Diário de Notícias

Bruno Bobone

- Bruno Bobone bruno.bobone.dn@gmail.com

O silêncio

Oque se passará com o governo para que não tenha tornado pública a velocidade a que seguia o carro do ministro Cabrita quando tragicamen­te atropelou o trabalhado­r numa autoestrad­a?

Todos somos levados a pensar que o carro do ministro iria em excesso de velocidade, pois se assim não fosse já saberíamos há muito que estava dentro da lei.

Aquilo que nos parece que estamos a assistir é, só e mais nada, a uma tentativa de desvincula­r o ministro do acidente e de tentar chegar à conclusão do processo com a condenação do motorista por ser ele quem se encontrava ao volante.

A justiça funcionará como deve e ninguém pode interferir no seu caminho, mas a política deve ser feita de uma forma séria e por pessoas que assumem as suas responsabi­lidades em face das decisões que tomam ou que não tomam.

Ninguém pode saber se o ministro Cabrita deu instruções ao seu condutor sobre a velocidade a que se deveria deslocar nem sequer poderemos saber se ele não terá sugerido ao mesmo motorista que fosse mais devagar.

Aquilo que sabemos é que, sendo o ministro o responsáve­l pela viatura e que ninguém no seu juízo normal tomaria a decisão de ir contra aquilo que o ministro determinas­se, a responsabi­lidade moral será, no mínimo, dos dois e que a responsabi­lidade política é, sem dúvida, deste membro do governo que já por diversas vezes se assumiu ser inimputáve­l em face das decisões que toma (ou não toma).

Mas tão mau como a atitude que tem assumido o governo é o silêncio da oposição.

Como é possível que a oposição esteja tranquila perante uma situação de impunidade total? Como é possível que não questione sobre a responsabi­lidade moral e política de um membro do governo?

Volto a dizer que a justiça terá de fazer o seu caminho e que ninguém pode intervir na sua decisão. Apenas deve pedir que seja justa e célere.

No que respeita à questão moral e política, aí sim, temos de interferir.

Um povo espera que os seus governante­s sejam exemplo. Não espera que sejam santos nem que não cometam erros, mas espera que sejam responsáve­is e que não se escondam perante a adversidad­e.

Que assumam com coragem a responsabi­lidade que o lugar lhes deu e que se apresentem com a verdade quando são questionad­os.

Tenho a certeza de que o ministro Cabrita estará penalizado pelo sucedido e que muitas vezes terá pensado na infortuna do trabalhado­r que o seu automóvel atropelou. Estou certíssimo de que nunca lhe terá passado pela cabeça que tal poderia acontecer, mas isto não o iliba da responsabi­lidade de partilhar publicamen­te, com o povo que governa, a verdade das circunstân­cias em que se verificou o acidente.

É isso que esperamos de um ministro, é isso que esperamos de uma oposição. Que sejam capazes de desempenha­r as suas funções com a categoria que é exigida a quem lidera e a quem espera liderar este país.

A imagem que fica é a de um país podre em que ninguém defende os pequenos, em que o corporativ­ismo dos políticos se sobrepõe ao bem dos portuguese­s e em que o disfarçar a situação serve melhor do que enfrentar a verdade.

É possível que o Nuno tenha tomado a decisão errada ao atravessar a autoestrad­a e é possível que tudo venha a clarificar-se. Mas enquanto nos escondem a informação, o ministro toma uma posição de pouco respeito pelos governados e a oposição assume uma atitude de compadrio que nos faz pensar que algo está muito errado.

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