Talks Barreiro: Barreiro verde a pensar no amanhã
AMBIENTE Um termo “relativamente” vago, mas que tem um impacto determinante na qualidade de vida de uma cidade e seus habitantes. Que se vê em medidas concretas como a plantação de árvores e a reabilitação das frentes ribeirinhas, mas que também está presente nas medidas invisíveis, e que tradicionalmente têm maior impacto. É o caso da gestão de rede de águas e do saneamento, mas também da gestão de recolha de resíduos.
Na terceira, e última, Talk Barreiro, uma iniciativa que junta o Diário de Notícias e a Câmara Municipal do Barreiro, e que decorre das comemorações dos 500 anos da elevação do Barreiro a cidade, a conversa incide sobre o ambiente, os desafios ambientais que a cidade atravessa e todo o trabalho que tem feito no sentido de reabilitar.
“O Barreiro quer-se mais verde”, esta é a missão assumida pela cidade, em grande parte, também, como forma de contrariar o passado histórico industrial, associado à chaminé. O objetivo, afirma Frederico Rosa, presidente da Câmara Municipal do Barreiro, é que a cidade seja encarada como uma campeã das boas práticas ambientais, acrescentando que o grande desafio é transformar o chavão “planeta/cidade mais verde” em ações concretas.
Sobre essas o presidente exemplifica com medidas já em curso e que vão desde a transformação da frota dos autocarros com gás natural, da substituição de todas as luminárias do concelho – eram mais de 11 mil, sendo que “ainda havia luminárias a vapor de mercúrio” – para LED, colocação de rotundas para permitir uma melhor circulação rodoviária e, com isso, “haver menos emissões”, na plantação de árvores – só nos últimos dois anos foram plantadas mais de 2 mil árvores em contexto urbano –, a par de uma melhor e mais intensa comunicação sobre os ativos ambientais existentes no concelho. Nomeadamente a Mata Nacional da Machada, o sapal do rio Coina, a zona de Alburrica e das duas frentes de rio (Tejo e Coina). Isto é muito importante, lembra, porque as pessoas tendem a cuidar daquilo que conhecem. Por isso é tão importante começar logo nas crianças, assim que entram na escola.
O chavão sem medidas concretas é isso mesmo, um chavão. Esta
é a opinião de Frederico Rosa que acrescenta que há que investir em duas linhas estratégicas. Por um lado através da captação e utilização de investimento em medidas concretas e, por outro, no dar a conhecer e ter uma maior proximidade de e com as pessoas.
Com especial ênfase numa matéria que, tradicionalmente, passa despercebida, refere Frederico Rosa. É o caso das redes de águas e saneamentos, nomeadamente no que concerne à requalificação de redes de águas e saneamentos. No caso do Barreiro o presidente da câmara reconhece que poucas pessoas sabiam que grande parte da rede de águas ainda era em microcimento – número que tem vindo, gradualmente, a ser diminuído. A par disto garantir que as redes de saneamento estão direcionadas par as ETAR. Algo extremamente importante dado que, lembra Frederico Rosa, “vai permitir-nos um rio mais limpo”. O que vai permitir não só aproveitar a frente ribeirinha de praia, mas também significa que “estamos a aproveitar o ecossistema ao nível do rio”. A questão, refere o presidente da CM Barreiro, é que muitas vezes olha-se para a parte final, para o resultado final dos investimentos, e esquece-se do que lá estava antes. E tudo começa na água. Nas redes de abastecimento e no saneamento.
Os barreirenses devem orgulhar-se da situação atual do Barreiro. Esta é a opinião de Frederico Rosa que refere não só a posição da cidade em rankings internacionais de boas práticas ambientais, mas, também, e principalmente, o sofrimento que a cidade já sofreu devido à poluição – convém lembrar não só o passado industrial químico, mas também que as preocupações ambientais são recentes.
Um planeta, três ecossistemas: saúde humana, saúde animal, saúde ambiental
A pandemia trouxe dificuldades a todo o mundo. No entanto, no meio do desespero, ainda é possível encontrar um ponto positivo. Para Nuno Banza, presidente do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, a pandemia trouxe a consciencialização de que a saúde humana, a saúde ambiental e a saúde animal não podem ser separadas. “Elas são faces do mesmo sólido”, afirmou, acrescentando que “estamos a viver uma pandemia porque descurámos uma dessas dimensões”. E isso foi de tal forma que “hoje não conseguimos discutir um problema de saúde pública sem pensar na forma como nós intervimos nos ecossistemas”. Tudo está interdependente. “Se não acautelarmos a saúde animal e a biodiversidade, inevitavelmente, vamos ter sérios problemas em termos de saúde humana”.
Questionado sobre o porquê de só agora estarmos a atravessar uma pandemia quando antes, o Barreiro e não só, atravessou condições tão difíceis para o meio ambiente, Nuno Banza lembrou que “é preciso ter condições para fazer as coisas”, acrescentando que só na década de 1970 começaram a assumir-se compromissos na área do ambiente. Com um pequeno grande senão – “nunca conseguimos cumprir uma meta”.
