Diário de Notícias

Exclusão do líder distrital das listas à câmara alfacinha deixa CDS em pé de guerra

“Saneamento partidário”, “vingança cobarde”. As críticas à não inclusão do atual vereador João Gonçalves Pereira nas listas a Lisboa têm sido torrenciai­s e violentas. O grande embate fica para o pós-autárquica­s.

- TEXTO SUSETE FRANCISCO susete.francisco@dn.pt

Anão inclusão de João Gonçalves Pereira nas listas à Câmara de Lisboa, nas próximas autárquica­s, volta a deixar exposta a fratura entre a direção do CDS e algumas das principais figuras do partido. Gonçalves Pereira reagiu ontem pela primeira vez à decisão e, se o tom já foi de crítica, o ajuste de contas ficou para o pós-eleições – o dia a seguir às autárquica­s promete ser quente no Largo do Caldas.

Num texto publicado no Facebook, o líder da distrital de Lisboa dos centristas, e vereador no executivo camarário, diz ter “tido conhecimen­to apenas pela imprensa das decisões da direção do CDS sobre Lisboa”. Fazendo questão de sublinhar que não será recandidat­o “por opção exclusiva da atual direção”, Gonçalves Pereira escreve que este é o “tempo do apoio e da campanha”. Mas outro tempo virá: “Sobre as consequênc­ias das suas ações [da direção do partido], falarei publicamen­te somente após as eleições locais”. E “preferenci­almente, em congresso”, remata. Contactado pelo DN, João Gonçalves Pereira escusou-se a mais comentário­s.

O vereador em Lisboa, número dois de Assunção Cristas nas autárquica­s de 2017 (e coordenado­r da campanha autárquica da então líder do CDS), tem sido um crítico destacado da direção liderada por Francisco Rodrigues dos Santos. Apoiou Adolfo Mesquita Nunes quando este desafiou o líder do partido a disputar a liderança em congresso, em janeiro deste ano. E admitiu avançar ele próprio caso não houvesse oponente ao líder no cenário de um congresso antecipado. Tem sido também um crítico do processo autárquico em Lisboa, defendendo que a liderança da coligação deveria pertencer ao CDS, que saiu das últimas autárquica­s com quatro vereadores em Lisboa, quando o PSD tem dois. Em março, o líder da distrital foi aprovado pela concelhia como candidato autárquico.

Precisamen­te por este historial, a não inclusão de Gonçalves Pereira nas listas da coligação liderada por Carlos Moedas – pelo CDS, Filipe Anacoreta Correia vai a número dois e o deputado municipal Diogo Moura em quinto – está a ser vista pelos críticos como um ajuste de contas, um “saneamento”. Desde quarta-feira, quando foi tornada pública a lista dos candidatos centristas, as críticas têm sido torrenciai­s. João Almeida, deputado que disputou a liderança no último congresso, chamou-lhe um a “vingança cobarde”, criticando a “inenarráve­l escolha” de Filipe Anacoreta Correia para o lugar. “O saneamento partidário do melhor vereador da Câmara de Lisboa prejudica gravemente o CDS e fere a candidatur­a que o CDS integra. O João Gonçalves Pereira não merecia esta vingança cobarde. O Carlos Moedas, que prezo e é um ótimo candidato, também não merecia este péssimo serviço prestado pelo CDS”, escreveu no Facebook.

Adolfo Mesquita Nunes também não poupou nas palavras de condenação. “O Carlos Moedas, que é um excelente candidato, merecia mais: merecia que o CDS não tivesse saneado alguns dos seus melhores, dos que mais conhecem o terreno, dos que mais trabalhara­m por Lisboa. E o CDS Lisboa, que todos os dias de há muitos anos para cá vai construind­o alternativ­a e partido,

merecia mais consideraç­ão e respeito”, escreveu, também nas redes sociais.

Outro nome que já se pronunciou foi Pedro Mota Soares, que defendeu que a lista da coligação fica “mais pobre” com uma decisão que “não reconhece o mérito, a sensibilid­ade social, a capacidade de trabalho e o conhecimen­to dos temas de alguém que já deu e quer continuar a dar o melhor de si à sua cidade”. Na última terça-feira, em reunião da Comissão Política do partido, Nuno Melo também já tinha falado em “saneamento” .

Ao DN, Filipe Anacoreta Correia, presidente do Conselho Nacional do partido, que ocupará o segundo lugar na lista da coligação liderada por Carlos Moedas, não quis comentar as críticas, afirmando que “O foco e o empenho é na candidatur­a do engenheiro Carlos Moedas.” “É uma candidatur­a forte que queremos que ganhe Lisboa. Tudo o resto são distrações.”

Na direção, a não inclusão de Gonçalves Pereira nas listas é justificad­a com a necessidad­e de renovação. Um dirigente do partido lembra que nas listas da coligação, quer entre os nomes do PSD quer nos do CDS, ninguém transita da atual vereação. “As pessoas não têm direito aos lugares, não se podem instalar neles, é legítimo que se queira fazer uma renovação”, argumenta a mesma fonte.

Com o congresso ordinário marcado para o início de 2022, a incógnita está em saber se o conclave mantém a data prevista, ou se será antecipado. Sobre o que não sobram dúvidas é que Rodrigues dos Santos terá pela frente um candidato da “ala crítica”, previsivel­mente Nuno Melo. O eurodeputa­do já admitiu avançar na corrida e não lhe faltarão apoios dos críticos. Nesta quinta-feira, Nuno Magalhães, antigo líder parlamenta­r, que tem mantido o silêncio desde que deixou a bancada, veio também criticar a direção, depois de ter sido visado na reunião da Comissão Política. “Um partido que usa órgãos internos para insultar ex-dirigentes dificilmen­te terá futuro”, disse ao jornal online Observador. E disse mais: “Nuno Melo dará um bom presidente do partido caso queira e caso os militantes o desejem.”

João Gonçalves Pereira soube “pela imprensa” de uma decisão que diz ser uma “opção exclusiva da atual direção” do CDS, liderada por Rodrigues dos Santos.

Filipe Anacoreta Correia, número dois da lista a Lisboa, diz que “o foco é na candidatur­a de Carlos Moedas”. O resto “são distrações”.

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Gonçalves Pereira deixou o parlamento em março, para se “dedicar de corpo e alma ao combate autárquico”. Ficou fora das listas.

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