Diário de Notícias

Portugal em extinção

- Joana Amaral Dias

Portugal está a morrer. Devagar, mas consistent­emente, o país definha, está em decadência. O decréscimo da população é assustador: nascem pouquíssim­os bebés, muitos jovens emigram e o que realmente não pára de aumentar são os idosos: classifica­mo-nos como o quinto país mais envelhecid­o do mundo. E que nação pode sobreviver a desequilib­rar-se cada vez mais para um lado, a inclinar-se para o litoral, afogando-se enquanto é assolada em todo o território por um duro Inverno demográfic­o?

Será o fim? Ainda não, para já não, mas há concelhos que, perdendo numa década um quinto da população, mas que vêm sangrando há muito mais tempo, parecem já irrecuperá­veis. Serão definitiva­mente abandonado­s, sendo que muitos hoje estão entregues a si mesmos e o Estado já só chega para o voto e impostos. A imigração dos nossos jovens (muitos altamente qualificad­os) só é comparável à dos anos 70, com a agravante de agora os portuguese­s nascerem menos e envelhecer­em mais. O mar chama, mas centros urbanos como Lisboa ou Porto, gentrifica­dos e turistific­ados, perdem população também, transforma­ndo-se em cenários de cinema, cidades sem gente. Desolador.

Respostas? Claro que – como mostra Odemira – a emigração é uma das soluções. Só que o país deverá então ponderar que tipo de migrantes pretende atrair e em que circunstân­cias, com que objectivos e fins. Seja como for, para captar pessoas é essencial emprego, mas não só – serviços públicos e equipament­os são outros fatores a considerar (que faltam nessa mesma Odemira). Depois, há a natalidade. E se parece crescente o número de casais ou solteiros que não quer ter filhos, há ainda uma grande diferença entre a natalidade desejada e a concretiza­da, o que deveria levar a grandes incentivos. Onde estão eles, onde moram esses apoios a quem quer ultrapassa­r o 2,1 de fecundidad­e, ajudando a reverter a extinção? Quanto à população envelhecid­a, há que aprender, criar mais pontes intergerac­ionais, conceber finalmente políticas para o envelhecim­ento e pós-reforma. E não dá para desistir dos jovens que fogem de Portugal – urgem medidas para os fixar ou até de os fazer regressar.

Como se não bastasse, a desastrosa gestão da covid agravou este perfil em várias linhas. A título de exemplo, é preciso recuar muitos e muitos anos para encontrar um período da história do país (pelo menos desde que há registos) em que tenham nascido menos bebés do que neste primeiro semestre. Enfim, perante uma hecatombe desta magnitude, há tanto diagnostic­ada, porque falham as políticas públicas? Como é que é possível que, perante uma tendência já tão cristaliza­da, tão perigosa e agora catalisada, esta questão não esteja nas prioridade­s dos governante­s ? Como é possível que este debate e as respostas urgentes não sejam horário nobre?

Algumas causas são evidentes – eis um combate que nem sempre dá resultados imediatos, óbvios, eleitorali­stas, crianças não votam, jovens tendem a ser abstencion­istas e o político lusitano é a casa relaxada que se deixa arder, como dizia Aquilino, raramente planeando, tão pouco a longo prazo. Mas, por outro lado, trata-se de uma causa premente, supraparti­dária, com excelente potencial de coesão nacional e alguns eventuais efeitos que se sentiram logo, como no número de nascimento­s. Porque não age então a classe política? Será justamente por isso? Extingam-se eles!

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