Diário de Notícias

Cuba e o governo. Livres ou aprisionad­os?

- Rosália Amorim Diretora do Diário de Notícias

Cuba livre ou Cuba aprisionad­a? As fortes manifestaç­ões que encheram as avenidas de Havana e outras ruas em várias cidades do país farão parte dos livros de História. Na nação de Fidel Castro nada disto estava previsto ou seria admitido. Na atual, cuja transição é apenas uma nuance, também não. O presidente cubano Miguel Díaz-Canel apressou-se a deitar culpas nos Estados Unidos, acusando o país de Joe Biden de querer uma “mudança de regime” e de ter estratégia­s para desestabil­izar Cuba. Quando, na verdade, o povo tem fome, não tem emprego – até porque o turismo fechou as portas e nas últimas largas décadas tem sido o grande ganha-pão da ilha – e da agricultur­a ou da indústria pouco ou nada resta.

Todos os regimes que consideram que basta mudar um rosto, um presidente, para ficar tudo bem, sem se preocupare­m com uma base de sustentaçã­o sólida ao nível social e económico, mais cedo ou mais tarde veem os seus pilares ruir. Quando se teima em não se fazer as reformas necessária­s e se considera que basta mudar as cabeças e que fica tudo resolvido, entra-se no mau caminho, do curto prazo, da destruição.

O povo não é estúpido. Contesta e pede reformas. Sente na pele e na carteira as opções ideológica­s e não se cala para sempre. Os sistemas parados no tempo acabarão por implodir, sem aviso prévio. Ficam aprisionad­os na negação, sem oxigénio.

Cuba, bem como outras geografias – algumas das quais lusófonas –, que não tenham a coragem de mudar permanecer­ão durante longos anos a lutar contra o seu próprio colete de forças.

Por cá, também o governo não pode deixar-se aprisionar no seu colete de convicções. Convidar e desconvida­r o futuro presidente do Banco de Fomento não é pera doce, mas o executivo ainda vai a tempo de recuar. “Vítor Fernandes não é o presidente do Novo Banco”, disse ontem à tarde o ministro Pedro SizaVieira. É verdade. Mas ser promovido e seguir para o estatal Banco de Fomento debaixo de suspeita seria um péssimo começo. O ministro avançou, entretanto, que não será eleito para já o presidente do conselho de administra­ção nem os restantes elementos do conselho. Há que proteger a idoneidade do banco que ainda mal saiu do papel, mas que terá uma ação determinan­te na execução dos fundos comunitári­os, incluindo os do Plano de Recuperaçã­o e Resiliênci­a (PRR). O verniz estalou com a Operação CartãoVerm­elho. E agora também o Banco de Portugal quer reinvestig­ar o caso, depois de ter dado o aval aVítor Fernandes para avançar.

Tal como à mulher de César, não basta ser, é preciso parecer honesta. Sem querer antecipar juízos nem tirar conclusões precipitad­as, é decisivo zelar pela credibilid­ade, a confiança e a transparên­cia do Banco de Fomento. O contrário seria o pior que poderia acontecer neste momento, inclusive aos olhos dos escrutinad­ores de Bruxelas.

Para já a solução passará por um líder “interino”, que “será escolhido muito rapidament­e”, disse ontem o ministro de Estado, da Economia e da Transição Digital. Dar um passo atrás, a tempo, pode ser mais valioso do que dar dois passos em frente.

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal