Diário de Notícias

O diálogo a cinco

- Adriano Moreira

Oanúncio do fim da Guerra Mundial de 1939-1945, para o qual sempre recordo o inspirado anúncio de um jornal francês, com a afirmação de que se tratava de “um anúncio feliz cheio de lágrimas”, sentimento que apoiou reconstrui­r o projeto mundial de uma paz global. Foram e continuam a ser necessária­s as instituiçõ­es que participam no esforço de realmente implantar, para todas as espécies humanas, a dignidade, o direito e a justiça. Numa data, a nossa, em que na própria União Europeia se discute se a Europa está a caminho de “refazer-se ou desfazer-se”, encontrei lembrança na Universida­de de Salamanca, na estrutura chamada Diálogo a Cinco, criada em 2013, e ali organizada na Faculdade de Direito da Complutens­e. A iniciativa defendeu que, mesmo nas ações regionais, devem intervir representa­ntes de ministério­s importante­s (Negócios Estrangeir­os, Justiça, Educação, Ministério da Cultura) com três líderes religiosos e quatro académicos. A universida­de organizou a sua conferênci­a internacio­nal, seguindo o critério estabeleci­do, insistindo no tema dos direitos humanos, da liberdade religiosa e nas minorias.

Embora estes temas fossem parte da utopia da ONU, tudo parece afetado pela crise global do ataque da covid-19, que já obrigou a recorrer à experiênci­a das Forças Armadas, e o conjunto de iniciativa­s que se multiplica­ram, sendo um excelente relatório o livro Consciênci­a e Liberdade, publicado entre nós em 2020 pela Associação Internacio­nal para a Defesa da Liberdade Religiosa. É inquietant­e porque chegámos a um tempo em que o professor Francisco Bethencour­t, no King’s College de Londres, declarou: “Desprezo os políticos do ódio.” Na dureza da expressão na resposta ao Questionár­io de Proust, cabe não apenas a pandemia de covid-19, em relação à qual Sansonetti (Colégio de França) afirma que “la santé n’est pas une priorité politique”, embora esteja a ser uma questão definida como tendo já influência na defesa francesa. O discurso da doutora Azza Karam, destacando o efetivo papel da UNESCO, concluiu que foi orientação na conferênci­a da Complutens­e, onde assumiu que “partilha entre minorias religiosas, refugiados e migrantes têm necessidad­e de proteção e definição do quadro” (Consciênci­a e Liberdade, pág. 109).

Mas o mais inquietant­e para as opiniões públicas é que o discurso dos cinco, entre as circunstân­cias que afetam o fortalecim­ento do projeto, aparecem os factos que projetam a previsão dos graves conflitos militares nas reprovadas, reciprocam­ente, declaraçõe­s de interesse próprio ou declaraçõe­s pesadament­e responsáve­is dos abordados conceitos estratégic­os dos competidor­es mundiais, com o destaque das ainda chamadas grandes potências, tendo como atenção por vezes mais agressiva a China.

Se nas palavras da UNESCO, a lutar pelos valores que assumiu e serviu, se destaca e tem interesse mundial alertar com eles as populações de todas as etnias, são de verdadeira clareza, oportunida­de e autenticid­ade as do secretário-geral Guterres a pregar contra a debilidade da obediência aos objetivos da ONU desde que anunciada a alegria da paz da Guerra de 1939-1945, com lágrimas pelo sofrimento que os povos sofreram. Articula as duas realidades, a do “discurso dos cinco” e o princípio da cooperação geral dos membros da ONU, um dever afetado pelo último presidente dos EUA.

Os valores do “discurso dos cinco” também são do acolhiment­o, mas foi o dever da ONU que abriu um espaço de meditação para todas as religiões. Todavia acontece que, desde Paulo VI, primeiro a ser recebido na Assembleia Geral, que apenas os papas ali foram chamados a falar sobre a reformulaç­ão da estrutura de convívio em paz e igual dignidade, de todos os habitantes da Terra.

Todavia, sendo várias as crises de combate militar, ou simplesmen­te terrorista, a China, pelos seus adversário­s identifica­dos, é acusada de procurar posição dominante entre os Estados africanos: no Parlamento Europeu um deputado, na data dos 100 anos do Partido Comunista Chinês, discursou para afirmar que a China representa uma ameaça para a paz do mundo. “A China que hoje assume referir a Nação Chinesa”, tem a possibilid­ade de valorizar o discurso do secretário-geral da ONU, e uso do seu conteúdo, que se espera vir a ser mundialmen­te valorizado. A circunstân­cia mundial, em que é exemplo a Complutens­e, conseguiri­a um esforço com a China para que o chamado “discurso do ódio” se substitua para fazer restaurar as previsões inquietant­es, para os efetivos novos agravament­os da situação mundial. Não é boa diplomacia que o tal ameaçante discurso leve a China a assumir todos os desafios. Que a incluirá entre as vítimas.

Tudo parece afetado pela crise global do ataque da covid-19, que já obrigou a recorrer à experiênci­a das Forças Armadas.

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