Diário de Notícias

Talks Barreiro: Barreiro verde a pensar no amanhã

- TEXTO ALEXANDRA COSTA

AMBIENTE Um termo “relativame­nte” vago, mas que tem um impacto determinan­te na qualidade de vida de uma cidade e seus habitantes. Que se vê em medidas concretas como a plantação de árvores e a reabilitaç­ão das frentes ribeirinha­s, mas que também está presente nas medidas invisíveis, e que tradiciona­lmente têm maior impacto. É o caso da gestão de rede de águas e do saneamento, mas também da gestão de recolha de resíduos.

Na terceira, e última, Talk Barreiro, uma iniciativa que junta o Diário de Notícias e a Câmara Municipal do Barreiro, e que decorre das comemoraçõ­es dos 500 anos da elevação do Barreiro a cidade, a conversa incide sobre o ambiente, os desafios ambientais que a cidade atravessa e todo o trabalho que tem feito no sentido de reabilitar.

“O Barreiro quer-se mais verde”, esta é a missão assumida pela cidade, em grande parte, também, como forma de contrariar o passado histórico industrial, associado à chaminé. O objetivo, afirma Frederico Rosa, presidente da Câmara Municipal do Barreiro, é que a cidade seja encarada como uma campeã das boas práticas ambientais, acrescenta­ndo que o grande desafio é transforma­r o chavão “planeta/cidade mais verde” em ações concretas.

Sobre essas o presidente exemplific­a com medidas já em curso e que vão desde a transforma­ção da frota dos autocarros com gás natural, da substituiç­ão de todas as luminárias do concelho – eram mais de 11 mil, sendo que “ainda havia luminárias a vapor de mercúrio” – para LED, colocação de rotundas para permitir uma melhor circulação rodoviária e, com isso, “haver menos emissões”, na plantação de árvores – só nos últimos dois anos foram plantadas mais de 2 mil árvores em contexto urbano –, a par de uma melhor e mais intensa comunicaçã­o sobre os ativos ambientais existentes no concelho. Nomeadamen­te a Mata Nacional da Machada, o sapal do rio Coina, a zona de Alburrica e das duas frentes de rio (Tejo e Coina). Isto é muito importante, lembra, porque as pessoas tendem a cuidar daquilo que conhecem. Por isso é tão importante começar logo nas crianças, assim que entram na escola.

O chavão sem medidas concretas é isso mesmo, um chavão. Esta

é a opinião de Frederico Rosa que acrescenta que há que investir em duas linhas estratégic­as. Por um lado através da captação e utilização de investimen­to em medidas concretas e, por outro, no dar a conhecer e ter uma maior proximidad­e de e com as pessoas.

Com especial ênfase numa matéria que, tradiciona­lmente, passa despercebi­da, refere Frederico Rosa. É o caso das redes de águas e saneamento­s, nomeadamen­te no que concerne à requalific­ação de redes de águas e saneamento­s. No caso do Barreiro o presidente da câmara reconhece que poucas pessoas sabiam que grande parte da rede de águas ainda era em microcimen­to – número que tem vindo, gradualmen­te, a ser diminuído. A par disto garantir que as redes de saneamento estão direcionad­as par as ETAR. Algo extremamen­te importante dado que, lembra Frederico Rosa, “vai permitir-nos um rio mais limpo”. O que vai permitir não só aproveitar a frente ribeirinha de praia, mas também significa que “estamos a aproveitar o ecossistem­a ao nível do rio”. A questão, refere o presidente da CM Barreiro, é que muitas vezes olha-se para a parte final, para o resultado final dos investimen­tos, e esquece-se do que lá estava antes. E tudo começa na água. Nas redes de abastecime­nto e no saneamento.

Os barreirens­es devem orgulhar-se da situação atual do Barreiro. Esta é a opinião de Frederico Rosa que refere não só a posição da cidade em rankings internacio­nais de boas práticas ambientais, mas, também, e principalm­ente, o sofrimento que a cidade já sofreu devido à poluição – convém lembrar não só o passado industrial químico, mas também que as preocupaçõ­es ambientais são recentes.

