“Vamos construir o futuro a partir das cinzas do passado”, diz Marcelo
Presidente discursou na reinauguração, depois do incêndio de 2015, do Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo. Pelo meio, reuniu-se com Lula, Temer e Fernando Henrique Cardoso. Amanhã tem encontro oficial com Bolsonaro.
S “eis anos volvidos, aqui viemos, não para esquecer as cinzas do passado, mas para a partir delas construirmos o futuro”, disse Marcelo Rebelo de Sousa, em discurso, ontem, na reinauguração do Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, depois do incêndio que parcialmente o destruiu, em 2015.
“Esta celebração é uma celebração do futuro, o nosso futuro, o futuro da nossa língua em comum”, prosseguiu o presidente de Portugal, no ponto mais alto de uma visita oficial ao Brasil – a sua quinta enquanto chefe de estado – de quatro dias. “Aqui viemos para dizer que uma língua é uma alma feita de milhões de almas, pela qual se ama, se sofre, se cria, se chora, se ri, se pensa, se escreve, se fala”, concluiu, momentos antes de agraciar a instituição com a primeira medalha Camões.
Um dos primeiros museus no mundo totalmente dedicados a um idioma, o Museu da Língua Portuguesa é localizado na Luz, região central da cidade que, com mais de 12 milhões de habitantes, tem o maior número de falantes do português no mundo. No total são 260 milhões de utilizadores da língua em todo o planeta.
No dia 21 de dezembro de 2015, boa parte do espólio da instituição ardeu num incêndio que vitimou um bombeiro paulistano. A reconstrução foi uma realização do Ministério do Turismo e do Governo de São Paulo, concebida pela Fundação Roberto Marinho e pela EDP, patrocinadora master.
Além de Marcelo, estiveram na inauguração o presidente de Cabo Verde, Jorge Carlos Fonseca, e os ex-presidentes do Brasil, Fernando Henrique Cardoso e Michel Temer, com quem Marcelo manteve reuniões ao longo do dia. E João Doria, governador de São Paulo e pré-candidato à presidência da República em 2022, pelo PSDB, de centro-direita: “Penso ser especialmente emblemático o facto de devolvermos aqui o Museu da Língua Portuguesa à sociedade, devolvendo a São Paulo, ao Brasil e aos países da língua portuguesa esse belíssimo museu em meio ainda a uma pandemia que apenas no Brasil já dizimou mais de 553 mil brasileiros”.
Bolsonaro em “motociata”
Jair Bolsonaro, presidente do Brasil, não esteve na cerimónia nem se fez representar. À mesma hora, participava numa “motociata” – passeio coletivo de motos – em Presidente Prudente, também no estado de São Paulo mas a 600 km do museu. “Preferiu andar de moto...”, sublinhou Doria, rival político de Bolsonaro, antes de destacar o papel na democracia brasileira dos presentes Fernando Henrique Cardoso e Temer e de revelar os ex-presidentes ausentes, Lula da Silva, Dilma Rousseff e José Sarney, enviaram mensagens de apoio.
Marcelo Rebelo de Sousa terá encontro oficial com Bolsonaro amanhã, em Brasília, cidade para onde parte já hoje. Ontem ainda, o presidente português encontrou-se com Lula, tal como Bolsonaro e Doria, provável candidato nas eleições de 2022. Por isso, foi perguntado, sobretudo pela imprensa brasileira, sobre o que lhe dissera o presidente brasileiro de 2003 a 2010, neste momento o líder das sondagens para esse pleito, sobre o tema.
“Em Portugal, estamos todos - o Presidente da República em primeiro lugar, mas também o Governo e todos os setores políticos - empenhados num melhor relacionamento com o Brasil e no aprofundamento do papel da língua portuguesa quer na comunidade que a fala quer no mundo”, começou por dizer Marcelo. “Esse é o objetivo da minha vinda cá e destes encontros”, reforçou.
O significado da viagem “não se põe ao nível do Presidente Marcelo ou do Presidente Jair Bolsonaro ou dos antigos Presidentes Lula da Silva, Michel Temer ou Fernando Henrique Cardoso mas a nível de povos e estados, uma realidade muito mais duradoura e ficamos felizes por responsáveis brasileiros, que o foram e que o são, estarem empenhados nesse mesmo objetivo”.
Sobre Lula, disse que “ouviu” e “registou” a visão do antigo presidente considerando-a importante para “o juízo” a fazer sobre o país.
“O importante é registar o ponto de vista de quem foi Presidente do Brasil e continua a acompanhar a situação no Brasil, as relações com Portugal e a situação internacional”, afirmou Marcelo.
Lula divulgou posteriormente, nas redes sociais, uma fotografia com o chefe de Estado português. “Diálogo fraterno com o Presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, que chegou hoje ao Brasil para participar da inauguração do Museu da Língua Portuguesa. Conversámos muito sobre as relações Brasil-Portugal e União Europeia. Um agradável encontro”.
Marcelo Rebelo de Sousa sobre Lula da Silva, com quem se encontrou, disse que “ouviu” e “registou” a visão do antigo presidente considerando-a importante para “o juízo” a fazer sobre o país.