Retalhos de contradições
Oinício da libertação total da pandemia e das suas medidas restritivas, anunciado nesta semana após mais um Conselho de Ministros, deverá trazer um novo fôlego à economia. E, já agora, também ao Partido Socialista, que a poucos meses das eleições autárquicas vê a sua popularidade voltar a subir. Mas voltemos à economia. O verão já deveria ter reanimado o tecido empresarial, uma vez que trouxe consigo uma vontade de desconfinamento; porém, os sinais emitidos pela economia continuam a ser contraditórios. Segundo o Instituto Nacional de Estatística e a estimativa rápida divulgada ontem, a economia portuguesa cresceu a dois dígitos entre abril e junho, com uma aceleração homóloga de 15,5%, representando o maior crescimento trimestral desde 1996. A explicar esta evolução estão “as restrições sobre a atividade económica em consequência da pandemia que se fizeram sentir de forma mais intensa nos primeiros dois meses do segundo trimestre de 2020, conduzindo a uma contração sem precedente da atividade económica”, pormenoriza o INE. Contudo, logo no mês seguinte, a atividade económica voltou a fraquejar (mais precisamente, na terceira semana de julho), acompanhando o alargamento de um maior confinamento a mais concelhos do continente; segundo dados do Banco de Portugal (BdP). Por essa altura, o governo colocou no nível de risco elevado e muito elevado 116 concelhos, ou seja, mais 26 do que na semana anterior. Assim, depois da recuperação logo a seguir ao fim do segundo confinamento geral, em meados de março, o indicador diário DEI (lançado recentemente pelo BdP para identificar facilmente alterações abruptas na atividade económica)tem apresentado sucessivas oscilações, com avanços e recuos. Na semana terminada a 25 de julho, registou-se uma queda homóloga de 0,6%, que compara com uma variação nula uma semana antes, a 18 de julho.
E há mais um dado para baralhar as contas aos economistas: o emprego está ao nível mais alto de mais de duas décadas, ou seja, a população empregada terá atingido em junho o número de 4 793 600 pessoas, avança o INE nas últimas estimativas mensais de emprego.
Tal como na gestão da pandemia, a economia tem tido fortes avanços e recuos, de forma imprevisível e pouco sustentada. Mas, ao contrário do governo, não está pronta para “parar ou recuar se for necessário” e muito menos para voltar a puxar do “travão de mão”, expressões usadas nos últimos meses pelo primeiro-ministro. Carregar no acelerador é a única via para salvar o país.
O plano de libertação total da pandemia deverá trazer novo fôlego à economia nacional e, já agora, ao Partido Socialista, a poucos meses das eleições autárquicas.