Americano John Textor confirma interesse na SAD mas nega acordo
As ações da SAD encarnada estiveram ontem suspensas devido às dúvidas sobre a compra de 25% do capital social por parte de Textor. Negócio alvo da Operação Cartão Vermelho.
Duas horas foi quanto durou a suspensão das ações da SAD do Benfica decretada ontem de manhã pela Comissão do Mercado deValores Mobiliários (CMVM), que pretendia ver esclarecidas dúvidas que poderiam “ter impacto” no governo da sociedade e possíveis de “criar opacidade” sobre a composição da estrutura acionista.
Em causa a entrada em cena do empresário americano John Textor que, de acordo com o Ministério Público, teria estabelecido um acordo de promessa de compra e venda sobre 25% das ações da SAD que estariam na posse de José António dos Santos, arguido no âmbito da Operação Cartão Vermelho, na qual o presidente autossuspenso Luís FilipeVieira também foi constituído arguido. A questão é que, segundo a informação oficial disponível na CMVM, José António dos Santos apenas deteria 16% do capital social da Benfica SAD. Daí a necessidade de esclarecer esta informação.
As informações prestadas pela administração da sociedade encarnada terão satisfeito o regulador, mas para isso também terá sido importante o comunicado que o próprio John Textor publicou no seu site oficial, no qual admitiu sentir-se “atraído pelo Benfica” por ser verdadeiramente “o clube do povo”, e mostrou-se disponível a “ajudar a reforçar” o Benfica “em benefício dos seus adeptos”.
Nesse sentido, assumiu a vontade em fazer parte do capital social do clube da Luz. “Acredito ser uma das pessoas que podem trazer ideias à comunidade do Benfica que podem ajudar a melhorar a capitalização e as receitas do clube”, isto com “o objetivo de manter os melhores jogadores do SL Benfica a jogar pelo SL Benfica”, disse, antes de deixar a garantia de que “ainda não” adquiriu ações da sociedade encarnada, admitindo, no entanto, que gostou das conversas que manteve com José António dos Santos.
“Nunca procurei, negociei ou cheguei a um acordo para comprar ações de qualquer outra parte, a não ser ao sr. Dos Santos, nem adquiri quaisquer ações SL Benfica (direta ou indiretamente) nos mercados abertos. O Sr. Dos Santos foi-me apresentado, não pela liderança do SL Benfica, mas sim por uma instituição bancária de investimento sediada em Londres com quem discuto regularmente oportunidades de investimento, nomeadamente na indústria do desporto”, esclareceu Textor, acrescentando que tendo em conta as “notícias inesperadas” relacionadas com a detenção deVieira, está agora “a avaliar” se pretende ou não consumar a compra de ações.
Especialista em hologramas
Mas quem é, afinal, John Textor? É um milionário americano de 55 anos, considerado pela revista Forbes como sendo o guru da realidade virtual em Hollywood – é o diretor executivo da Digital Domain, empresa que ganhou dois Óscares na categoria de melhores efeitos especiais com os filmes Titanic e O Estranho Caso de Benjamin Button.
O império de Textor vai muito além dos efeitos especiais. Em 2015 fundou a FuboTV, uma plataforma streaming de televisão, que difunde em direto para Estados Unidos, Canadá e Espanha jogos de ligas profissionais americanas como NBA (basquetebol), NFL (futebol americano), NHL (hóquei no gelo), MLB (basebol) e MLS (futebol).
Outro ramo de negócio é a indústria de entretenimento holográfico, destacando-se a promoção de atuações de cantores já falecidos através de hologramas, sendo os concertos de Michael Jackson os mais emblemáticos. Recentemente esteve envolvido na criação do museu dos ABBA, no qual apostou em hologramas para recordar os concertos da banda sueca.
Foi ainda pioneiro em serviços bancários online, sendo o maior acionista da Virtual Bank, empresa que se tornou responsável pela Microsoft Virtual Bank, EMC Virtual Bank eWorldcom Virtual Bank.
No desporto, como antigo praticante de skateboard, Textor tornou-se presidente e principal acionista da Sims Snowboards, a segunda maior marca mundial de snowboard, através da qual foi criado o Campeonato Mundial.
No comunicado que publicou, a propósito do Benfica, Textor assumiu que é “um apaixonado do futebol” e não escondeu o desejo de fazer parte desta indústria. “Estou interessado em clubes que têm a oportunidade de proporcionar benefícios diretos e tangíveis às pessoas nas suas comunidades”, escreveu o milionário americano, que há cerca de um mês manifestou interesse em adquirir o Crystal Palace, clube londrino da Premier League. A sua entrada no futebol inglês não passa, para já, de uma possibilidade, tendo sido noticiada uma proposta de aquisição no valor de 257 milhões de euros.
O interesse de Textor pela SAD do Benfica terá ficado, igualmente, em stand by por causa da Operação Cartão Vermelho que envolve Vieira e José António dos Santos, que alegadamente seria a porta de entrada na Luz. Este é um caso que poderá travar a intenção de Textor, até porque em 2014 teve problemas com a justiça, quando a sua empresa de efeitos especiais foi acusada de lesar os contribuintes em 80 milhões de dólares. Acabou por ser ilibado de todas as acusações e ainda recebeu uma indemnização do estado da Flórida no valor de 8,5 milhões de dólares.