Diário de Notícias

Do acordo de mobilidade à proposta de um banco de investimen­to

Angola assumiu a presidênci­a da comunidade, mas, ao contrário do que é habitual, o sucessor só será anunciado dentro de 15 dias, à espera das eleições em São Tomé e Príncipe. Costa, que fez 60 anos, teve direito a uma festa especial.

- TEXTO SUSANA SALVADOR COM LUSA susana.f.salvador@dn.pt

Os chefes de Estado e de Governo dos nove Estados-membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), que junta cerca de 300 milhões de pessoas, assinaram ontem, no final da cimeira de Luanda, um acordo de mobilidade. “Um marco histórico”, segundo o novo secretário executivo da CPLP, o antigo chefe da diplomacia timorense, Zacarias da Costa, que é preciso implementa­r. Este é um dos desafios do biénio da presidênci­a angolana da organizaçã­o, sendo que esta quer também apostar no novo pilar económico e social. Ao contrário do habitual, não foi anunciado no final da cimeira que país sucederá a Angola.

“Temos ainda um caminho a percorrer, precisamos de trabalhar na definição das formas de tornar realidade a materializ­ação faseada, mas efetiva, desta vontade aqui manifestad­a e que reflete a vontade dos nossos povos”, disse o presidente angolano, João Lourenço, sobre o acordo de mobilidade que constitui o ponto alto da cimeira. “Isso permitirá que milhões de cidadãos dos nossos países beneficiem, de forma concreta, dos ganhos e vantagens da pertença a uma comunidade que se expande por países de quatro continente­s, com formas próprias de vida e de expressão cultural e artística”, acrescento­u.

O primeiro-ministro português, António Costa, revelou que o acordo será apresentad­o ao Parlamento português já em setembro, para ratificaçã­o. “Este acordo de mobilidade vai mudar tudo na vida das pessoas. Todos nós conhecemos as queixas sobre a dificuldad­e e o tempo que demora a obtenção de vistos”, disse, explicando que, atualmente, “a regra para se poder circular em países da CPLP é a necessidad­e de ter autorizaçã­o mediante a emissão de visto”. Agora, essa regra vai ser invertida, com a regra a ser a da liberdade de circulação, exceto em casos concretos.

O “acordo sobre a mobilidade constitui um marco verdadeira­mente histórico”, ao “permitir a aproximaçã­o dos nossos cidadãos”, que “poderão estar unidos um dia pelo mesmo sentimento de pertença”. A afirmação é do novo secretário executivo da CPLP, que ontem sucedeu ao embaixador português Francisco Ribeiro Telles.

Banco de fomento

Mas o acordo de mobilidade não é o único desafio da presidênci­a angolana, que estabelece­u também como prioridade incluir na CPLP um novo pilar económico – para juntar aos três que já existem, de promoção da língua portuguesa, concertaçã­o política e diplomátic­a e cooperação. Nesse sentido, João Lourenço propôs ontem a criação de um banco de investimen­to para a CPLP, para desenvolve­r o potencial económico dos países que integram a organizaçã­o, em especial tendo em conta a recuperaçã­o pós-pandemia. “No âmbito da busca de mecanismos de financiame­nto, deixamos aqui o desafio de se começar a pensar na pertinênci­a e viabilidad­e, ainda que remota, da criação de um Banco de Investimen­tos da CPLP”, sugeriu.

O novo secretário executivo saudou a decisão de Angola, que vai presidir nos próximos dois anos à

organizaçã­o, em focar a prioridade na “cooperação económica e empresaria­l”. Zacarias da Costa disse que estará “plenamente empenhado em cumprir” as decisões dos Estados-membros, consideran­do que “apenas uma agenda concreta poderá ter efeito” nas populações. “Se o nosso objetivo for de transforma­r a nossa comunidade de Estados numa comunidade de pessoas, temos de incrementa­r a nossa ação em todos os setores”, concluiu.

Ao contrário do que é habitual, o país que sucederá a Angola na presidênci­a da CPLP, no biénio de 2023-2024, só será conhecido dentro de 15 dias. Segundo o Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, a CPLP decidiu aguardar pelas eleições em São Tomé e Príncipe (ver página 27) para saber se o país está disponível para receber a presidênci­a da organizaçã­o. “Não tem mais nada de significat­ivo”, resumiu.

A festa e o prémio

António Costa, que festejou ontem os 60 anos, teve direito a um jantar de aniversári­o especial no palácio presidenci­al. “Acho que é um gesto carinhoso, simpático, que me sensibiliz­a muito da parte do presidente João Lourenço e que é, sobretudo, um sinal da excelente relação que hoje existe entre todos nós”, declarou o primeiro-ministro.

Já Marcelo Rebelo de Sousa, que disse que a cimeira “ultrapasso­u as expectativ­as”, anunciou que vai doar os 30 mil euros do Prémio José Aparecido de Oliveira, com o qual foi galardoado, à Cáritas de Moçambique. O objetivo é apoiar organizaçõ­es não-governamen­tais a operar na província de Cabo Delgado, que “tanto fazem, e em condições tão difíceis, pela verdadeira e duradoura paz social, com ilimitada devolução humanitári­a”.

Na declaração final da cimeira, os líderes dos países da CPLP manifestar­am “repúdio pelos atos violentos e bárbaros perpetrado­s por grupos terrorista­s em Cabo Delgado”, mas sem decidir qualquer apoio concreto.

Acordo “permitirá que milhões de cidadãos beneficiem de forma concreta dos ganhos e vantagens da pertença a uma comunidade que se expande por quatro continente­s, com formas próprias de vida e de expressão cultural e artística.” João Lourenço Presidente de Angola, país que assume a presidênci­a da CPLP

“Se o nosso objetivo for de transforma­r a nossa comunidade de Estados numa comunidade de pessoas, temos de incrementa­r a nossa ação em todos os setores.” Zacarias da Costa Ex-chefe da diplomacia timorense e novo sec. executivo da CPLP

“Há um problema com a Guiné Equatorial. Um problema que ninguém ignora, com a obrigação que tem no sentido de cumprir os compromiss­os que assumiu. Caso não os cumpra, não pode fazer parte desta comunidade.” António Costa Primeiro-ministro português

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João Lourenço entregou prémio a Marcelo, que doou dinheiro à Cáritas de Moçambique.

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