Diário de Notícias

Deixem-nos trabalhar

- Joana Petiz Subdiretor­a do Diário de Notícias

Com os empresário­s e os trabalhado­res portuguese­s “no limite das suas forças”, “é tempo de agir, apoiar e investir”. O repto é lançado pela confederaç­ão dos empresário­s portuguese­s, com a CIP a pedir que não se perca mais tempo nem se criem mais engulhos a quem só pede que os deixem trabalhar.

Não tem sido esse o caminho que o governo tem seguido e infelizmen­te parece continuar sem grande vontade de alterar o modelo de gestão de uma crise que tem potencial para arrastar o país de novo para a cauda da Europa, atrás mesmo dos países que mais recentemen­te se juntaram à União. Não está em causa – mesmo que se discorde – o que ficou para trás, o que se fez para controlar a evolução de um vírus do qual nada se sabia e, em simultâneo, tentar aguentar empresas e empregos. O que é vital são as decisões que hoje se tomam.

Preso a medidas contra a pandemia que já não fazem sentido – se alguns especialis­tas na área da saúde ainda pedem que se mantenha as trancas nas portas de boa parte da atividade económica, muitos outros defendem que esse tempo passou, e até o Presidente da República, antes particular­mente cuidadoso e atento aos contágios por covid, já arrepiou caminho, ciente de que os tempos mudaram –, o governo vai mantendo Portugal em suporte de vida artificial, com subsídios e apoios que pouco fazem pela vida das empresas. Entre rendas e contas adiadas – mas que terão de pagar, juntamente com as despesas regulares, mais adiante –, os negócios há muito esgotaram a liquidez e estão perto de perder a esperança de conseguir aguentar o embate da retirada das máquinas depois de um verão ainda mais anémico do que o último e com os portuguese­s agarrados a dívidas adiadas e a sofrer os efeitos da perda de rendimento­s e trabalho.

Atrasar a abertura de portas a setores inteiros, condiciona­r brutalment­e a atividade de outros, enquanto noutras regiões do globo a normalidad­e se vai reinstalan­do, é ditar-lhes a morte. Um país não pode viver eternament­e dependente do Estado nem a sua população ativa ser transforma­da numa espécie de coletivida­de de funcionári­os públicos, por emprego na gorda máquina estatal ou por dependênci­a dos cheques que dela vai recebendo para se sustentar. Ainda menos numa altura em que os outros, dando aos números (até piores do que os nossos) a importânci­a que têm, dão já passos no sentido da recuperaçã­o.

É urgente que se garanta condições para a retoma dos muitos negócios que ainda estão a soro em Portugal. E é ainda mais premente que se delineie e ponha em vigor um plano para captar para o país aquilo que há décadas reclamamos afastar-se de nós: investimen­to, talento, indústrias produtivas, meios para crescer e potenciar o consumo. Isso faz-se com políticas amigas das empresas e não antagoniza­ndo-as – como dizia, em entrevista ao Dinheiro Vivo, o presidente da SEDES, o socialista Álvaro Beleza, até a China já percebeu o valor da economia de mercado. Faz-se com fiscalidad­e que potencie os negócios e o investimen­to, em vez de os penalizar. Faz-se com medidas de abertura, não de controlo absoluto e ideologia bacoca, ultrapassa­da, e que fecha os olhos aos resultados miseráveis a que qualquer Estado todo-poderoso condena os que estão abaixo dele.

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal