O diálogo a cinco
Oanúncio do fim da Guerra Mundial de 1939-1945, para o qual sempre recordo o inspirado anúncio de um jornal francês, com a afirmação de que se tratava de “um anúncio feliz cheio de lágrimas”, sentimento que apoiou reconstruir o projeto mundial de uma paz global. Foram e continuam a ser necessárias as instituições que participam no esforço de realmente implantar, para todas as espécies humanas, a dignidade, o direito e a justiça. Numa data, a nossa, em que na própria União Europeia se discute se a Europa está a caminho de “refazer-se ou desfazer-se”, encontrei lembrança na Universidade de Salamanca, na estrutura chamada Diálogo a Cinco, criada em 2013, e ali organizada na Faculdade de Direito da Complutense. A iniciativa defendeu que, mesmo nas ações regionais, devem intervir representantes de ministérios importantes (Negócios Estrangeiros, Justiça, Educação, Ministério da Cultura) com três líderes religiosos e quatro académicos. A universidade organizou a sua conferência internacional, seguindo o critério estabelecido, insistindo no tema dos direitos humanos, da liberdade religiosa e nas minorias.
Embora estes temas fossem parte da utopia da ONU, tudo parece afetado pela crise global do ataque da covid-19, que já obrigou a recorrer à experiência das Forças Armadas, e o conjunto de iniciativas que se multiplicaram, sendo um excelente relatório o livro Consciência e Liberdade, publicado entre nós em 2020 pela Associação Internacional para a Defesa da Liberdade Religiosa. É inquietante porque chegámos a um tempo em que o professor Francisco Bethencourt, no King’s College de Londres, declarou: “Desprezo os políticos do ódio.” Na dureza da expressão na resposta ao Questionário de Proust, cabe não apenas a pandemia de covid-19, em relação à qual Sansonetti (Colégio de França) afirma que “la santé n’est pas une priorité politique”, embora esteja a ser uma questão definida como tendo já influência na defesa francesa. O discurso da doutora Azza Karam, destacando o efetivo papel da UNESCO, concluiu que foi orientação na conferência da Complutense, onde assumiu que “partilha entre minorias religiosas, refugiados e migrantes têm necessidade de proteção e definição do quadro” (Consciência e Liberdade, pág. 109).
Mas o mais inquietante para as opiniões públicas é que o discurso dos cinco, entre as circunstâncias que afetam o fortalecimento do projeto, aparecem os factos que projetam a previsão dos graves conflitos militares nas reprovadas, reciprocamente, declarações de interesse próprio ou declarações pesadamente responsáveis dos abordados conceitos estratégicos dos competidores mundiais, com o destaque das ainda chamadas grandes potências, tendo como atenção por vezes mais agressiva a China.
Se nas palavras da UNESCO, a lutar pelos valores que assumiu e serviu, se destaca e tem interesse mundial alertar com eles as populações de todas as etnias, são de verdadeira clareza, oportunidade e autenticidade as do secretário-geral Guterres a pregar contra a debilidade da obediência aos objetivos da ONU desde que anunciada a alegria da paz da Guerra de 1939-1945, com lágrimas pelo sofrimento que os povos sofreram. Articula as duas realidades, a do “discurso dos cinco” e o princípio da cooperação geral dos membros da ONU, um dever afetado pelo último presidente dos EUA.
Os valores do “discurso dos cinco” também são do acolhimento, mas foi o dever da ONU que abriu um espaço de meditação para todas as religiões. Todavia acontece que, desde Paulo VI, primeiro a ser recebido na Assembleia Geral, que apenas os papas ali foram chamados a falar sobre a reformulação da estrutura de convívio em paz e igual dignidade, de todos os habitantes da Terra.
Todavia, sendo várias as crises de combate militar, ou simplesmente terrorista, a China, pelos seus adversários identificados, é acusada de procurar posição dominante entre os Estados africanos: no Parlamento Europeu um deputado, na data dos 100 anos do Partido Comunista Chinês, discursou para afirmar que a China representa uma ameaça para a paz do mundo. “A China que hoje assume referir a Nação Chinesa”, tem a possibilidade de valorizar o discurso do secretário-geral da ONU, e uso do seu conteúdo, que se espera vir a ser mundialmente valorizado. A circunstância mundial, em que é exemplo a Complutense, conseguiria um esforço com a China para que o chamado “discurso do ódio” se substitua para fazer restaurar as previsões inquietantes, para os efetivos novos agravamentos da situação mundial. Não é boa diplomacia que o tal ameaçante discurso leve a China a assumir todos os desafios. Que a incluirá entre as vítimas.
Tudo parece afetado pela crise global do ataque da covid-19, que já obrigou a recorrer à experiência das Forças Armadas.