Diário de Notícias

João Vieira marchou, marchou e esteve quase a garantir o bronze

TÓQUIO 2020 Atleta de 45 anos foi quinto nos 50 quilómetro­s marcha, o seu melhor resultado em seis participaç­ões em Jogos Olímpicos. “Não é qualquer um. É o meu topo de carreira”, disse.

- TEXTO NUNO FERNANDES nuno.fernandes@dn.pt

João Vieira diz que lhe faltaram as pernas nas duas últimas voltas quando os adversário­s atacaram. “As pulsações estavam a disparar”, disse.

João Vieira alcançou ontem um honroso quinto lugar nos 50 quilómetro­s marcha, resultado que lhe valeu um diploma (ficou a 29 segundos do bronze). Na sua sexta participaç­ão em Jogos Olímpicos, o atleta de Rio Maior, de 45 anos, garantiu a melhor classifica­ção de sempre, melhorando o 10.º lugar nos 20 quilómetro­s marcha de Atenas 2004, tendo também concluído pela primeira vez a mais longa distância percorrida em provas olímpicas, à terceira tentativa.

“Fico muito contente com este resultado, um quinto lugar não é qualquer atleta que o consegue e eu vim aqui lutar com todas as minhas forças. Consegui um lugar de finalista, o que é muito bom para a minha carreira desportiva, que já vai longa, podem ser os meus últimos Jogos e assim cumpri o meu dever”, afirmou.

O atleta português chegou a Tóquio como vice-campeão do mundo da distância, tendo terminado a prova em 3:51.28 horas, o seu melhor registo da temporada, a 1.20 minutos do novo campeão olímpico, o polaco Dawid Tomala, que liderou a corrida antes dos 30 quilómetro­s.

Tomala chegou a ter uma vantagem de quase três minutos sobre o primeiro grupo, que contou sempre com João Vieira até às últimas duas voltas, quando descolou do alemão Jonathan Hilbert e do canadiano Evan Dunfee, segundo e terceiro classifica­dos, a 36 e 51 segundos do vencedor.

“Quando faltavam duas voltas, conversara­m entre eles e decidiram atacar. Eu já não tive pernas, as minhas pulsações já estavam a disparar”, admitiu João Vieira.

A quebra do português ainda permitiu que o espanhol Marc Tur alcançasse o quarto lugar, a um minuto de Tomala e com uma vantagem de 20 segundos sobre João Vieira. “Foi bom, arrisquei e saiu o quinto lugar, estou contente. É o topo da carreira. Apesar de não ter sido uma medalha, um quinto lugar é muito bom, depois da medalha de vice-campeão, só tenho de estar satisfeito”, assumiu o marchador do Sporting, que soma 59 títulos nacionais absolutos na especialid­ade.

João Vieira, que se isolou no segundo lugar no ranking dos portuguese­s com mais presenças olímpicas (seis), só atrás do antigo velejador João Rodrigues, até teve uma estreia negativa em Jogos, ao não poder alinhar em Sydney 2000 devido a uma doença.

Seguiu-se Atenas 2004 e o seu melhor resultado até hoje, o 10.º nos 20 km, distância em que foi 35.º em Pequim 2008, 11.º em Londres 2012 e 31.º no Rio 2016. Nas últimas duas edições tentou os 50 km mas não terminou nenhuma das corridas.

Carlos Lopes como ídolo

Natural de Portimão, João Vieira foi viver com a família para Rio Maior quando tinha 2 anos. Como conta Arons de Carvalho na sua página Atletismo Estatístic­a, o atletismo começou com idade de infantil, quando ele e o irmão gémeo Sérgio se iniciaram nas corridas. Um dia foi preciso arranjar um marchador para a seleção de Santarém que iria participar na fase nacional do Olímpico Jovem (então DN Jovem), em Lisboa, e os dois experiment­aram a prova de marcha: “Foram primeiro (o João) e segundo (o Sérgio). Estavam descoberto­s dois dos melhores marchadore­s nacionais de sempre. Daí em diante não mais deixaram a marcha e, um pouco à semelhança dos gémeos Castro das corridas, eram normalment­e primeiro e segundo, chegando a combinar entre si quem ganharia nesse dia!”

Como contou numa entrevista à Tribuna do Expresso, começou inspirado pelo ídolo Carlos Lopes: “Quando era miúdo e vi os Jogos Olímpicos de Los Angeles e o Carlos Lopes a ser medalha de ouro na maratona, a partir daí tornou-se um sonho ser atleta de alto rendimento. Com 11 anos o clube aqui da terra [Rio Maior] convidou-me para integrar o grupo de atletismo e fui. Eu e o meu irmão gémeo, o Sérgio. Ele andou comigo mais de 20 anos no atletismo. Somos iguais e muita gente confundia-nos.”

João é o mais titulado atleta português de sempre, com 57 títulos nacionais conquistad­os, entre pista, pista coberta e estrada, dos 5 aos 50 km, ao longo de 24 anos!

Em 2019, já com 43 anos, alcançou um dos pontos altos da sua carreira, ao conquistar a medalha de prata nos Mundiais, mesmo perante as contraried­ades da temperatur­a alta e muita humidade em Doha, no Qatar. “Muitas vezes acordo de manhã e penso que ainda tenho 20 anos e com isso vou à luta todos os dias. Muita gente não acreditava neste resultado e se calhar eu só em sonhos”, disse na altura. COM LUSA

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João Vieira, de 46 anos, fez muito provavelme­nte os últimos Jogos Olímpicos da sua carreira.

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