O ANO DO “REGRESSO” DE PINTO BALSEMÃO À POLÍTICA
Fundador do PSD apresenta em setembro as suas memórias e, no mesmo mês, o governo de António Costa homenageia-o como antigo primeiro-ministro, 40 anos após ter desempenhado o cargo. Mota Amaral é o convidado a invocar essa governação dos idos anos 80.
A “quela casa também é deles.” É assim que o secretário de Estado adjunto de António Costa justifica a homenagem que irá ser feita na residência oficial do primeiro-ministro em São Bento a Francisco Pinto Balsemão pelos 40 anos da sua tomada de posse como líder de governo.
Aquele que também é um fundador do PPD/PSD, com Francisco Sá Carneiro, é o segundo antigo primeiro-ministro a quem António Costa presta esta homenagem. Primeiro foi Mário Soares, que em 2016 contabilizou quatro décadas desde que assumiu o comando de um executivo, o I Constitucional.
“Não há uma lógica de proximidade ideológica, mas institucionalista, e aquela residência não é de António Costa é de todos os primeiros-ministros que por lá passaram”, afirma ao DN Tiago Antunes.
O secretário de Estado sublinha que “apesar de estarmos muito envolvidos no presente, é importante lembrar o passado político, o que é um exercício coletivo relevante”. E aquela casa, a de São Bento, diz, “viu muita coisa acontecer”.
Segundo Tiago Antunes essa memória, que se invoca através dos antigos primeiros-ministros, mostra a importância da alternância política para a democracia.
Francisco Pinto Balsemão verá assim celebrados os 40 anos do seu governo (1981-1983) a 2 de setembro. António Costa terá acertado com ele que o antigo par da Ala Liberal na então Assembleia Nacional João Bosco Mota Amaral seria o convidado a relembrar os tempos desse governo que se seguiu à morte de Francisco Sá Carneiro, em 1980. Entre os convidados, que serão poucos devido à pandemia, estará o líder do PSD, Rui Rio.
Livro de memórias
Pinto Balsemão também apresenta em setembro o seu livro de memórias, que irá muito além daquele período da governação, mas certamente que será um dos capítulos mais marcantes.
Tanto mais que o governo lhe caiu no colo de forma inesperada e dramática, depois de Sá Carneiro ter morrido na queda do Cessna em Camarate, a 4 de dezembro de 1980, dias antes das eleições presidenciais que renovaram Ramalho Eanes no cargo (Soares Carneiro, o candidato apoiado pelo PSD, foi
Mário Soares foi o primeiro
O fundador do PSD será o segundo homenageado pelo governo de António Costa por ter tido um papel relevante na democracia enquanto político e primeiro-ministro. O primeiro, e por maioria de razão, foi o fundador do PS e também líder de governo Mário Soares. Em julho de 2016, quando perfaziam precisamente 40 anos da data em que Soares tomou posse no I Governo Constitucional, decorreu uma cerimónia na residência oficial do primeiro-ministro que começou com o discurso que Mário Soares proferiu nessa tomada de posse. O socialista aproveitou a ocasião para desvalorizar o facto de o governo de António Costa ser minoritário – depois de o de Pedro Passos Coelho ter caído com o chumbo do programa de governo na Assembleia da República – recordando que estavam a ser estabelecidas parcerias com os partidos à esquerda, no caso PCP e BE. A cerimónia decorreu nos jardins do Palácio de São Bento e estiveram presentes cerca de 200 convidados, entre os quais o presidente da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues, e o ex-primeiro-ministro Francisco Pinto Balsemão.
derrotado). Eanes optou por não realizar eleições antecipadas, já que as anteriores – e que tinham dado a vitória por 44,91% à Aliança Democrática, coligação formada por PPD/PSD, CDS e PPM – se tinham realizado há pouco tempo.
Coligação que aceita o nome de Balsemão, embora Diogo Freitas do Amaral, então líder do CDS, só tenha integrado o segundo governo liderado pelo social-democrata (4 de setembro de 1981 a 23 de dezembro de 1982).
E o facto de o conselho nacional do PSD ter aprovado o novo líder do partido e o seu nome para primeiro-ministro não impediu que o partido andasse em polvorosa e a oposição a Balsemão fosse intensa e prolongada.
Eurico de Melo era a alternativa interna e será uma das personalidades que irão ser referência de um grupo de militantes e dirigentes que ao longo de meses fizeram oposição a Balsemão e à estratégia da AD, entre os quais figuras como Helena Roseta e Cavaco Silva.
São vários os episódios de guerrilha interna no PSD que vão pontuar os tempos de governação de Balsemão, mas a maioria do partido manteve-se com ele.
As memórias que agora publica ajudarão a desvendar alguns destes episódios sob o seu olhar, bem como o relacionamento político que terá mantido com os partidos naqueles tempos ainda agitados da década de 1980.