Diário de Notícias

Cansaço e incertezas na reta final para as férias

- Jorge Conde

Opaís tradiciona­lmente abranda em agosto. Estamos por isso na mais difícil semana do ano, quando tudo parece demorar e qualquer concretiza­ção tem um esforço acrescido. As pessoas e as organizaçõ­es onde se integram estão já em contagem final, na expectativ­a de que o sistema não traga mais trabalho e pressão e que tudo possa esperar para setembro.

Talvez devido a esse cansaço, a última semana, marcada pelo faleciment­o de Otelo Saraiva de Carvalho, uma das figuras mais controvers­as da democracia portuguesa, trouxe exacerbaçõ­es e discursos possivelme­nte marcados pela época. Não há mal nenhum em opinar, numa base crítica, informada e esclarecid­a e não num circuito de raiva pintado pelas cores da política. Por isso mesmo não pretendo hoje opinar sobre Otelo, mas não posso deixar de me indignar sobre um conjunto de análises baseadas no desconheci­mento, tendo apenas e só como referência o quadrante político onde este se inseria.

Todo este clima pré-agosto está ainda mais exacerbado pelo quadro de pandemia que continuamo­s a viver. Atravessam­os uma quarta vaga, no momento em que a partida para férias é imprescind­ível e a incerteza sanitária é fator agravante dos comportame­ntos. O controlo da pandemia está mais atrasado do que a maioria desejou em janeiro, quando as vacinas pareciam garantir um verão dentro da “normalidad­e”. O cansaço não ajuda a suportar este final de ano, já de si sempre difícil, e a pandemia é mais um motivo de divergênci­a política, com as opiniões coladas às opções de cada um.

Não fora já um julho complicado, a antevisão de um setembro eleitoral está também a mexer com a interpreta­ção de acontecime­ntos e factos e a fomentar o aparecimen­to de opiniões muito condiciona­das pelo resultado que cada um espera das eleições que se avizinham. Um quadro eleitoral que é sempre visto como uma avaliação de quem governa localmente, mas também de quem governa o país e que é indicador das opções para a segunda parte da legislatur­a.

Temos por isso um conjunto de acontecime­ntos que pedem férias das “verdadeira­s”, das que permitem cortar com o mundo e recarregar forças para mais um ano de trabalho. Talvez valha a pena pensarmos que há um momento de pausa obrigatóri­o, como a ginasta Simone Biles provou ao desistir do sonho dos Jogos Olímpicos em nome da sua saúde mental. Esperamos voltar todos em setembro mais saudáveis e mais resiliente­s...

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