Diário de Notícias

Resgatar, esteriliza­r e sensibiliz­ar, pelo fim do abandono de animais

- Manuela Gonzaga

Foi há 11 anos que o Timóteo entrou nas nossas vidas. Caminhava apavorado entre a Calçada do Combro e a Rua da Rosa, em Lisboa. Tinha entre quatro e cinco anos e era de grande porte. E agora? Telefonar para a câmara para o vir recolher, levar para o canil e abatê-lo? Nessa altura era a prática comum. Ficámos com ele. A mudança de hábitos e ritmos foi tremenda, mas o Timóteo instalou-se e tornou-se membro de pleno direito da nossa família. Nos nossos passeios, acabámos por conhecer melhor as pessoas com cães também adotados, cujas histórias partilháva­mos com espanto, alegria e desgosto: como se podem descartar seres vivos com tamanha leviandade, condenando-os à morte quase certa ou a vida tão incerta?

Neste sábado assinalou-se o Dia Mundial do Animal Abandonado e em Portugal abandonar e maltratar animais é crime punido por lei e o novo regime veio agravar as penas aplicadas. Mas se a sensibiliz­ação é hoje maior do que noutros tempos, na prática a situação continua fora de controlo.

Só em 2020 foram recolhidos mais de 30 mil animais de companhia em centros de recolha. Os dados oficiais deixam de fora os animais acolhidos por pessoas de boa vontade e pelas dedicadas e incansávei­s associaçõe­s de proteção animal, que estão sem recursos e cuja lotação dos espaços disponívei­s atingiu há muito o ponto crítico.

Sem esquecermo­s os abrigos ilegais, que ocupam muitas vezes uma zona penumbrosa onde o interesse do animal nem sempre é tido na melhor conta e cujas denúncias são sucessivam­ente ignoradas até que culminem em episódios como o de Santo Tirso ou, mais recentemen­te, de Castro Marim, no qual o PAN denunciou a morte de 14 cães carbonizad­os num abrigo que já tinha sido sinalizado.

Aqui temos de apontar o dedo ao governo e às autarquias, que não se podem demitir das suas responsabi­lidades e competênci­as como têm feito. Demos um grande passo civilizaci­onal ao conseguirm­os, através de uma proposta veiculada pelo PAN, o fim do abate nos canis, mas este foi apenas o primeiro de uma longa caminhada, para a qual são necessária­s mais verbas para os centros de recolha e para as associaçõe­s, bem como mais apoios para as famílias carenciada­s cuidarem dos seus animais, razão pela qual urge criar hospitais veterinári­os municipais e bancos alimentare­s para animais.

Contudo, as verbas destinadas a essas ações tendem a permanecer eternament­e “congeladas” em gabinetes e reféns de processos burocrátic­os. Tudo isto desmotiva quem está no terreno a defender os animais.

A lei endureceu? Sim. Mas para combater o abandono destes milhares de animais é preciso mais empatia, mais sensibilid­ade, maior respeito por todas as formas de vida, e ainda esteriliza­r, não abandonar, sensibiliz­ar e muito trabalho, com empenho e dedicação. Os animais, estes nossos grandes companheir­os de vida, merecem que o façamos por eles.

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