Daniel Deusdado
Sporting e Groundforce: sim, Sr. Ministro
1 Durante todos estes meses de pandemia, quem mandou na organização de eventos foi a Direção-Geral da Saúde. Por isso tantos foram cancelados ou ficaram sem público. Lê-se agora nas conclusões aos festejos do Sporting que o parecer da DGS foi negativo. No entanto, tudo aconteceu como se a DGS fosse uma daquelas instituições que está ali para fazer de conta. Porquê? Não se sabe.
Lida a cronologia do relatório da Inspeção-Geral da Administração Interna, conclui-se pela inimputabilidade de todas as instituições envolvidas. Bom, todas não. O ministro Eduardo Cabrita deu grande enfoque ao facto de o Sporting não colaborar com o inquérito, coisa que o Sporting não só negou factualmente, como, sobretudo, serve apenas para desviar a atenção do essencial: quem deveria ter impedido o cortejo oficial. A ministra adjunta, Mariana Vieira da Silva, que coordena a pandemia? Eduardo Cabrita? E o presidente da Câmara de Lisboa, poderia ter impedido mas não quis? Conclusão verificada: as diretivas de Marta Temido e Graça Freitas valem quando dá jeito. Quando não dão, ignoram-se.
2 O que se passou ontem nos aeroportos portugueses é mais grave do que parece. Não se tratou apenas do caos lançado sobre milhares de pessoas, expostas a espaços fechados num dia de calor extremo, em plena pandemia, e sem saberem quando viajam. A verdade é que duas semanas de pré-aviso de greve não chegaram para o governo obrigar a Groundforce ao pagamento de salários e subsídios de férias.
Para Pedro Nuno Santos, seria tentador passar a ideia de que a culpa não é dele, mas do dono da Groundforce, o Sr. Casimiro. Bom... um belo sonho de verão achar-se que isto não ia rebentar nas mãos do governo.
Ou talvez não. Talvez tudo isto fosse bastante previsível e ficasse ontem demonstrado ao país que tem de se nacionalizar a Groundforce, e já! Decisão que teria muitas reticências na opinião pública sem esse miserável espetáculo.
Somos, portanto, todos reféns de diferentes agendas: do Sr. Casimiro querer forçar uma venda sob chantagem; da necessidade do governo em salvar a TAP para não mandar ao fundo a ‘geringonça’ ou uma empresa vital (escolha a que preferir); e vence também o objetivo sindical de passar estes trabalhadores para a esfera do Estado. Todos ganharam algo ontem, exceto este país, de rastos.
Sr. Ministro: pode privatizar. Dr. Leão, saiam mais uns milhões para o guichê da Groundforce. Ponha na conta da TAP, faxavor.
3 O caso “Vítor Fernandes” não é apenas o caso “Vítor Fernandes”. Discutir a sua participação nos negócios de Luís FilipeVieira vai sendo feito. Condicionar a sua entrada no Banco de Fomento por causa disso vai depender, vejam só, do Ministério Público. O problema maior, no entanto, é outro.
O sempre adiado Banco de Fomento foi criado no Porto para se aproximar da indústria do Norte e Centro, que, em conjunto, vale quase 75% do valor acrescentado do país em produtos transacionáveis. A pergunta é outra: porquê mais um chairman’a residir na capital há vários anos, a que se junta uma comissão executiva liderada por uma responsável historicamente ligada à Direção-Geral do Tesouro e ao Terreiro do Paço?
Ou o governo não conhece mais ninguém (vive na bolha das indicações políticas) ou só pretende gente que jogue à defesa – e quiçá possa controlar. É como se a economia, para exportar e crescer, precisasse de pontas-de-lança e o governo só contratasse guarda-redes. Percebem porque, na generalidade, os exportadores não confiam neste governo e se demora tanto a internacionalizar a economia?