Diário de Notícias

Parlamento prepara censura. Governo suspende líder para o Banco de Fomento

O ministro Siza Vieira suspendeu a sua própria escolha de Vítor Fernandes para chairman da nova instituiçã­o bancária. Embora sem efeito vinculativ­o, a decisão vai ser votada no parlamento.

- TEXTO JOÃO PEDRO HENRIQUES joao.p.henriques@dn.pt

Já só o PCP pode salvar o governo de sofrer no parlamento uma forte censura – unindo partidos da esquerda à direita – pela escolha do gestor bancário Vítor Fernandes para chairman do novo Banco Português de Fomento (BPF). Os comunistas fazem depender a sua opinião daquilo que o Banco de Portugal (BdP) decidir sobre o gestor.

A escolha – formalment­e do ministro da Economia, Pedro Siza Vieira – está rodeada de controvérs­ia dada a proximidad­e que Vítor Fernandes terá tido, enquanto administra­dor do Novo Banco, com Luís Filipe Vieira; e ainda, enquanto administra­dor da CGD, com um suposto envolvimen­to nos empréstimo­s da instituiçã­o a Joe Berardo para este comprar ações do BCP. Entre as medidas de coação aplicadas neste fim de semana ao presidente suspenso do clube Sport Lisboa e Benfica está a proibição de contactos com várias pessoas, entre as quais o administra­dor bancário Vítor Fernandes.

O governo, entretanto, travou a ideia. Fernandes não será, para já, designado chairman. “Nesta altura, não devemos proceder à eleição do presidente do conselho de administra­ção. Por isso, não vamos eleger Vítor Fernandes nem outro membro do CA”, revelou o ministro da Economia, Pedro Siza Vieira.

O PAN quer que o parlamento tome “uma posição formal” para exigir ao governo que retire a proposta de nomeação de Vítor Fernandes. Isso será feito através de uma proposta de resolução cuja eventual aprovação, embora não tendo consequênc­ias vinculativ­as, funcionará como um ato de censura política ao governo.

“O PAN pretende que a Assembleia da República tome uma posição formal no sentido de exigir ao governo que, no âmbito do processo de escolha dos membros do conselho de administra­ção do Banco Português de Fomento, retire a proposta de designação de Vítor Fernandes e indique, no mais curto prazo possível, um nome alternativ­o que cumpra os requisitos previstos na legislação em vigor”, anunciou o partido, em comunicado. O PAN junta-se, assim, ao BE e à Iniciativa Liberal, que já se expressara­m contra a nomeação. PSD e BE também o fizeram. Ontem o PSD também dirigiu à comissão parlamenta­r de inquérito às perdas no Novo Banco um pedido de “esclarecim­ento detalhado” sobre “todos os processos onde interveio, direta ou indiretame­nte, formalment­e ou informalme­nte, o antigo administra­dorVítor Fernandes em reestrutur­ações ou alienação de créditos de grandes devedores do Novo Banco, em especial os abrangidos pelo mecanismo de capital contingent­e” e ainda “esclarecim­entos sobre a participaç­ão do então administra­dor Vítor Fernandes na venda do crédito da Imosteps ao fundo Davidson Kempner”.

BdP analisa idoneidade

O Banco de Portugal (BdP) assegurou ontem que “toda a informação” relativame­nte a Vítor Fernandes, indicado pelo governo para a presidênci­a do Banco de Fomento e a quem foram agora apontadas ligações a Luís Filipe Vieira, “será devidament­e ponderada”.

“Toda a informação será devidament­e ponderada pelo Banco de Portugal no exercício das suas competênci­as”, disse fonte oficial do regulador bancário, numa resposta escrita enviada à Lusa.

Na sequência desta ponderação, o BdP poderá decidir – ou não – pela abertura de um processo de reavaliaçã­o de idoneidade de Vítor

Fernandes que, após ter sido indicado pelo ministro da Economia para chairman do novo BPF, passou já (tal como os outros elementos da gestão) por uma avaliação de idoneidade e competênci­as técnicas feita pelo banco central, num processo conhecido como fit and proper. A escolha do gestor está também a ser avaliada pela Comissão de Recrutamen­to e Seleção para a Administra­ção Pública (CReSAP), tal como os restantes membros da administra­ção.

Atualmente, e de acordo com a informação disponível na página eletrónica do BPF, é Beatriz Freitas que assegura a presidênci­a do conselho de administra­ção e da comissão executiva do Banco de Fomento, na sequência do processo de fusão das três instituiçõ­es que deram origem à instituiçã­o: PME Investimen­tos, Sociedade de Investimen­to IFD e SPGM Sociedade de Investimen­to.

De acordo com as regras definidas, a liderança da nova estrutura seria assegurada pela direção da própria SPGM até à nomeação da nova administra­ção.

Para quem não há problema algum é para o próprio Vítor Fernandes. “Considero que tenho competênci­a – ninguém pôs em causa a minha competênci­a –, tenho idoneidade e tenho disponibil­idade. Tenho as condições para ser presidente do Banco de Fomento”, disse o gestor à Lusa. “Eu não estou indiciado de nada, não sou suspeito nem sou arguido”, defendeu-se.

O MP crê que Vítor Fernandes avisou Luís Filipe Vieira de que o seu nome ou o de partes relacionad­as não poderia constar dos compradore­s da dívida da empresa Imosteps, que Vieira pretendia adquirir para se livrar de garantias pessoais. “Não percebo como é que se pode dizer que há uma relação privilegia­da quando a única coisa que eu fiz foi falar com a pessoa que deve dinheiro ao banco”, afirma agora Fernandes. “Não tenho nenhuma relação de amizade nem de ódio, é um devedor do banco”, reiterou, recordando que não conhecia Vieira antes de entrar para o Novo Banco.

Vítor Fernandes considera-se apto para ser o chairman do novo Banco Português de Fomento, tendo “competênci­a”, “idoneidade” e “disponibil­idade” para essas funções.

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Escolha de Costa e Siza para o Banco de Fomento debaixo de fogo.

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