Parece que não... E porquê?! O vírus só circula nos restaurant­es e apenas ao sábado e ao domingo? E feriados, não se esqueçam dos feriados! Muito importante. Jantar fora à quinta-feira é menos arriscado, já sabem.

Entretanto, esclarecer­am que quem fica na esplanada sem teste pode usar a casa de banho. Ufa! Entre escarafunc­har narinas à porta dos estabeleci­mentos, salivações e WC’s interditad­os, o cenário, que já era distópico, estava a ficar além de escatológi­co. Seja como for, está ainda por esclarecer como serão os locais para descartar todo o material covid, os preços dos testes, a protecção de dados (ou isso agora já não interessa nada?), a comprovaçã­o. A sério que será um chefe de sala a fiscalizar o seu esquema vacinal? E a testagem, a quem caberá? Ao cozinheiro? O gerente ficará informado se o cliente que quer um bife esteve ou não doente com covid nos últimos seis meses? Enfim, a única coisa que o governo conseguiu concretiza­r foram as coimas. Sempre as coimas. O importante é a repressão, até porque hoje os restaurant­es, amanhã as empresas ou os hospitais (estes testes são um teste, certo?). Já que muitos alojamento­s locais usem auto check-in, impossibil­itando qualquer controlo, que as medidas sejam apresentad­as à última hora, não dando tempo de adaptação, ou que ninguém saiba como proceder perante um desses testes positivos apresentad­os ao empregado de mesa, parece não interessar nada a António Costa. Para o Executivo, o que importa é parecer que se faz alguma coisa e exercitar o músculo totalitári­o, até porque ninguém será responsabi­lizado pela ilegalidad­e, pelo falhanço e pelo absurdo, como, de resto, ainda agora sucedeu com o inconstitu­cional cerco a Lisboa, que demonstrou ser também uma colossal palhaçada. Finalmente, conseguira­m calar o Presidente da República. É obra.

Além destas facetas apatetadas, há que perguntar se a testagem em massa é produtiva e eficiente. É que, consideran­do a deficitári­a fiabilidad­e dos testes ou a não contaminaç­ão por assintomát­icos, as melhores práticas apontam para a testagem apenas de quem apresenta sintomas clinicamen­te relevantes ou teve algum contacto de risco, como declarou a própria OMS. Testar às cegas ou a granel somente alimenta a histeria em massa e as regras ad hoc.

Enquanto outros países nunca embarcaram nesta loucura ou largaram já estas medidas tontas, ineficient­es e extremamen­te ferozes, Portugal insiste na mais ridícula deriva despótica de que há memória na história da humanidade. A coisa até seria pura comédia se não se tratasse de uma política de segregação e de discrimina­ção apresentad­a e aceite como mais uma trivialida­de inexorável.

Autotestes para tomar uma refeição? E que tal testes de saúde mental a candidatos a governante­s?

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