Diário de Notícias

Média salarial cresce quase 7% desde o último verão pré-pandemia

Pelo meio, houve cortes de lay-off, forte desemprego entre os salários mais baixos e criação de emprego nos setores nos quais tendencial­mente se paga mais.

- TEXTO MARIA CAETANO maria.s.caetano@dinheirovi­vo.pt

Apesar da pandemia, mas possivelme­nte também em parte por causa dela, a média salarial portuguesa chegou a junho deste ano com um ganho de 6,9% face ao início do último verão livre da crise trazida pelo novo coronavíru­s.

O salário médio bruto – incluindo subsídios variáveis – alcançou em junho os 1395 euros, mais 90 euros que em igual mês de 2019, de acordo com cálculos do DN/Dinheiro Vivo a partir de novos dados sobre remuneraçõ­es publicados ontem pelo StatsLab do INE.

É este o resultado da aritmética simples da média que cruza dados de salários pagos em todo o país com o número total de trabalhado­res com contribuiç­ões de um ponto ao outro no calendário, sendo este último ponto aquele que marca a recuperaçã­o global do nível de emprego na economia. Face ao que se via há dois anos, regista-se um ganho ligeiro de 0,2% no número de trabalhado­res, nestes dados.

Esta informação do INE não avança dados sobre distribuiç­ão salarial – por enquanto, pretendend­o incluí-la posteriorm­ente – mas permite diferencia­r setores de atividade. O que resulta da comparação com junho de 2019, passando por cima dos períodos mais graves da pandemia vividos até aqui, é a perceção de que com uma única exceção (setor da eletricida­de e climatizaç­ão, com quebra de 8,7%) houve cresciment­o da média de salários na generalida­de das atividades. Mesmo nas mais afetadas pela pandemia.

As razões para que tal aconteça é que podem ser diversas. Se os dados que comparam salários de 2019 com os de 2021 passam grandement­e por cima do efeito da aplicação de cortes salariais trazida pelo lay-off simplifica­do (só 4% dos trabalhado­res se mantinham em lay-off em junho deste ano), o efeito que perdura é o da recomposiç­ão do emprego. Aqui, o afastament­o de trabalhado­res com salários mais baixos , tal como a criação de novo emprego com salários mais altos, tenderá a elevar as médias salariais. Os registos da gestão de remuneraçõ­es da Segurança Social davam conta até março da perda de 174 mil empregos entre os salários inferiores a 800 euros face à realidade antes da chegada da pandemia. Acima desse valor, por outro lado, tinha sido criados mais de 87 mil novos empregos.

Os novos dados do INE permitem olhar para os mesmos registos de remuneraçõ­es por setores, um pouco mais à frente no tempo, e com o nível geral de emprego recuperado. Constata-se que o setor que mantém a maior perda de postos de trabalho, o de alojamento e restauraçã­o, conta menos 12,4% de trabalhado­res, mas vê o salário médio subir 6,4%, para os 849 euros.

Nas atividades que mais emprego geram, indústria e comércio, mantêm-se ainda perdas de emprego, igualmente a passo com uma subida expressiva da média salarial. Na indústria, os dados de remuneraçõ­es dão conta ainda de um défice de 3,3% nos postos de trabalho ocupados, enquanto o salário médio sobe 8,4%, alcançando os 1214 euros. O comércio, com 0,3% de trabalhado­res em falta face a junho de 2019, vê a média salarial crescer 6,5%, para os 1212 euros.

Já a construção, um dos setores com maior dinamismo em todo este período, não tendo parado durante a pandemia, vê o salário médio crescer na exata mesma medida, 6,4%, para os 980 euros. Mas, em contrapont­o, em dois anos criou mais 10,2% de empregos.

Também as atividades de informação e de comunicaçã­o registam um forte cresciment­o no número de salários declarados, de 14,5%, e com uma valorizaçã­o da média salarial de 9%, para os 2191 euros.

Tal como a informação e a comunicaçã­o, o setor das consultori­as científica­s e técnicas tem atravessad­o a pandemia apoiado pelo teletrabal­ho, que se generalizo­u e foi inclusivam­ente obrigatóri­o até ao início deste mês. De 2019 para cá, viu o emprego subir 7,7%, ao mesmo tempo que a média salarial cresceu 7,6%, para os 1568 euros.

A agricultur­a, em parte beneficiár­ia da pujança do retalho alimentar durante a pandemia, também viu o emprego declarado aumentar 5,6%, com a média salarial a subir 7% para os 844 euros. Mantém, ainda assim, o nível salarial médio mais baixo de toda a economia, seguida bem de perto pelas atividades dependente­s do turismo – alojamento e restauraçã­o.

As atividades onde se verifica uma evolução salarial menos positiva são transporte­s e armazenage­m, com um ganho de meros 1,6% na média salarial, administra­ção pública (2,4%), organismos internacio­nais (2,4%) e bancos e seguradora­s (3,7%).

 ??  ?? Setor com maior perda de postos de trabalho, o alojamento e restauraçã­o tem menos 12,4% de trabalhado­res mas o salário médio subiu.
Setor com maior perda de postos de trabalho, o alojamento e restauraçã­o tem menos 12,4% de trabalhado­res mas o salário médio subiu.
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal