Deixem-nos trabalhar
Com os empresários e os trabalhadores portugueses “no limite das suas forças”, “é tempo de agir, apoiar e investir”. O repto é lançado pela confederação dos empresários portugueses, com a CIP a pedir que não se perca mais tempo nem se criem mais engulhos a quem só pede que os deixem trabalhar.
Não tem sido esse o caminho que o governo tem seguido e infelizmente parece continuar sem grande vontade de alterar o modelo de gestão de uma crise que tem potencial para arrastar o país de novo para a cauda da Europa, atrás mesmo dos países que mais recentemente se juntaram à União. Não está em causa – mesmo que se discorde – o que ficou para trás, o que se fez para controlar a evolução de um vírus do qual nada se sabia e, em simultâneo, tentar aguentar empresas e empregos. O que é vital são as decisões que hoje se tomam.
Preso a medidas contra a pandemia que já não fazem sentido – se alguns especialistas na área da saúde ainda pedem que se mantenha as trancas nas portas de boa parte da atividade económica, muitos outros defendem que esse tempo passou, e até o Presidente da República, antes particularmente cuidadoso e atento aos contágios por covid, já arrepiou caminho, ciente de que os tempos mudaram –, o governo vai mantendo Portugal em suporte de vida artificial, com subsídios e apoios que pouco fazem pela vida das empresas. Entre rendas e contas adiadas – mas que terão de pagar, juntamente com as despesas regulares, mais adiante –, os negócios há muito esgotaram a liquidez e estão perto de perder a esperança de conseguir aguentar o embate da retirada das máquinas depois de um verão ainda mais anémico do que o último e com os portugueses agarrados a dívidas adiadas e a sofrer os efeitos da perda de rendimentos e trabalho.
Atrasar a abertura de portas a setores inteiros, condicionar brutalmente a atividade de outros, enquanto noutras regiões do globo a normalidade se vai reinstalando, é ditar-lhes a morte. Um país não pode viver eternamente dependente do Estado nem a sua população ativa ser transformada numa espécie de coletividade de funcionários públicos, por emprego na gorda máquina estatal ou por dependência dos cheques que dela vai recebendo para se sustentar. Ainda menos numa altura em que os outros, dando aos números (até piores do que os nossos) a importância que têm, dão já passos no sentido da recuperação.
É urgente que se garanta condições para a retoma dos muitos negócios que ainda estão a soro em Portugal. E é ainda mais premente que se delineie e ponha em vigor um plano para captar para o país aquilo que há décadas reclamamos afastar-se de nós: investimento, talento, indústrias produtivas, meios para crescer e potenciar o consumo. Isso faz-se com políticas amigas das empresas e não antagonizando-as – como dizia, em entrevista ao Dinheiro Vivo, o presidente da SEDES, o socialista Álvaro Beleza, até a China já percebeu o valor da economia de mercado. Faz-se com fiscalidade que potencie os negócios e o investimento, em vez de os penalizar. Faz-se com medidas de abertura, não de controlo absoluto e ideologia bacoca, ultrapassada, e que fecha os olhos aos resultados miseráveis a que qualquer Estado todo-poderoso condena os que estão abaixo dele.