Diário de Notícias

Português vive o sonho americano na NBA. Viagem da Amoreira até à liga mundial do basquetebo­l

BASQUETEBO­L Português foi escolhido pelos Sacramento Kings em 39.º lugar no draft e, segundo Ticha Penicheiro, vai para a cidade certa para ter sucesso. Longe vão os tempos em que ia a pé para os treinos no Barreirens­e com 10 anos.

- TEXTO ISAURA ALMEIDA isaura.almeida@dn.pt

Onúmero 39 é a partir de agora o preferido de Neemias Queta! Foi nesse lugar que foi escolhido no draft da NBA pelos Sacramento Kings e fez história no basquetebo­l português. Ficou a nove lugares da entrada direta (que garantia contrato de cinco anos e um valor mínimo de um milhão de euros)."Mal posso esperar por ir para Sacramento.Vamos, Kings!", escreveu o jogador no Instagram, já depois de falar à SportTV: “Estou muito contente. Foi Lindo. Já esperava por este dia há muito tempo.”

A época 2021-22 arranca só a 19 de outubro e ele ainda pode ser trocado, mas o mais provável é que assine um too way contract – pode jogar na G-League e na NBA ao mesmo tempo. Os Kings não têm postes e Neemias pode preencher um vazio. Para já fica em Sacramento, onde já reinou Ticha Penicheiro (campeã daWNBA em 2005).“Antes de ser ex-jogadora de basquete e dos Sacramento Monarchs sou portuguesa e tenho muito orgulho no Neemias. Acho que todos os portuguese­s estavam a torcer por ele desde que se apresentou ao draft pela primeira vez em 2019”, disse ao DN a ex-jogadora, lembrando que por vezes “o universo conspira a favor” e “arranja coincidênc­ias felizes”.

Os Kings são vistos como exemplo de gestão, mas desportiva­mente andam arredados do topo há muito. Há 15 anos que não vão aos play-off (recorde da NBA, em igualdade com os Clippers). A última vez foi em 2006: “Acho que é a cidade perfeita para ele começar na liga mais competitiv­a do mundo porque não há tantas distrações sociais como em Nova Iorque, Miami ou Chicago e os adeptos são incríveis e apoiam muito.”

Como é agente da WNBA (liga feminina de basquetebo­l feminina dos EUA) foi acompanhan­do o desempenho de Neemias nos Aggies e já estava à espera que fosse escolhido na segunda ronda. “Ele tem muito potencial físico e apesar de ser verdade que há muitas equipas que já não usam postes, há jogadores mais defensivos, como o francês Rudy Gobert dos Utah que tem tido uma carreira incrível na NBA”, explicou a portuguesa.

Neemias vai mostrar-se com a camisola dos Kings no Califórnia Classics (3 e 4 de agosto) e na Summer League em Las Vegas (começa a 10 de agosto): “Vai ter a oportunida­de de mostrar a toda a gente que Sacramento não cometeu um erro ao escolhê-lo.”

Ia a pé para os treinos

Quetão, como é conhecido Neemias Queta Barbosa, vive o sonho americano. Começou a jogar no Barreirens­e com dez anos "por diversão". E só aos 17 começou a levar o basquetebo­l "mais a sério". O ex-diretor do basquetebo­l do Barreirens­e, Paulo Silvestre, lembrou esses tempos em 2018, ano em que o DN deu a conhecer o português que brilhava no campeonato universitá­rio: "Uma criança que chede gou pelo próprio pé a querer experiment­ar o basquetebo­l, na altura era o minibasque­te. Um miúdo especial, jovem extremamen­te humilde, que gosta de aprender e com grande dedicação ao basquetebo­l."

De tal maneira que não deixou de ir aos treinos, mesmo se ia a pé: "O Neemias muitas vezes ia a pé para o treino e ainda era uma distância consideráv­el de casa dele até ao pavilhão. A família tinha algumas dificuldad­es, mas a perseveran­ça dele nunca o deixou desistir. Isso mostra a vontade de superar as pedras que a vida lhe ia colocando no caminho e fez-se homem assim, à custa dele próprio. E é preciso dizer que a família dele, apesar pessoas humildes, muito trabalhado­ras, sempre foi muito unida e preocupada com ele, com a sua educação."

Aos 18, e depois de uma ida à seleção sub-18, mudou-se para o Benfica, clube onde jogou até aparecer a oportunida­de de se mudar para os EUA. Com 22 anos e 2,11 metros, mãos grandes e braços longos, em 2018 foi para a Universida­de de Utah State graças a uma bolsa universitá­ria para jogar nos Aggies. Fez pela vida no campeonato universitá­rio, sempre com a NBA no horizonte. Em 2019 abriu o coração ao DN e confessou que, para ele, "um desarme é das melhores coisas que se pode fazer" e que "gostava de ser um jogador com grande potencial na NBA e chegar ao hall of fame".

Um sonho que parecia impossível a muitos, mas não para Neemias. Muito se riram na cara dele quando o disse, como confessou no podcast Bola ao Ar:"Quando dizia que queria chegar à NBA, houve pessoas que se riram na minha cara, houve pessoas que disseram que não era possível. E eu não me preocupei com isso. Tens de acreditar no que tu achas que és capaz de fazer."

O bom gigante doVale da Amoreira, onde já foi eternizado num mural, vai concretiza­r o sonho, que foi de Carlos Lisboa, nos anos 1980 e de Betinho em 2005. A partir de agora, Portugal está no mapa da NBA.

“Antes de ser ex-jogadora de basquete e dos Sacramento sou portuguesa e tenho muito orgulho no Neemias. Acho que todos os portuguese­s estavam a torcer por ele desde que se apresentou ao draft pela primeira vez 2019.”

“Acho que é a cidade perfeita [Sacramento] para ele começar na liga mais competitiv­a do mundo porque não há tantas distrações sociais como em Nova Iorque, Miami ou Chicago e os adeptos são incríveis e apoiam muito.”

Ticha Penicheiro

Ex-jogadora da WNBA

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 ??  ?? Aos 22 anos, Neemias Queta chega à mais espetacula­r liga de basquetebo­l do mundo e onde nenhum outro português entrou.
Aos 22 anos, Neemias Queta chega à mais espetacula­r liga de basquetebo­l do mundo e onde nenhum outro português entrou.

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