Berlim, 1961: como destruir muralhas de ódio em 2021
Há 60 anos começava a ser erguido o Muro de Berlim. Em pleno período de Guerra Fria, a Alemanha de Leste queria impedir a tentativa dos habitantes de Berlim de fugirem da zona leste para o lado ocidental e começou a erguer a muralha que separou cidadãos e famílias durante décadas.
Hoje, a pandemia também levanta muros e é preciso cuidados redobrados. Os movimentos políticos populistas e extremistas querem muros e mais muros e usam as artimanhas que estão ao seu dispor, como por exemplo as redes sociais, para incitar aos conflitos e ao erguer de muralhas de betão de ódio.
Na União Europeia, os muros ainda existem (é útil recordar) e a pandemia enfatizou egoísmos, por exemplo, no açambarcamento de vacinas em alguns países do Velho Continente. Mas estes fenómenos já vêm de trás. Há quanto tempo se debate a harmonização fiscal ou das leis laborais ou mesmo a aproximação dos salários mínimos? Queremos manter essas paredes entre os próprios países da UE?
Uma das respostas aos novos muros passa pela aposta do país na retenção e atração do talento, em especial dos mais novos, e evitar a sangria (que desde o período da troika nunca mais parou) de jovens portugueses que foram ou vão estudar para fora e não voltam, por lá ficam a trabalhar, atraídos por melhores condições e salários.
Neste mês, muitos estudantes e trabalhadores na faixa dos 20 anos fazem as malas com destino europeu ou norte-americano, mesmo em pandemia, a que assistem muitas famílias portuguesas.
Nesta sexta-feira, 13, a questão está em saber se, em meados de 2021, encaramos este dia com base na superstição, esperando pelo milagre da bazuca ou pelo regresso de algum D. Sebastião, ou se aproveitamos o momento – já que o verão é tempo de balanços, como se de uma passagem de ano se tratasse –, para desenhar e executar uma estratégia ambiciosa para o país.
Não podemos continuar a navegar à bolina, como mera tática política, ora justificada pela proximidade das eleições autárquicas ora pelo início da distribuição dos primeiros envelopes dos fundos europeus. Os grandes temas que têm de estar na agenda passam pela forte aposta no talento, pelo reforço do investimento na inovação e, claro está, por um plano de verdadeira sustentabilidade do país.
Se hoje assinalamos, numa sexta-feira 13, o início da construção do Muro de Berlim, é porque precisamos de estar sempre atentos aos ventos de mudança e não devemos esquecer que o muro caiu, em novembro de 1989, às mãos dos populares. De pouco adianta erguer cortinas de ferro. Em democracia, a vontade do povo e a liberdade vencerão sempre.
PS. A propósito de liberdade e caminhos sem muros, é inadmissível o que está a acontecer com a rede de bicicletas Gira, com cem veículos desaparecidos e vandalizados, em Lisboa. Usar a identificação de cada cartão de crédito que tem de ser inserido para aceder à rede Gira é uma forma de chegar aos responsáveis. O arranjo de cada bicicleta (que se consegue recuperar) custa cerca de 200 euros. A impunidade é o pior exemplo que podemos dar aos nossos filhos.
Não podemos continuar a navegar à bolina, como mera tática política, ora justificada pela proximidade das eleições autárquicas ora pelo início da distribuição dos primeiros envelopes dos fundos europeus.