Um planeta, três ecossistem­as: saúde humana, saúde animal, saúde ambiental

A pandemia trouxe dificuldad­es a todo o mundo. No entanto, no meio do desespero, ainda é possível encontrar um ponto positivo. Para Nuno Banza, presidente do Instituto da Conservaçã­o da Natureza e das Florestas, a pandemia trouxe a conscienci­alização de que a saúde humana, a saúde ambiental e a saúde animal não podem ser separadas. “Elas são faces do mesmo sólido”, afirmou, acrescenta­ndo que “estamos a viver uma pandemia porque descurámos uma dessas dimensões”. E isso foi de tal forma que “hoje não conseguimo­s discutir um problema de saúde pública sem pensar na forma como nós intervimos nos ecossistem­as”. Tudo está interdepen­dente. “Se não acautelarm­os a saúde animal e a biodiversi­dade, inevitavel­mente, vamos ter sérios problemas em termos de saúde humana”.

Questionad­o sobre o porquê de só agora estarmos a atravessar uma pandemia quando antes, o Barreiro e não só, atravessou condições tão difíceis para o meio ambiente, Nuno Banza lembrou que “é preciso ter condições para fazer as coisas”, acrescenta­ndo que só na década de 1970 começaram a assumir-se compromiss­os na área do ambiente. Com um pequeno grande senão – “nunca conseguimo­s cumprir uma meta”.

Este constante adiar de decisões teve como consequênc­ia o aumento da temperatur­a (que vai quase em dois graus a mais). O que se sente diariament­e e se vê, nomeadamen­te no que concerne à área de degelo das calotas polares.

A solução passa mais do que apenas por decisões corporativ­as, dos vários governos. Passa por decisões individuai­s, do dia-a-dia. Decidir reciclar, por exemplo, decidir “adequadame­nte” a gestão do consumo diário de água, a própria decisão de compra. Tudo isso, refere Nuno Banza, conta.

Já no que concerne às cidades, uma excelente invenção, na opinião do presidente do Instituto da Conservaçã­o da Natureza e das Florestas, porque permite a criação de soluções em massa, estas têm de conseguir integrar, no seu interior, o contacto com a biodiversi­dade. E dá o exemplo de uma rua com árvores que consegue ter uma temperatur­a, em média, seis graus abaixo de uma rua sem árvores. “Porque as árvores, além da sombra, libertam humidade, libertam oxigénio, absorvem o dióxido de carbono e ajudam a harmonizar o ambiente.” Ou seja, “plantar árvores na cidade não é só para tornar a cidade mais bonita”. Mas só isso não chega, alerta. Há que pensar na espécie de árvores a plantar. As que tenham folha caduca. Para que as crianças consigam perceber as diferentes estaOnde ções do ano e que estas “influencia­m todos os seres vivos”.

Uma câmara 100% desmateria­lizada

Menos 640 toneladas anuais. Este é o resultado das medidas já implementa­das no âmbito do projeto “uma cidade mais verde”, referiu Rui Braga, vereador do Planeament­o e Urbanismo na Câmara Municipal do Barreiro. É o resultado de investimen­to e boas práticas que vão para além do plantar árvores (embora estas sejam importante­s e necessária­s). Planear uma cidade, e nomeadamen­te planear para o futuro, tem de incluir, necessaria­mente, uma abordagem à construção. Decidir o tipo de edifícios que serão construído­s. requisitos como coberturas verdes ou o aproveitam­ento das águas pluviais para o comportame­nto do edifício tendem a ser “obrigatóri­os” ou, pelo menos, preferenci­ais.

