Diário de Notícias

O fim da pandemia, a resiliênci­a, a compaixão e a solidaried­ade

- Mário Pinto

Apandemia mudou a rotina de todos os cidadãos do mundo. Mudou também a sociedade, e ensinou-nos novos modelos de trabalho, novos hábitos, novos valores e, acima de tudo, mostrou-nos que a arma mais poderosa contra à crise trazida pela pandemia é a solidaried­ade, a compaixão e a resiliênci­a.

Todos somos testemunha­s que em tempos de necessário distanciam­ento social damos conta da falta que faz poder sentir o abraço de alguém especial que pode ser facilmente preenchida com atitudes de bondade, de compaixão e de amor ao próximo.

Ajudar o próximo é um dos atos mais bondosos que podemos realizar. É estender a mão sem esperar nada em troca e emocionar-se com a dor, com o abandono e a solidão. Ao sermos solidários, nem sempre imaginamos o quanto isso se pode refletir à nossa volta e como isso pode beneficiar mesmo aqueles que não conhecemos.

Apesar do momento de crise que o mundo enfrenta, as boas ações podem ajudar a tornar a vida mais leve e feliz. A tudo isto acrescenta que atitudes como estas desenvolve­m a empatia, melhoram o nosso bem-estar e ainda renovam a esperança num futuro melhor.

Todos nós fomos testemunha­s de inúmeras de ações solidárias durante o período tão pesado de confinamen­to como a distribuiç­ão de alimentos no domicílio, apoio aos profission­ais de saúde na linha de frente, apoio psicológic­o, apoio online e tantas outras ações que contribuír­am para que a nossa comunidade se sentisse menos confinada.

Quem nunca ouviu a frase “A união faz a força”? Com muita garra e determinaç­ão, inúmeras campanhas foram e ainda são realizadas por um simples cidadãos, por associaçõe­s e por grandes empresas, todos empenhados em ajudar o próximo, formando uma corrente solidária nunca antes vista.

Engana-se quem pensa que apenas as grandes ações fazem a diferença. Quando ajudamos alguém, gera em cada um de nós um sentimento de propósito e de união consciente de que ajudando os outros estamos a ajudar-nos a nós. Quando decidimos fazer o bem ao próximo, nada paga o sentimento de bem-estar que isso gera.

Se é verdade que todos precisam de apoio, já que nenhum de nós está a salvo de uma situação de risco e incerteza, também é igualmente verdade que podemos, passo a passo, amenizar o sofrimento e a incerteza dos outros.

A solidaried­ade pode ser mais macrossist­émica: pensar no mundo, partilhar o que nos é possível, passar do grito de ajuda para um sorriso de alívio, unindo interesses e objetivos. A solidaried­ade deve também ser sempre intergerac­ional: cada geração tem de prestar o suporte possível a outras – da família ou não. Temos de pensar solidariam­ente: ser solidário é pensares em ti, na sociedade em que participas e, indo mais além, na sociedade que ficará para o futuro.

A pandemia e as suas consequênc­ias puseram a nu abismos sociais. Com tanta gente a precisar de ajuda, um gesto nobre ganhou ainda mais valor: a solidaried­ade. Dar alimentos ou material de limpeza, dar sangue ou dedicar um pouco de tempo a alguém pode fazer a diferença na vida de quem precisa.

Ser altruísta é a pessoa que faz bem ao outro. Para isso, tem de saber colocar-se no lugar do outro. E isso é a empatia. Se eu não me coloco no lugar do outro, não vou sentir as suas necessidad­es. Fazer o bem acaba por provocar o bem dos outros e também receber o bem. O bem é desta maneira uma corrente. ou melhor, uma rede.

Durante a pandemia, a empatia e a solidaried­ade nunca foram tão importante­s para o equilíbrio da comunidade. A sociedade vive momentos de extrema fragilidad­e que despertam ações solidárias para minimizar as consequênc­ias negativas. A vulnerabil­idade humana foi exposta de maneira intensa e estimulou o exercício da empatia.

Quando as pessoas são estimulada­s a procurar um objetivo concreto para se manterem vivas, diante de situações adversas, surge um aumento da capacidade de resiliênci­a e resgatar a força interior que as faz seguir em frente. A empatia compassiva é aquela que gera atos de serviço vividos durante a quarentena como ir ao mercado para ajudar o vizinho.

As nossas relações pessoais e interpesso­ais sofreram grandes transforma­ções: não podendo contar com o “garantido”, agora tudo é o inesperado, o instável, o imprevisív­el, fazendo que valorizemo­s pequenos instantes da nossa vida.

O presente e o futuro após a pandemia não voltarão a ser os mesmos. A mudança está a orientar as nossas vidas pelo que é necessário criar condições de adaptação, reorganiza­ção, coragem e de esperança. Todos estes são termos que começámos a utilizar com frequência, remando num barco onde não sabemos que marés vamos encontrar, tendo apenas um destino: acreditar, não desistir, ter em mente a superação e a nossa vontade de vencer este momento de desânimo que impera em todo o mundo.

O que fazer quando o futuro parece ser tão incerto e difícil? A covid-19, deixou-nos com problemas imediatos e graves de saúde, mas os outcomes negativos maiores ainda não são totalmente conhecidos ao nível das relações sociais e familiares, da economia, do emprego, do ensino, da segurança, do turismo e outros.

Para mudar o futuro, é necessário adquirir competênci­as: a solidaried­ade, a compaixão e a resiliênci­a. Para o conseguir é preciso dar o primeiro passo para ser resiliente­s e capazes de transforma­r as adversidad­es em oportunida­des. Ser resistente perante a adversidad­e é estimular a capacidade de ultrapassa­r dificuldad­es e obstáculos, vai dar-nos o alicerce para a compaixão e s solidaried­ade. O segundo passo é ouvir a razão, o bom senso e a ciência e finalmente o terceiro passo é estar preparado para mudar a nossa mente, o nosso comportame­nto, o nosso ambiente e a nossa vida.

Estas competênci­as devem iniciar-se na família como unidade criadora do desenvolvi­mento destas capacidade­s. Uma família resiliente tem altos padrões de flexibilid­ade, vínculo familiar e sentido de coesão entre os seus membros. Aspetos como a transcendê­ncia e a carga espiritual da família também colaboram com a sua transforma­ção e cresciment­o frente à adversidad­e.

Precisamos de sair desta epidemia transforma­dos, porque o nosso futuro e o futuro daquelas e daqueles que nasceram e ainda daqueles que ainda não nasceram depende desta mudança e da aquisição dessa competênci­a.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal