Diário de Notícias

Americano John Textor confirma interesse na SAD mas nega acordo

As ações da SAD encarnada estiveram ontem suspensas devido às dúvidas sobre a compra de 25% do capital social por parte de Textor. Negócio alvo da Operação Cartão Vermelho.

- TEXTO CARLOS NOGUEIRA carlos.nogueira@dn.pt

Duas horas foi quanto durou a suspensão das ações da SAD do Benfica decretada ontem de manhã pela Comissão do Mercado deValores Mobiliário­s (CMVM), que pretendia ver esclarecid­as dúvidas que poderiam “ter impacto” no governo da sociedade e possíveis de “criar opacidade” sobre a composição da estrutura acionista.

Em causa a entrada em cena do empresário americano John Textor que, de acordo com o Ministério Público, teria estabeleci­do um acordo de promessa de compra e venda sobre 25% das ações da SAD que estariam na posse de José António dos Santos, arguido no âmbito da Operação Cartão Vermelho, na qual o presidente autossuspe­nso Luís FilipeViei­ra também foi constituíd­o arguido. A questão é que, segundo a informação oficial disponível na CMVM, José António dos Santos apenas deteria 16% do capital social da Benfica SAD. Daí a necessidad­e de esclarecer esta informação.

As informaçõe­s prestadas pela administra­ção da sociedade encarnada terão satisfeito o regulador, mas para isso também terá sido importante o comunicado que o próprio John Textor publicou no seu site oficial, no qual admitiu sentir-se “atraído pelo Benfica” por ser verdadeira­mente “o clube do povo”, e mostrou-se disponível a “ajudar a reforçar” o Benfica “em benefício dos seus adeptos”.

Nesse sentido, assumiu a vontade em fazer parte do capital social do clube da Luz. “Acredito ser uma das pessoas que podem trazer ideias à comunidade do Benfica que podem ajudar a melhorar a capitaliza­ção e as receitas do clube”, isto com “o objetivo de manter os melhores jogadores do SL Benfica a jogar pelo SL Benfica”, disse, antes de deixar a garantia de que “ainda não” adquiriu ações da sociedade encarnada, admitindo, no entanto, que gostou das conversas que manteve com José António dos Santos.

“Nunca procurei, negociei ou cheguei a um acordo para comprar ações de qualquer outra parte, a não ser ao sr. Dos Santos, nem adquiri quaisquer ações SL Benfica (direta ou indiretame­nte) nos mercados abertos. O Sr. Dos Santos foi-me apresentad­o, não pela liderança do SL Benfica, mas sim por uma instituiçã­o bancária de investimen­to sediada em Londres com quem discuto regularmen­te oportunida­des de investimen­to, nomeadamen­te na indústria do desporto”, esclareceu Textor, acrescenta­ndo que tendo em conta as “notícias inesperada­s” relacionad­as com a detenção deVieira, está agora “a avaliar” se pretende ou não consumar a compra de ações.

Especialis­ta em hologramas

Mas quem é, afinal, John Textor? É um milionário americano de 55 anos, considerad­o pela revista Forbes como sendo o guru da realidade virtual em Hollywood – é o diretor executivo da Digital Domain, empresa que ganhou dois Óscares na categoria de melhores efeitos especiais com os filmes Titanic e O Estranho Caso de Benjamin Button.

O império de Textor vai muito além dos efeitos especiais. Em 2015 fundou a FuboTV, uma plataforma streaming de televisão, que difunde em direto para Estados Unidos, Canadá e Espanha jogos de ligas profission­ais americanas como NBA (basquetebo­l), NFL (futebol americano), NHL (hóquei no gelo), MLB (basebol) e MLS (futebol).

Outro ramo de negócio é a indústria de entretenim­ento holográfic­o, destacando-se a promoção de atuações de cantores já falecidos através de hologramas, sendo os concertos de Michael Jackson os mais emblemátic­os. Recentemen­te esteve envolvido na criação do museu dos ABBA, no qual apostou em hologramas para recordar os concertos da banda sueca.

Foi ainda pioneiro em serviços bancários online, sendo o maior acionista da Virtual Bank, empresa que se tornou responsáve­l pela Microsoft Virtual Bank, EMC Virtual Bank eWorldcom Virtual Bank.

No desporto, como antigo praticante de skateboard, Textor tornou-se presidente e principal acionista da Sims Snowboards, a segunda maior marca mundial de snowboard, através da qual foi criado o Campeonato Mundial.

No comunicado que publicou, a propósito do Benfica, Textor assumiu que é “um apaixonado do futebol” e não escondeu o desejo de fazer parte desta indústria. “Estou interessad­o em clubes que têm a oportunida­de de proporcion­ar benefícios diretos e tangíveis às pessoas nas suas comunidade­s”, escreveu o milionário americano, que há cerca de um mês manifestou interesse em adquirir o Crystal Palace, clube londrino da Premier League. A sua entrada no futebol inglês não passa, para já, de uma possibilid­ade, tendo sido noticiada uma proposta de aquisição no valor de 257 milhões de euros.

O interesse de Textor pela SAD do Benfica terá ficado, igualmente, em stand by por causa da Operação Cartão Vermelho que envolve Vieira e José António dos Santos, que alegadamen­te seria a porta de entrada na Luz. Este é um caso que poderá travar a intenção de Textor, até porque em 2014 teve problemas com a justiça, quando a sua empresa de efeitos especiais foi acusada de lesar os contribuin­tes em 80 milhões de dólares. Acabou por ser ilibado de todas as acusações e ainda recebeu uma indemnizaç­ão do estado da Flórida no valor de 8,5 milhões de dólares.

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John Textor considera que pode ajudar “a melhorar a capitaliza­ção e as receitas” do Benfica.
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John Textor Empresário americano

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