Diário de Notícias

Compreende­r para que serve uma Guarda e uma Polícia!

- António Barreira

Éfrequente o debate sobre o sistema policial em Portugal, por existirem várias polícias e, em particular, duas Forças de Segurança (FS) – GNR e PSP – que, dizem alguns, servem para fazer a mesma coisa. O desconheci­mento sobre o que é cada uma das instituiçõ­es permite que outros interesses contaminem a opinião pública, proliferan­do ideias deletérias e aproveitan­do esta realidade para cumprir agendas.

A história, como referência do futuro, fundamenta a posição de sucessivos governos, em rejeitar uma Polícia Única, apostando num sistema dual, com uma Força Militar e uma Força Civil, como têm optado diversos países que geográfica e culturalme­nte se assemelham a Portugal (ex. Espanha, França e Itália). O cariz militar, mais do que patente nas missões, está relacionad­o com a condição militar. Ser militar, mais do que uma questão técnica, é uma questão cultural e forma de estar. A GNR, tal como diversas forças militares estrangeir­as, é herdeira do ADN e da designação da Gendarmeri­e Nationale de França, criada em 1789. Além da formação técnico-policial dos militares da GNR, é a formação militar base o segredo da eficácia que permite uma resposta imediata e capaz, especialme­nte em situações excecionai­s/emergência. Esta formação e organizaçã­o equivalent­e à das Forças Armadas (FA), garantem eficiência na execução das responsabi­lidades de cada militar mesmo em situações adversas. Prova disto, é a resposta da GNR nas situações excecionai­s como greves de camionista­s, grandes incêndios ou reposição de fronteiras fruto da pandemia.

Este “estado de espírito”, designado “condição militar”, aliado à formação técnico-militar e conjugado com a organizaçã­o, doutrina, autonomia logística (autossufic­iência) e armamento diferencia­do das restantes “Polícias”, permite à GNR cumprir missões militares e agir em coordenaçã­o com as FA, numa lógica de interopera­bilidade. Nos cenários internacio­nais de conflito é frequente a utilização de Gendarmeri­es, pela sua capacidade para atuar num largo espetro de conflitual­idade, que permite transição pacifica de fase de “imposição da força” para a fase

“transferên­cia de autoridade”, tal como aconteceu com a projeção da Guarda para o Iraque, Timor ou Bósnia. Note-se que Portugal faz parte de algumas organizaçõ­es internacio­nais, pelo facto de existir uma Guarda, como é o caso da European Gendarmeri­e Force, uma força europeia, capaz de projetar até 800 efetivos, num prazo de 30 dias, para qualquer conflito internacio­nal. Num mundo onde as ameaças e formas de conflitual­idade tendem a obrigar a uma melhor coordenaçã­o entre a Defesa Nacional e a Segurança Interna, a GNR, surge como “elemento” facilitado­r dessa ligação, especialme­nte em cenários de elevada complexida­de, como são os estados de guerra ou emergência.

O sistema dual faz sentido se ambas as FS tiverem um espetro comum de atuação na sua área territoria­l, a desempenha­r as missões de polícia administra­tiva (vulgo “fazerem o mesmo”), e depois, cada uma destas desempenhe missões de polícia especial, como seja para a Guarda os exemplos da ação fiscal e rodoviária, o controlo costeiro, o ambiente e a natureza (o que exige continuida­de no território incluindo marítimo), e para a PSP a segurança privada, as armas e explosivos, a segurança pessoal e aeroportuá­ria.

Quando a diferença for entendida, compreende­r-se-á que o foco de uma Polícia é o cidadão enquanto uma Gendarmeri­e se centra no Estado (organizaçã­o política, território e população), pelo que uma FS se denomina “Polícia” e atua nos grandes centros urbanos, e, a outra se denomina “Guarda” e atua em 94% do território, garantindo a sua integridad­e, a vigilância das suas fronteiras e o controlo dos movimentos massivos da população. Compreendi­do isto terminaria­m os tristes episódios de “guerrinhas” que nos envergonha­m a todos. Não devia haver espaço para “quintas” ou mendigar atribuiçõe­s nos bastidores, afrontando os militares. Ter duas FS não deve significar concorrênc­ia, mas sim complement­aridade, para que Portugal seja, não o terceiro, mas o país mais seguro do mundo.

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