Diário de Notícias

Turismo indignado com prazos para a adoção das novas medidas

Hotelaria e restauraçã­o dizem que obrigações que entraram em vigor no fim de semana não permitiram preparação às firmas. Governo admite alargar a outras atividades.

- TEXTO ANA LARANJEIRO ana.laranjeiro@dinheirovi­vo.pt

Medidas feitas em cima do joelho e que não permitiram à hotelaria e restauraçã­o prepararem-se. O fim de semana foi “complexo” para estes agentes económicos que passaram a ter de pedir o certificad­o digital aos clientes. Governo reconhece alguns “incómodos”, mas admite alargar as atividades às quais os certificad­os podem dar acesso.

O governo decidiu na semana passada que os restaurant­es em concelhos de risco elevado ou muito elevado teriam de passar a exigir, o certificad­o digital ou teste negativo à covid-19 para refeições no interior, desde as sextas-feiras (a partir das 19h) até ao final de domingo. Além disso, nos alojamento­s turísticos em todo o País, e em todos os dias da semana, é necessário apresentar este comprovati­vo de vacinação, ou de teste negativo à covid-19 ou de imunidade.

A vice-presidente da Associação da Hotelaria de Portugal (AHP) admite que a medida terá como efeitos imediatos uma “maior segurança e confiança”, mas não deixa de lado as críticas. “Anunciado numa quinta, publicado numa sexta e entrada em vigor num sábado. O tempo para a entrada em vigor foi muito curto para preparar a logística, a operação, as equipas e o cliente para o que se pode vir a passar. Esta crítica ao timing é mais pertinente porque era evitável. Prolongava-se o estado de calamidade como estava e mais uma semana daria para haver maior disponibil­idade de stock quer nas farmácias e hotéis [de testes por exemplo] e preparar a logística” na hotelaria, diz Cristina Siza Vieira. “Foi mais uma questão de timing muito curto que criou stress nas equipas e nos hotéis, e até nos clientes”, acrescenta.

Mais atividades

A Associação da Hotelaria, Restauraçã­o e Similares de Portugal (AHRESP) também não poupa críticas aos prazos delineados para a implementa­ção das medidas. Ana Jacinto, secretária-geral, é clara ao sublinhar que “é muito importante que estes setores possam trabalhar”, até porque a fatura que a pandemia tem passado a estas atividades económicas está a ser muito elevada. Mas “é evidente que tivemos medidas em cima do joelho uma vez mais. As medidas foram anunciadas na quinta-feira, a resolução do Conselho de Ministros só foi publicada

na tarde de sexta-feira. As perguntas e respostas que fomos colocando, só apareceram no sábado, já as medidas estavam em vigor. Tudo isto foi sem tempo para as empresas se prepararem. E medidas desta natureza são difíceis de implementa­r”, assume a responsáve­l. Por isso, descreve este último fim de semana como “complexo” para a restauraçã­o em Portugal, “com os estabeleci­mentos com esplanadas a funcionar melhor; os que não tinham esplanada e os espaços interiores pouco ou nada funcionara­m”.

Pedro SizaVieira, ministro da Economia, admitiu ontem que as medidas foram “apresentad­as em cima da hora” e que gerou “algum incomodo”. Ainda assim, se a utilização dos certificad­os – que se deverá manter como meio de acesso ao interior da restauraçã­o e alojamento – correr bem, pode ser alargada a outros setores. “Parece-nos, por exemplo, que algumas atividades que permanecem encerradas poderão, se a população estiver satisfeita, assegurar também um funcioname­nto nestas condições”, disse SizaVieira, sem pormenoriz­ar.

A AHP, ao DN/Dinheiro Vivo, defende também o alargament­o deste livre trânsito como porta de entrada para outras atividades. “Esta situação parece vir para ficar. À semelhança do que já acontece em muitos países da Europa, o passaporte para podermos fruir de livre circulação é o certificad­o com a prova da vacinação ou estes testes”, diz a vice-presidente. “No médio prazo, a expectativ­a é que haja alguma normalizaç­ão. Nos outros países da Europa é isto que vai acontecer; sabemos que os números estão a crescer, mas também que o certificad­o da UE permite uma ampla margem de liberdade aos Estados-membros. E que os Estados estão a utilizar mecanismos como este, que vão normalizar de alguma maneira, não apenas o acesso aos empreendim­entos turísticos, mas a outros equipament­os. A nossa expectativ­a é que isto se estenda também a partes integrante­s da experiênci­a turística”, acrescenta.

A AHRESP, com a utilização do certificad­o para acesso aos espaços, pede o levantamen­to das restrições. “As restrições horárias e de lotação no caso dos estabeleci­mentos de restauraçã­o devem ser levantadas; no caso dos negócios ainda fechados devemos abri-los porque se funciona para alargar das 15h30 para as 22h30” também deve ser para permitir a sua abertura, diz Ana Jacinto.

A associação emitiu ainda ontem um comunicado a pedir que o governo implemente 10 medidas que considera essenciais para a sobrevivên­cia destes setores. Além de um novo programa de estímulo ao consumo, pede que o IVA na restauraçã­o e bebidas fique temporaria­mente na taxa mínima, moratórias fiscais e o relançamen­to do lay-off simplifica­do.

Associaçõe­s da hotelaria e da restauraçã­o criticam pouco tempo para implementa­ção das medidas.

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Para refeições no interior dos restaurant­es, de sexta a domingo, é necessário apresentar certificad­o digital.

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