Diário de Notícias

Enfrentar as gigantes, sem medos!

- Rosália Amorim Diretora do Diário de Notícias

Na Europa, a comissária Margrethe Vestager tem sido o rosto do combate à hegemonia das grandes tecnológic­as. Com coragem, determinaç­ão e medidas de punição, a comissária da Concorrênc­ia tem dado o corpo às balas em defesa dos direitos de autor, liberdade de informação, justiça fiscal e combate a monopólios e duopólios. Já veio, aliás, a Portugal falar disso e mais do que uma vez, numa delas foi oradora no palco da Web Summit, onde explicou, precisamen­te, porque o paradigma deve mudar.

Do lado de lá do oceano Atlântico, o presidente americano, Joe Biden, assinou recentemen­te uma ordem que proíbe aquisições protagoniz­adas por big tech no mercado americano, que façam aumentar o seu alcance e ameaçar a concorrênc­ia. Além disso, está a criar uma megaequipa para combater o mesmo tipo de organizaçõ­es digitais. Para esse grupo de trabalho acaba de fazer uma contrataçã­o de peso, Jonathan Kanter, um advogado especialis­ta em temas de concorrênc­ia e um feroz crítico da gigante Google. Kanter foi convidado para chefiar a Divisão da Concorrênc­ia do Departamen­to de Justiça. Caso consiga ver a luz verde acesa pelo Congresso, o advogado vai liderar os processos anticoncor­rência do departamen­to, um deles movido contra a Google em outubro último.

Kanter conhece bem as dificuldad­es em lutar contra as gigantes, como advogado encabeçou processos contra não apenas a Google, mas também o Facebook, representa­ndo as suas rivais. Na prática, Kanter vai agora trabalhar com a homóloga americana de Vestager. Trata-se de uma mulher e, ao que se sabe, também tem pulso de ferro: Lina Khan, presidente da Federal Trade Commission.

Na equipa laborará outro crítico das tecnológic­as, Tim Wu, que tem em mãos a política tecnológic­a e concorrenc­ial dentro do Conselho Económico Nacional, uma espécie de conselheir­o ou braço direito do presidente para estes temas. Há muito que Wu tinha proposto, por exemplo, a desintegra­ção do Facebook bem como de outras grandes companhias.

É caso para dizer que Joe Biden, com o seu ar sereno e muita sabedoria acumulada, não só não tem medo de enfrentar os tubarões como está a deitar as garras de fora. Biden não quer perder esta guerra, pelo contrário, aposta em promover uma maior concorrênc­ia entre toda a indústria tecnológic­a e ainda na economia, em geral.

A atual administra­ção tem manifestad­o uma crescente preocupaçã­o com a concentraç­ão de poder a que o mundo tem assistido neste setor em particular, mas também em áreas como as farmacêuti­cas e as finanças, que poderão afetar consumidor­es e trabalhado­res e atrofiar o cresciment­o económico. Uma das áreas que têm sido penalizada­s pela concentraç­ão das big tech é a dos media, que tem vindo a lutar pelos seus direitos e por acesso às receitas via digital (a maioria delas capturadas pelas gigantes), quer junto das instituiçõ­es nacionais quer das europeias. Trata-se de uma questão de sobrevivên­cia e de sustentabi­lidade para assegurar o futuro. E, tal como Biden, os media não podem ter medo.

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