Marcelo sabe falar aos 212 milhões de brasileiros
Serão 280 milhões os falantes atuais de português, arriscou responder Luís Faro Ramos, então presidente do Instituto Camões, numa entrevista que lhe fiz no ano passado a pretexto da primeira celebração do 5 de maio como Dia Mundial da Língua Portuguesa. E mesmo alertando para as previsões do crescimento exponencial do número de lusófonos em África ao longo do século XXI, não deixou de destacar o quanto pesa e continuará a pesar o Brasil, com 212 milhões de habitantes, nesta língua nascida num recanto da Península Ibérica e que se espalhou com as caravelas. Hoje, Luís Faro Ramos é embaixador em Brasília e, coerente, tem afirmado e reafirmado que “o Brasil é o navio-almirante da língua portuguesa” e que o esforço de promoção do idioma, até possivelmente a língua oficial das Nações Unidas, passa por uma cooperação estreita entre os dois países, também, claro, envolvendo todos os outros membros da CPLP, a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa.
A importância dada por Portugal à reinauguração, neste sábado, do Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, assim como a componente cultural das celebrações, em 2022, do bicentenário da independência brasileira (que incluirão Portugal como país convidado da Bienal do Livro de São Paulo), mostram bem ser este um campo de excelência para reforçar a relação bilateral. O sucesso de escritores portugueses no outro lado do Atlântico e de brasileiros por cá é a prova disso, e são muitos os nomes a somar aos clássicos Eça e Machado de Assis. Também emociona que um dos mais emblemáticos símbolos de Portugal no Brasil seja obra da emigração pós-grito do Ipiranga – o Real Gabinete Português de Leitura, localizado no Rio de Janeiro e uma das mais belas bibliotecas do mundo.
E pela língua certamente se conseguirá que outros interesses comuns se desenvolvam, a começar pela economia, e volto ao embaixador Luís Faro Ramos, que ainda recém-chegado a Brasília, numa entrevista à Folha de S. Paulo, afirmou que “somos porta-vozes do Brasil na União Europeia”, referindo-se ao acordo Mercosul-UE.
No mesmo jornal, o mais influente do Brasil, em artigo de opinião, há dias, o ministro dos Negócios Estrangeiros português, em teoria falando só de cultura, foi ainda mais abrangente: “A cooperação entre os povos português e brasileiro pode ser assemelhada a uma árvore. Com tronco robusto, que é a língua comum. Com os seus ramos, que são as áreas de partilha e ação. Com flores vistosas e frutos saborosos, que são os resultados que vamos produzindo e colhendo”, escreveu Augusto Santos Silva.
De parabéns, portanto, Marcelo Rebelo de Sousa. Nesta sua ida ao Brasil, esteve na inauguração do museu com os antigos Presidentes Fernando Henrique Cardoso e Michel Temer e segunda-feira reunir-se-á em Brasília com o Presidente, Jair Bolsonaro. Antes encontrou-se ainda com Lula da Silva, outro antigo Presidente brasileiro.
Para Portugal, o Brasil sempre será prioridade. O nosso Presidente deixou isso bem evidente e aos brasileiros não custa nada perceber os seus atos e muito menos as suas palavras. Diplomático, em bom português.