Tudo isto que já nos cansa
Aserenidade de Marcelo Rebelo de Sousa tem-lhe rendido pontos de refúgio nos últimos tempos, mas mesmo isso não chegou para evitar o cansaço que os portugueses demonstram sentir em relação aos seus líderes políticos. E se é verdade que o Presidente da República continua a ser querido pela maioria, o barómetro que se publica nas páginas seguintes desta edição é bem revelador do limite a que os portugueses estão a chegar. E que se traduz num claríssimo cartão vermelho a António Costa e ao seu governo – com destaque para um ministro da Administração Interna que, dia sim dia não, é notícia pelos mais inacreditáveis motivos, e para uma ministra da Saúde semidesapa-recida em ano e meio de pandemia, que de quando em vez aparece em programas de entretenimento a anunciar as suas resoluções para a pasta. Mas há também um alerta bem presente à oposição, com Rui Rio à cabeça do infeliz cortejo, graças à surpreendente capacidade do líder social-democrata de sempre cavar mais fundo o buraco em que meteu o PSD.
Se parece exagero, basta ver que há apenas 5 pontos percentuais a separar Rio e Ventura em popularidade no que respeita a encabeçar a oposição. E, neste campeonato, um quinto dos portugueses não consegue sequer apontar quem lidera o combate ao governo de António Costa.
Voltando ao palco principal, o que a nota miserável que os portugueses dão a quem os governa, a quem toma decisões e a quem as contrapõe, demonstra que o país está a ficar farto de tanto desrespeito. Porque é disso que estamos a falar: os que foram eleitos pelos portugueses que foram às urnas, que deviam representá-los nas instituições e nunca esquecer por quem estão ali, perderam o pé. Acham genuinamente que não devem nada a ninguém, que não têm de prestar contas e que estão acima de putativas culpas pelas consequências que têm as decisões que tomam e as ações que praticam. Cabrita não assumirá nunca que lhe cabe a responsabilidade política pelo que dois meses, uma investigação e um relatório depois veio reconhecer que foi um engodo: a festa do Sporting não foi um ato de manifestação política. Como não assumirá nunca Medina que é a ele que cabe pedir desculpas e tirar consequências da partilha dos dados de ativistas russos com aqueles contra quem protestavam – antes destituiu um funcionário de há mais de 30 anos da autarquia. Como Costa não assumirá que provavelmente não houve razão para fazer a A1 em menos de duas horas, menos de um mês depois de um carro do seu executivo ter atropelado mortalmente um funcionário das estradas (e se insistem muito ainda vai para a rua o pobre do motorista).
Não é só a pandemia que cansa, é também a incapacidade que se tem vindo a alastrar de levar a sério o poder pelo que ele é: não um cargo mas uma missão em representação de quem escolheu as pessoas que se sentam nas cadeiras altas. A incapacidade de tomar decisões sérias e de comunicar com transparência. É isso que os portugueses cada vez menos encontram neste desgoverno à beira de uma remodelação cosmética.