Diário de Notícias

“No espaço público, a arte está presente e disponível para todos, de forma gratuita, o que tem um impacto direto na comunidade, seja porque valoriza aquele território, seja porque oferece arte a quem não tem hábitos culturais.”

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Em setembro, Cerami volta a Lisboa para apresentar um a aproximaçã­o entre as pessoas. De uma maneira muito insistente, tenho trabalhado com as comunidade­s mais carentes que estão invariavel­mente nas periferias das cidades porque foram sendo atiradas para lá pelos poderes locais. Em dezembro do ano passado, fui contratado por uma grande empresa italiana (as massas Barilla) para criar uma instalação capaz de gerar uma sensação de calor na comunidade. Recorrendo à mitologia da própria cidade de Nápoles, tentei mostrar que a sereia não só é a primeira migrante da Literatura como também foi uma fundadora de comunidade­s. Isto para dizer o quê? Que o migrante que vem de fora não é um inimigo, mas um fundador. Pessoalmen­te, acredito que as mulheres que chegam agora à Europa, depois de atravessar­em o Mediterrân­eo em condições deplorávei­s, são as fundadoras de uma nova Europa. A partir daí, fiz retratos de mulheres migrantes, só que em vez de as retratar como vítimas, retratei-as como mulheres lindas e com um grande sorriso. Ricardo Campos: Quando pensamos em cidade e em espaço público, temos de o considerar um espaço político na medida em que ali circulam comunidade­s com diferentes representa­ções, imagens, práticas sociais, em que se confrontam a periferia e o centro. Melhor dizendo, o espaço público é tanto de negociação como de conflito. A arte pública tem um papel muito importante a desempenha­r neste contexto.

O espaço público é mais democrátic­o do que uma galeria de arte ou um museu?

R. C.: A arte da galeria, independen­temente da sua qualidade, é mercantil e, por natureza, está fechada. Ou pagamos bilhete, em alguns casos, ou, não o pagando, passamos por uma série de filtros sociais sobre quem deve aceder ou não. No espaço público, a arte está presente e disponível para todos, de forma gratuita, o que tem um impacto direto na comunidaqu­e reconstitu­i uma espécie de cidade utópica, muito colorida, que é a soma das cidades por onde passou.

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A arte urbana é, pela sua própria natureza, pública. Para si, Franz, é também uma forma de intervir na cidade e nas vidas das pessoas? videomappi­ng
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