DIVERSIDADE
Até final de 2021, o mais pequeno e esquivo mamífero marinho do mundo deverá ser considerado extinto. As redes de pesca ilegais e a “cocaína do mar” estão a condenar esta toninha, com cerca de um metro e meio de comprimento, pertencente à família das bale
Omar de Cortez, no México, é considerado um dos locais mais ricos em diversidade animal, mas estas águas estão a tornar-se mais silenciosas por causa do desaparecimento de algumas espécies de peixe, como o totoaba/vaquita. Calcula-se que restem apenas 10 indivíduos desta espécie de toninha por causa das redes de pesca ilegais que tentam apanhar o totoaba, um peixe cujo único valor comercial reside na bexiga natatória, um órgão preenchido com um gás que permite ao peixe flutuar. Em 1975, a pesca do totoaba foi proibida, em parte porque se extinguiu comercialmente.
Para Lorenzo Rojas-Bracho, da Comissão Nacional para o Conhecimento e Uso da Biodiversidade do México, é muito difícil falar no totoaba. “O problema que temos agora está centrado na bexiga natatória do peixe, que é utilizada na medicina tradicional chinesa, e as comunidades embarcaram na pesca deste peixe para satisfazerem os pedidos dos chineses que emigraram para a Baja Califórnia”, explica o biólogo marinho. Um negócio que vale milhões de euros, construído a partir de uma teia complexa que envolve pescadores, cartéis de droga e corrupção. Um ecossistema inteiro em risco por causa de uma crença. “É igual comer a bexiga natatória ou roer as unhas”, afirma Lorenzo Rojas-Bracho, “a medicina tradicional chinesa acredita que pode tratar 21 doenças, acreditam que se trata de um tónico que ajuda a tratar a pele, a recuperar depois do parto, a evitar hemorragias, mas não faz absolutamente nada.”
A vaquita alimenta-se de cerca de 22 espécies de peixe e lulas, mas não come totoaba. E quando são analisados os conteúdos dos estômagos dos totoabas e das vaquitas, verifica-se que não comem o mesmo alimento.
Se a vaquita tem alimento à disposição, vive em zonas com pouca poluição e se reproduz bem, então porque está em vias de extinção?
Começámos a conversar com o biólogo marinho Lorenzo Rojas-Bracho em 2019. Desde essa altura que a situação desta toninha se tem vindo a degradar rapidamente. Em 2018, a estimativa apontava para seis a 19 animais, o mais provável era que fossem apenas nove. Em 2021 contam-se 10 indivíduos, sendo que três são crias. Numa população tão pequena, todos os animais são importantes e uma perda é mais um passo enorme no sentido da extinção.
O problema reside no diâmetro da cabeça deste pequeno boto, que é do mesmo tamanho do emaranhado das redes utilizadas para apanhar o totoaba. Esta toninha, como todos os mamíferos marinhos, tem de vir à superfície para respirar, e ao ficar presa nas redes acaba por se afogar.
A rede que é utilizada para apanhar o totoaba é ilegal, proibida. “Desde 1992 que não deveria existir”, explica Rojas-Bracho, “mas a pesca da totoaba nunca acabou. Sempre houve pesca ilegal, porque os chineses pagavam”. Não se percebe muito bem o que fez disparar a procura deste peixe na China continental e em Hong Kong. “Em 2011, 2012, começámos a receber chamadas de amigos pescadores que nos diziam que algo de grave estava a acontecer, porque pescadores muito jovens estavam a ganhar muito dinheiro. Chegavam aos mercados com notas de 100 dólares e compravam pick-ups caras. Os pescadores mais velhos, alguns dos quais tinham andado na pesca do totoaba, também se lançaram ao mar”, conta o biólogo marinho.
Atualmente também os cartéis de droga estão envolvidos no negócio, traficando a bexiga natatória do peixe para o mercado asiático e financiando a compra destas redes, que podem custar três mil dólares. “Há muito dinheiro envolvido”, como nos explica Lorenzo Rojas-Bracho, “o preço mais alto que registei por um quilo de bexigas natatórias foi 10 mil dólares (cerca de 9 mil euros). Isto foi o que um pescador nos contou que tinham pago a um amigo dele. Os preços andam pelos 8 mil, 8500 dólares. É mais do que ganha um pescador ou até eu! Não ganho 10 mil dólares por mês, muito menos num dia. Há quem ganhe 116 mil dólares (cerca de 100 mil euros) num só dia de pesca”.
No mercado asiático pode valer 100 mil dólares por quilo, por isso também é conhecida como a “co