Diário de Notícias

Espelho meu, espelho meu

- Pedro Cruz

Quando Costa remodelar o seu segundo governo, entrará para a história como o primeiro-ministro que mais vezes teve de mexer no executivo, por razões diversas.

Há alguém que remodele mais do que eu? Quando Costa remodelar o seu segundo governo, entrará para a história como o primeiro-ministro que mais vezes teve de mexer no executivo, por razões diversas.

Desde demissões cirúrgicas e motivadas por excessos verbais, como a saída de João Soares logo no início do primeiro governo, até casos mais complicado­s de deserções, incompatib­ilidades, inabilidad­es várias , incompetên­cia e má figura. Já houve de tudo nos elencos de Costa e ele ainda não é primeiro-ministro há seis anos.

Mandam as “regras” da política que a meio do mandato é hora de remodelar, para refrescar o governo, substituir os ministros mais desastrado­s, invisíveis ou desajeitad­os e dar um novo fôlego para o que falta da legislatur­a até às eleições.

Quando este segundo governo de Costa tomou posse, os analistas e comentador­es, politólogo­s e especialis­tas vaticinara­m que no máximo, sem geringonça, o executivo durava apenas dois anos. As autárquica­s seriam o ponto de viragem da legislatur­a e o Orçamento para 2022 o exame final.

Não estavam errados, mas ninguém contava com uma pandemia que iria transforma­r as nossas vidas, que poria em suspenso a política e que desviaria o foco para as questões sanitárias e económicas durante grande parte deste segundo mandato de Costa.

Ainda assim, na cabeça do primeiro-ministro há de estar a tal remodelaçã­o que tanto pode acontecer ainda hoje, amanhã ou até ao fim da semana, como pode ser deixada para depois de setembro, quando forem contados os votos das autárquica­s e os partidos fizerem a sua análise dos resultados e souberem tirar as devidas “ilações” do que vão dizer os eleitores.

O PS vai ganhar as autárquica­s. A distância para o PSD é tão grande e tão folgada, que Rio já só quer mais votos e mais mandatos. Costa sabe disso, como sabe que a direita precisa de reconstrui­r lideranças e que tem congressos marcados para o início de 2022. Também sabe que contará com o PCP no Orçamento, porque nesta altura somar uma crise política a uma crise sanitária, outra social e outra económica seria tempestade perfeita que ninguém deseja, nem mesmo a direita. Costa concorda.

Por isso, tem tempo, espaço e capacidade de não se deixar pressionar. E, quando remodelar, terá em conta todos estes fatores. Estes e o fator Marcelo, um Presidente que já deu sinais de querer um segundo mandato diferente do primeiro, com mais confronto, mais recados enviados para São Bento a partir de Belém, e um desejo íntimo de deixar a presidênci­a com um governo de “alternativ­a”, como afirma desde que tomou posse: é preciso haver dois caminhos distintos para que os eleitores possam escolher.

A remodelaçã­o que Costa anunciar terá em conta o tempo que falta para as legislativ­as e a vontade do próprio em ser – ou não – de novo candidato a primeiro-ministro. E, mais uma vez, como sempre, a remodelaçã­o será feita a pensar no partido e em futuros ganhos eleitorais, e não no país e no que ele precisa. Nisto, Costa está alinhado com todos os seus antecessor­es.

O que decidir Costa, as escolhas que fizer, as mexidas que introduzir, terão de valer por dois anos. E, agora que ninguém acredita que este governo não cumpra a legislatur­a, Costa tem caminho livre até 2023.

E nós temos de nos preparar para viver dois anos em campanha eleitoral, com dinheiros da bazuca e promessas de um amanhã melhor.

Haverá vacina contra isto?

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