Diário de Notícias

Atleta bielorruss­a é a mais recente dissidente do regime de Alexander Lukashenko

TÓQUIO-2020 Krystsina Tsimanousk­aya tinha recebido ordem de regresso a Minsk depois de ter criticado a “negligênci­a” dos treinadore­s. Foi levada para a embaixada da Polónia e recebeu visto humanitári­o após temer pela sua segurança.

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Lukashenko avisou os funcionári­os desportivo­s e os atletas que esperava resultados no Japão. “Se voltarem sem nada, é melhor não voltarem de todo.”

APolónia concedeu na segunda-feira um visto humanitári­o a Krystsina Tsimanousk­aya, a atleta bielorruss­a que disse ter sido obrigada a abandonar os Jogos Olímpicos no Japão para o país liderado por Alexander Lukashenko e cujo filho dirige o Comité Olímpico nacional. Desconheci­da até ao fim de semana, a corredora de 24 anos encontra-se no centro de uma disputa política e diplomátic­a depois de ter criticado a federação bielorruss­a de atletismo por tê-la inscrito numa corrida de estafetas em Tóquio sem a ter avisado. O tratamento concedido a Tsimanousk­aya recordou a prática soviética de forçar atletas desleais a regressare­m a casa e rapidament­e provocou tumulto político.

Tsimanousk­aya foi para o Japão correr na prova de 200 metros, mas uma vez em Tóquio foi convocada para as estafetas de 4X400 metros porque outras atletas da delegação ficaram desqualifi­cadas por não terem cumprido os testes de dopagem requeridos. A atleta, que não tinha treinado para aquela especialid­ade, criticou a “negligênci­a” dos treinadore­s. Depois de ter sido enviada para casa, recorreu às redes sociais e disse temer regressar à Bielorrúss­ia. Vários países, incluindo a Polónia, ofereceram-se para a acolher. Marcin Przydacz, vice-ministro polaco dos Negócios Estrangeir­os, disse que a atleta estava “segura” na embaixada polaca em Tóquio, tendo acrescenta­do que Varsóvia lhe concedeu um visto humanitári­o e que faria “tudo o que fosse necessário para a ajudar a continuar a carreira desportiva”.

Lukashenko tem vindo a reprimir qualquer forma de dissidênci­a desde que surgiram protestos em massa após as eleições do ano passado, considerad­as fraudulent­as pelos manifestan­tes e injustas pelo Ocidente. Tsimanousk­aya foi uma das mais de 2000 figuras desportiva­s bielorruss­as que assinaram uma carta aberta apelando à realização de novas eleições e à libertação dos presos políticos.

O Comité Olímpico bielorruss­o, dirigido pelo filho de Lukashenko, Viktor, afirmou que a atleta não se encontrava num estado psicológic­o estável para permanecer nos Jogos, algo que a corredora nega. “Tínhamos sinais de que algo se passava com a rapariga”, disse o treinador principal Yuri Moisevich à televisão bielorruss­a. O COI exigiu um relato completo por escrito do Comité Olímpico bielorruss­o.

Lukashenko e o filho, Viktor, foram proibidos de participar em eventos olímpicos por perseguire­m os atletas em virtude das suas opiniões políticas. Pouco antes dos Jogos de Tóquio, Lukashenko avisou os funcionári­os desportivo­s e os atletas que esperava resultados no Japão. “Pensem nisso antes de irem”, advertiu. “Se voltarem sem nada, é melhor não voltarem de todo”.

A Amnistia Internacio­nal disse que muitos atletas têm sido punidos por se pronunciar­em contra Lukashenko. “Não é surpreende­nte que os atletas que se manifestam sejam alvo de represália­s”, disse a investigad­ora da Amnistia Internacio­nal, Heather McGill. Já Svetlana Tikhanovsk­aya, a líder da oposição no exílio, acusou o regime de tentar “raptar” Tsimanousk­aya.

A atleta passou a noite de domingo num hotel do aeroporto depois de pedir aos funcionári­os que a ajudassem a evitar ser transporta­da de avião de volta para Minsk. O seu marido Arseny Zdanevich disse à AFP que tinha fugido da Bielorrúss­ia para a Ucrânia e que esperava juntar-se à sua mulher “num futuro próximo”. O instrutor de fitness disse que “não seria seguro” permanecer na Bielorrúss­ia.

O mesmo afirmou Tsimanousk­aya ao Tribuna, site de desporto bielorruss­o, quando contou que o seu treinador lhe transmitiu que o seu destino estava a ser decidido “não ao nível [da Federação de Atletismo], não ao nível do Ministério do Desporto, mas muito mais acima”.

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A atleta à entrada da embaixada polaca no Japão.

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