Este constante adiar de decisões teve como consequência o aumento da temperatura (que vai quase em dois graus a mais). O que se sente diariamente e se vê, nomeadamente no que concerne à área de degelo das calotas polares.
A solução passa mais do que apenas por decisões corporativas, dos vários governos. Passa por decisões individuais, do dia-a-dia. Decidir reciclar, por exemplo, decidir “adequadamente” a gestão do consumo diário de água, a própria decisão de compra. Tudo isso, refere Nuno Banza, conta.
Já no que concerne às cidades, uma excelente invenção, na opinião do presidente do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, porque permite a criação de soluções em massa, estas têm de conseguir integrar, no seu interior, o contacto com a biodiversidade. E dá o exemplo de uma rua com árvores que consegue ter uma temperatura, em média, seis graus abaixo de uma rua sem árvores. “Porque as árvores, além da sombra, libertam humidade, libertam oxigénio, absorvem o dióxido de carbono e ajudam a harmonizar o ambiente.” Ou seja, “plantar árvores na cidade não é só para tornar a cidade mais bonita”. Mas só isso não chega, alerta. Há que pensar na espécie de árvores a plantar. As que tenham folha caduca. Para que as crianças consigam perceber as diferentes estaOnde ções do ano e que estas “influenciam todos os seres vivos”.
Uma câmara 100% desmaterializada
Menos 640 toneladas anuais. Este é o resultado das medidas já implementadas no âmbito do projeto “uma cidade mais verde”, referiu Rui Braga, vereador do Planeamento e Urbanismo na Câmara Municipal do Barreiro. É o resultado de investimento e boas práticas que vão para além do plantar árvores (embora estas sejam importantes e necessárias). Planear uma cidade, e nomeadamente planear para o futuro, tem de incluir, necessariamente, uma abordagem à construção. Decidir o tipo de edifícios que serão construídos. requisitos como coberturas verdes ou o aproveitamento das águas pluviais para o comportamento do edifício tendem a ser “obrigatórios” ou, pelo menos, preferenciais.
É claro, a par de outras áreas, como os já mencionados transportes. A título de exemplo Rui Braga mencionou a maior ciclovia da cidade que, em quatro quilómetros vai ligar o centro de uma freguesia à Avenida da Liberdade. Aqui o objetivo é induzir novos comportamentos, nem que seja a título desportivo/lúdico. A par disto, e ainda no âmbito de ter uma cidade mais sustentável, vão “a breve trecho” implementar 90 postos de carregamento elétricos. Com uma diferença face ao que outras cidades estão a fazer. Em vez de os colocar em grandes áreas de passagem a câmara optou, explicou Rui Braga, por colocar os postos de carregamento no local de residência dos barreirenses – em grandes urbanizações. A ideia, a longo prazo, é induzir o car sharing na cidade e, com isso, retirar viaturas em circulação.
Mas, mais do que “parecê-lo há que sê-lo”, lá diz o ditado. Quer isto dizer que a câmara decidiu, também ela, participar ativamente na estratégia de sustentabilidade do concelho, apostando num programa de desmaterialização e digitalização. Com isso, revelou Rui Braga, a autarquia reduzir o consumo de papel em 45%. O facto de o programa ter sido levado a cabo antes da pandemia permitiu que a resposta à pandemia fosse mais efetiva.
“Isto também é ambiente”, constatou o vereador do Planeamento e Urbanismo na Câmara Municipal do Barreiro. Porque, com a simples utilização de plataformas de videoconferência, por exemplo, reduziram-se as deslocações. De tal forma que Rui Braga acredita que esta plataforma (resultante da digitalização) poderia acrescentar umas duas toneladas às 640 já mencionadas. E isso é fácil de perceber se se tiver em conta que o urbanismo é o departamento que mais papel utilizava na autarquia. A partir do momento em que está 100% desmaterializado isso não significa menos papel (muito menos papel), mas também que já não é necessário que, por exemplo, um gabinete de arquitetura se tenha de deslocar, seja de que parte do país, para poder avançar com um processo.
Há ainda a parte dos resíduos, que tradicionalmente são esquecidos. Neste momento a câmara tem a decorrer, na sua maior freguesia, e em parceria com uma entidade privada, a recolha bilateral do lixo. Qual a vantagem ou diferença face à “recolha tradicional”? Por um lado são utilizados camiões movidos a gás natural. Por outro os contentores são abetos através de um pedal o que evita o contacto entre a pessoa e o contentor. O que garante um maior nível de higienização. Ao mesmo tempo que permite uma maior recolha, evitando passagens mais frequentes. Isto é especialmente vantajoso nas ruas mais estreitas onde não era viável ter o número de contentores realmente necessários e/ou onde os camiões de maiores dimensões não conseguem entrar ou têm dificuldade em circular.
Neste momento a Câmara do Barreiro tem a decorrer, na sua maior freguesia, e em parceria com uma entidade privada, a recolha bilateral do lixo. Menos 640 toneladas anuais. Este é o resultado das medidas já implementadas no âmbito do projeto Uma Cidade mais Verde, referiu Rui Braga, vereador do Planeamento e Urbanismo na Câmara Municipal do Barreiro.