Diário de Notícias

Daniela Melchior “Adorei que a Ratcatcher fosse portuguesa e que pudesse manter o meu sotaque”

- ENTREVISTA RUI PEDRO TENDINHA dnot@dn.pt

Daniela Melchior, a surpreende­nte protagonis­ta de O Esquadrão Suicida, de James Gunn, mostra novamente que os atores portuguese­s estão em alta no panorama internacio­nal do cinema. Na quinta-feira chega o mais insano e delirante blockbuste­r dos últimos anos.

Por um acaso um agente na América viu Parque Mayer, de António-Pedro Vasconcelo­s, e ficou de olho em Daniela Melchior. Por um outro acaso, houve uma self-tape (casting autogravad­o) que foi parar às finalistas para o papel de Ratcatcher 2 no novo The Suicide Squad / O Esquadrão Suicida. De repente, por acaso ou não, esta rapariga da margem sul de Lisboa é uma das protagonis­tas do maior filme de verão da Warner, ao lado de Margot Robbie, Sylvester Stallone, Viola Davis ou Idris Elba.

Esta Daniela Melchior ou é a miúda mais sortuda do mundo aos 24 anos ou tem qualquer coisa. Se a segunda hipótese era algo que não se percebia nas novelas da TVI ou na pequena participaç­ão em

O Caderno Negro, produção de Paulo Branco dirigida por Valeria Sarmiento, agora o talento é flagrante. A atriz portuguesa rouba todas as cenas ao lado de John Cena, Idris Elba ou do tubarão de Stallone. Uma supervilã com o poder de controlar ratazanas que se torna heroína num espetáculo de super-heróis que reinventa a fórmula DC Comics e coloca estas personagen­s de supervilõe­s em missão do Estado americano num dispositiv­o de insurreiçã­o extrema e com humor com surrealism­o pop, ou não fosse realizado e escrito por James Gunn, cineasta que deu fôlego série B à Marvel nos filmes da franquia Guardiões da Galáxia.

Além da presença protagonis­ta de Daniela, Portugal também entra na história com uma surpresa com

TaikaWaiti­ti ao barulho. De Los Angeles via telefone, a nova estrela de Hollywood abriu o livro sobre este seu conto de fadas.

Como conseguiu este papel com uma self-tape, perguntava qual o segredo para uma destas gravações perfeitas?

Diria que menos é mais! Diria também para dispensare­m objetos, sobretudo se não forem muito importante­s para a cena. Para as atrizes, também cuidado com a maquilhage­m: menos é mais... Mas o essencial é ter muito bem presente o texto e tudo estar bem estudado, ou seja, não inventar. O que conta é a nossa versão, a nossa interpreta­ção.

Depois de já ter visto o filme e de ter percebido que as reações são boas [no barómetro dos críticos americanos o Rotten Tomatoes chegou a atingir 100% de críticas favoráveis], sente que tudo isto é um conto de fadas? A Daniela ainda se belisca?!

Ainda não me caiu a ficha! Na altura, no primeiro dia em que conheci o James Gunn e todos aqueles atores, não estava a perceber toda a dimensão do projeto. Já vi o filme duas vezes e ainda não percebi o que me está a acontecer! Creio que é bom continuar com essa inocência...

E como é que aconteceu isso de a sua Ratcatcher ser portuguesa? Na verdade, o James Gunn queria que a personagem tivesse a nacionalid­ade da atriz. Antes de mim, tinha pensado numa francesa e, mais tarde, numa latina. Adorei que a Ratcatcher fosse portuguesa e que pudesse manter o meu sotaque.

Estar num grande blockbuste­r de Hollywood já está a produzir efeitos práticos de outras propostas? A meio da rodagem assinei com a agência de atores CAA e tive logo uma equipa de três agentes a tratar de mim! Já comecei a receber muitas propostas. Posso dizer que já aceitei alguns filmes mas ainda não é nada oficial. Sem o filme estrear já estou com trabalho nos EUA neste e no próximo ano...

E como é que uma jovem da Margem Sul tem agora a responsabi­lidade de ser um ídolo para os mais jovens em todo o mundo?

Para mim é muito bom. Tenho andado a pensar muito e isto que me está a acontecer mostra que o importante não é andar nas melhores escolas, ter os melhores contactos e assim... A verdade é que tirei o meu curso profission­al numa secundária em Almada. Em castings, em Portugal, perguntava­m-me se tinha andado no Conservató­rio ou na Escola do Teatro de Cascais... Nada disso me impediu de ter ido para fora. Gosto de sentir que sou um exemplo para os jovens da Margem Sul e de perceber que a vida não se baseia nos mestrados e em andar nas melhores escolas.

E será que é uma espécie de statement, recado seu, o facto de logo a seguir a ter sido a Ratcatcher entrar como protagonis­ta num produto de ficção da TVI, Pecado?

Nunca foi uma ambição minha fugir de Portugal. Aliás, nunca quis ambicionar nada, o que gosto é de representa­r. Faço questão de dizer que a minha porta em Portugal continua aberta. O importante é ter desafios interessan­tes.

Já sonhou com um filme, um spin-off apenas da Ratcatcher?

Claro que sim! E alguns desses sonhos foram lúcidos mas os fãs é que mandam. Estou muito curiosa para saber como é que as pessoas vão reagir à personagem...

Está desde a semana passada nos EUA a fazer entrevista­s em formato maratona... Como é que se lida com tanta imprensa e atenção? Lida-se muito bem! Sou muito sortuda pois estou a falar sobre algo do qual me orgulho muito. A mim sabe-me bem sobretudo as entrevista­s em que estou ao lado dos meus colegas atores. Sabe tão bem revê-los. De todos, se calhar aquele com quem tive mais conexão, foi o Idris Elba.

E teve a noção de que estava a fazer um filme de super-heróis com algo de transgress­ivo? Quase um filme de super-heróis para quem não gosta de super-heróis...

O James Gunn faz bons filmes, ponto final. Não interessa se o espectador conhece ou não as histórias da BD ou se viu outros filmes da DC... Quem não é fã deste universo vai adorar esta viagem alucinante.

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Daniela Melchior destaca a “conexão” com o ator Idris Elba.

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