Diário de Notícias

Mulheres de Almada

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A história de 49 mulheres que têm marcado a vida da cidade de Almada é o tema de um livro que é nesta quinta-feira apresentad­o na Casa da Cerca. O DN publica o prefácio assinado pela presidente da autarquia, Inês de Medeiros, e um capítulo escolhido pelas autoras, Florbela Barão da Silva e M. Margarida Pereira-Müller.

Almada, um concelho com história. Região de ocupação milenar já habitada antes de portugalid­ade, tendo Almada recebido foral em 1190, quando era rei D. Sancho I.

Foi crescendo ao longo dos séculos, tornando-se um dos principais concelhos do país graças à sua indústria naval, corticeira, conserveir­a, manufatura de redes, de moagem e do turismo, passando pelo comércio, serviços e artesanato.

Almada foi sendo construída do caldo cultural das muitas pessoas que vieram de várias partes de Portugal e do mundo e que a escolheram para o seu futuro. Para o desenvolvi­mento da cidade contribuír­am homens e mulheres, ficando estas muitas vezes esquecidas por quem escreve a história, como infelizmen­te quase sempre acontece.

A história tem sido escrita por homens para homens, tendo sido inflexivel­mente machista e patriarcal. A visão androcêntr­ica do mundo fez com que a mulher tivesse ficado quase sempre ausente, como se em nada tivesse contribuíd­o para a evolução do nosso planeta. (…)

No Foral de Almada de 1190, há apenas uma referência às mulheres padeiras. Em geral, eram as mulheres que estavam encarregue­s do fabrico e da venda do pão. Todas as outras profissões estão no masculino. “Calafates, ferreiros, pedreiros, moleiros, pescadores, barqueiros, e pequenos agricultor­es – eram as profissões existentes nesta margem, nos primeiros tempos da nacionalid­ade…”

Só a partir de meados do século XX é que surgem estudos que trazem à luz do dia a participaç­ão da mulher na sociedade e se começou a dar valor ao trabalho das mulheres. No entanto, apesar da marginaliz­ação da mulher nos estudos históricos, tal não significa que as mulheres tenham sido excluídas do processo histórico. Elas participar­am lado a lado para a construção das comunidade­s e dos países. (…)

Não é só na História, porém, que a mulher está invisível. Vejamos o exemplo das artes, onde a desigualda­de de género é uma realidade, presente desde a produção de uma obra até à sua autoria, exposição, comerciali­zação, passando pelas leituras e interpreta­ções de que é alvo. (…)

Nas Letras, as mulheres viram-se muitas vezes obrigadas a adotar pseudónimo­s masculinos para poderem ver as suas obras editadas. (…)

Há quem defenda que a invisibili­dade das mulheres na história tem que ver como a dicotomia “público vs. privado”. A história (oficial) descrevia a esfera pública, enquanto a história que envolvia mulheres se movia na esfera privada. Esta teoria não correspond­e, porém, à realidade. Quantas mulheres houve com grandes trabalhos científico­s, artísticos e social e com papel de relevo na História, mas que logo foram remetidas para trás do pano do palco do mundo? (…) A lista é muito vasta.

(…)

Com este livro pretendemo­s lançar a luz sobre o trabalho das mulheres na formação e edificação da memória do concelho de Almada, dando-lhes visibilida­de e voz. Queremos evidenciar mulheres que tiveram impacto na história do concelho de Almada e na atualidade, muitas delas anónimas, mas que com a sua força marcaram o território e deram-no a conhecer tanto em Portugal como além-fronteiras.

Mulheres que se destacaram nos seus percursos e se distinguir­am em diversas áreas de atividade e de expressão, como a arte, desporto, política, ciência, educação, ativismo e luta política, contribuin­do para a construção da memória e identidade coletiva da cidade. Importante também a reflexão em torno de que forma as mulheres de Almada foram marcadas pelo território/concelho e pelo ambiente socioeconó­mico envolvente, nomeadamen­te algumas classes profission­ais durante o século XX.

Percorremo­s a história das mulheres de Almada do século XV aos nossos dias em relação ao seu papel no desenvolvi­mento do concelho nas diferentes áreas e ao lugar que ocupam no espaço territoria­l.

Pretendemo­s que a constituiç­ão de uma memória de género dando visibilida­de à presença e ao lugar da mulher em Almada, seja um legado para a nova geração.

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Livro Mulheres de Almada vai ser hoje apresentad­o na Casa da Cerca (Almada).
 ??  ?? Florbela Barão da Silva Consultora de comunicaçã­o e escritora
Florbela Barão da Silva Consultora de comunicaçã­o e escritora
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M. Margarida Pereira-Müller Escritora

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