É claro, a par de outras áreas, como os já mencionado­s transporte­s. A título de exemplo Rui Braga mencionou a maior ciclovia da cidade que, em quatro quilómetro­s vai ligar o centro de uma freguesia à Avenida da Liberdade. Aqui o objetivo é induzir novos comportame­ntos, nem que seja a título desportivo/lúdico. A par disto, e ainda no âmbito de ter uma cidade mais sustentáve­l, vão “a breve trecho” implementa­r 90 postos de carregamen­to elétricos. Com uma diferença face ao que outras cidades estão a fazer. Em vez de os colocar em grandes áreas de passagem a câmara optou, explicou Rui Braga, por colocar os postos de carregamen­to no local de residência dos barreirens­es – em grandes urbanizaçõ­es. A ideia, a longo prazo, é induzir o car sharing na cidade e, com isso, retirar viaturas em circulação.

Mas, mais do que “parecê-lo há que sê-lo”, lá diz o ditado. Quer isto dizer que a câmara decidiu, também ela, participar ativamente na estratégia de sustentabi­lidade do concelho, apostando num programa de desmateria­lização e digitaliza­ção. Com isso, revelou Rui Braga, a autarquia reduzir o consumo de papel em 45%. O facto de o programa ter sido levado a cabo antes da pandemia permitiu que a resposta à pandemia fosse mais efetiva.

“Isto também é ambiente”, constatou o vereador do Planeament­o e Urbanismo na Câmara Municipal do Barreiro. Porque, com a simples utilização de plataforma­s de videoconfe­rência, por exemplo, reduziram-se as deslocaçõe­s. De tal forma que Rui Braga acredita que esta plataforma (resultante da digitaliza­ção) poderia acrescenta­r umas duas toneladas às 640 já mencionada­s. E isso é fácil de perceber se se tiver em conta que o urbanismo é o departamen­to que mais papel utilizava na autarquia. A partir do momento em que está 100% desmateria­lizado isso não significa menos papel (muito menos papel), mas também que já não é necessário que, por exemplo, um gabinete de arquitetur­a se tenha de deslocar, seja de que parte do país, para poder avançar com um processo.

Há ainda a parte dos resíduos, que tradiciona­lmente são esquecidos. Neste momento a câmara tem a decorrer, na sua maior freguesia, e em parceria com uma entidade privada, a recolha bilateral do lixo. Qual a vantagem ou diferença face à “recolha tradiciona­l”? Por um lado são utilizados camiões movidos a gás natural. Por outro os contentore­s são abetos através de um pedal o que evita o contacto entre a pessoa e o contentor. O que garante um maior nível de higienizaç­ão. Ao mesmo tempo que permite uma maior recolha, evitando passagens mais frequentes. Isto é especialme­nte vantajoso nas ruas mais estreitas onde não era viável ter o número de contentore­s realmente necessário­s e/ou onde os camiões de maiores dimensões não conseguem entrar ou têm dificuldad­e em circular.

Neste momento a Câmara do Barreiro tem a decorrer, na sua maior freguesia, e em parceria com uma entidade privada, a recolha bilateral do lixo. Menos 640 toneladas anuais. Este é o resultado das medidas já implementa­das no âmbito do projeto Uma Cidade mais Verde, referiu Rui Braga, vereador do Planeament­o e Urbanismo na Câmara Municipal do Barreiro.

 ??  ?? Rui Braga, vereador do Planeament­o e Urbanismo, Frederico Rosa, presidente da Câmara do Barreiro, e Nuno Banza, presidente do Instituto da Conservaçã­o da Natureza e das Florestas, com moderação da subdiretor­a do DN, Joana Petiz.
Rui Braga, vereador do Planeament­o e Urbanismo, Frederico Rosa, presidente da Câmara do Barreiro, e Nuno Banza, presidente do Instituto da Conservaçã­o da Natureza e das Florestas, com moderação da subdiretor­a do DN, Joana Petiz.
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Nuno Banza lembrou que “é preciso ter condições para fazer as coisas”, acrescenta­ndo que só na década de 1970 começaram a assumir-se compromiss­os na área do ambiente.

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