Diário de Notícias

Na madrugada, Neemias pode tornar-se o primeiro português na NBA

Da Amoreira até ao Madison Square Garden. Jovem basquetebo­lista pode tornar-se nesta madrugada o primeiro português a entrar na maior liga mundial. Ex-empresário explica ao DN o que dizem relatórios dos olheiros.

- TEXTO ISAURA ALMEIDA isaura.almeida@dn.pt

Odraft da NBA deste ano pode ser histórico para o basquetebo­l português. Neemias Queta está entre as possíveis escolhas para entrar no mais mediático e espetacula­r campeonato de basquetebo­l do mundo caso seja uma das escolhas no draft que se realiza nesta madrugada. “A previsão dos meus contactos na NBA apontam para uma escolha na segunda ronda algures entre a 41.ª e a 60.ª escolhas”, revelou ao DN António Pereira, que dominou o mercado do basquetebo­l português durante largos anos e que continua a receber informação privilegia­da de olheiros. Muitos já lhe pedem referência­s de Neemias, que se destacou nos Aggies, no campeonato universitá­rio.

Nas listas que chegam a António, o nome do português de 22 anos do Vale da Amoreira (Barreiro) raramente aparece nos 60 primeiros. E o primeiro lugar é comum em todas: Cade Cunningham! Os Detroit Pistons são os primeiros a escolher...

A statistica­l analysis (estatístic­a avançada), que tomou conta do mercado e faz currículos, não favorece Neemias: “Eu tenho acesso a vários relatórios internos que dizem que o Neemias está fora do roteiro geográfico de interesse. A Midwest não é uma conferênci­a de referência. É pouco coerente esse apontament­o uma vez que no último ano raramente alguém viajou para ver jogos por causa da pandemia, é uma das fraquezas que apontam.”

O cenário mudou um pouco depois do Combine – evento de exibição – que lhe correu muito bem, mas a previsão continua a ser como escolha apenas na segunda ronda. Nesse caso terá muitas hipóteses de fazer um too way contract – pode jogar na G-League e na NBA ao mesmo tempo, sem passar um x de dias ou jogos na NBA.

Prós e contras

“Uma das coisas que o scoutting dele destaca é a capacidade de ressalto, o desarme de lançamento e a capacidade de proteger o cesto, mas refere que defende muito longe da zona do cesto e é pouco eficaz em atirar de longa distância. Isso é trágico no estilo de jogo atual”, explicou António Pereira, que se recorda de ir ao draft no dia do Portugal-Inglaterra do Euro 2004 em que Dwight Howard foi a 1.ª escolha.

Sair incógnito de Portugal e sem a pressão que Betinho tinha quando foi ao draft em 2005 foi o melhor que aconteceu ao ex-jogador de Barreirens­e e Benfica: “Não se destacou como jovem, nem tinha os holofotes nele e a melhor coisa que fez foi ter ido para os EUA evoluir no campeonato universitá­rio.”

E a pior? “A mudança do modelo de jogo da NBA. As equipas deixaram de jogar com poste e isso rouba-lhe muitas possibilid­ades. Há dez anos Neemias seria uma clara primeira escolha e teria um grande impacto no draft”, resumiu o antigo empresário de basquetebo­l, revelando que não entende porque ele não mudou de universida­de e foi para uma conferênci­a mais forte depois de se retirar do draft em 2019, pois teria ganho pontos.

E se servir de consolo a Neemias, nem sempre os olheiros acertam: “Lembro-me de estar na Sérvia a ver a final 8 da Taça da Sérvia em 2003 e estarem lá uma dúzia de olheiros da NBA para ver o Darko Milicic, que foi terceira escolha e acabou por ser um flop.”

Quetão, como é conhecido Neemias Queta Barbosa, vive o sonho americano. Com 20 anos e 2,11 metros, mãos grandes e braços longos, foi para os EUA com uma bolsa universitá­ria em 2018. Fez pela vida no campeonato universitá­rio, sempre com a NBA no horizonte. Em 2019 abriu o coração ao DN e confessou que, para ele, “um desarme é das melhores coisas que se pode fazer” e que “gostava de ser um jogador com grande potencial na NBA e chegar ao hall of fame”. Esta madrugada pode começar a realizar esse sonho (o draft é transmitid­o em direto pela SportTV1 a partir da meia-noite).

8,3 milhões para a 1.ª escolha

O draft (escolha) é uma forma de permitir que as equipas mais fracas da NBA possam ter acesso aos melhores jogadores e assim equilibrar o campeonato. É esse o espírito. Ser primeira escolha é um marca para a vida e as negociaçõe­s e trocas de lugar na posição de escolha são tão lendárias que já foram tema de vários filmes lendários.

Qual a diferença de ser escolhido na primeira ou segunda ronda? Além de mais uns meses de ansiedade... muitos milhões de euros. A 1.ª escolha do draft de 2021 garante um contrato de 8,3 milhões de dólares, já a trigésima (última da primeira ronda) terá um salário de 1,6 milhões. Os atletas escolhidos na segunda ronda não têm contrato garantido.

Em Portugal joga-se de graça

António Pereira chegou a representa­r 40% dos estrangeir­os que jogavam em Portugal e se alguém queria um jogador de topo e vindo da NBA, era a ele que recorria. Mantém contacto com 90% deles e diz que tinha uma fama terrível nos EUA: “Diziam que só queria jogadores de nível NBA e eu dizia-lhes para mandarem o lixo para outros países.”Agora já se deixou disso, desiludido com o rumo do basquetebo­l português e a ausência de dinheiro que impediu que continuass­e a garantir jogadores de qualidade. Segundo o ex-campeão nacional, como jogador e treinador, houve quem jogasse “de graça no campeonato português esta época”. Outros recebiam 250 ou 500 euros. E assim não há empresário de resista.

“Há dez anos Neemias seria uma clara primeira escolha e teria um grande impacto no draft.”

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Neemias mudou-se para os EUA em 2018 e deu nas vistas no basquetebo­l universitá­rio.

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