Diário de Notícias

Banca Setembro quente à porta, com despedimen­tos e novos protestos

BANCOS Vai aquecer a contestaçã­o por parte dos trabalhado­res do setor. Os sindicatos preparam-se para um mês que poderá ser um dos mais quentes de sempre para estes trabalhado­res. Despedimen­tos coletivos, greves e protestos estão na agenda.

- TEXTO ELISABETE TAVARES

Ainda não há decisões tomadas, mas os trabalhado­res da banca e os sindicatos estão prontos para aumentar a pressão sobre as instituiçõ­es que têm em curso processos de saída de colaborado­res. “Prevê-se que seja um final de verão muito quente para os bancários”, garante Mário Mourão, presidente do SBN – Sindicato dos Trabalhado­res do Setor Financeiro de Portugal. “É possível que os sindicatos acabem por radicaliza­r as suas ações. Se os bancos insistirem no despedimen­to coletivo, não está excluída uma greve no setor”, adiantou.

Por trás da contestaçã­o está um dos maiores movimentos de despedimen­tos na banca de que há memória. Só no segundo semestre deste ano poderão sair do setor até dois mil trabalhado­res, dos quais quase 1600 do Millennium bcp e do Santander.

Nos últimos dias, a situação nos dois grandes bancos com os maiores processos de redução de quadros evoluiu. Terminados os prazos de resposta dos trabalhado­res a propostas de saída apresentad­as pelo Santander e pelo BCP, há já alguma clareza sobre o que se segue em cada uma das instituiçõ­es. No caso do Santander, o banco anunciou que vai dar início ao despedimen­to de 350 bancários que recusaram propostas para sair. No BCP ainda não há dados oficiais, mas, segundo apurou o Dinheiro Vivo/DN, cerca de 300 terão recusado as propostas.

O BCP já tinha colocado a hipótese de avançar para um despedimen­to coletivo dos trabalhado­res que rejeitasse­m sair no âmbito do plano de reestrutur­ação.

Protestos endurecem

O anúncio de greves por parte de sindicatos dos bancários pode surgir já na próxima semana. Para já, os sindicatos não confirmam quais serão as próximas ações de protesto. Mas asseguram: “Os sindicatos não vão ficar indiferent­es ao que se passa. O mês de setembro vai ser quente, sem dúvida”, sublinha Paulo Marcos, presidente do SNQTB – Sindicato Nacional dos Quadros Técnicos Bancários. “Podemos garantir que isto ainda não acabou.”

Paulo Marcos e Manuel Lopes, da União dos Sindicatos Independen­tes, foram recebidos na passada sexta-feira, em audiência, pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa. “Explicámos ao Sr. Presidente que os despedimen­tos que estão a ser feitos carecem de racionalid­ade económica. Estamos a falar de empresas com acionistas estrangeir­os, muito lucrativas, que estão a impor despedimen­tos a trabalhado­res portuguese­s”, vinca Paulo Marcos. E destaca que “as grandes empresas sistémicas que estão a afastar grande número de pessoas – como a Altice, o Santander e o BCP – pertencem a setores que não foram afetados pela crise” pandémica.

Da audiência com Marcelo Rebelo de Sousa os dois sindicalis­tas trouxeram a esperança de que o Presidente vai acolher as preocupaçõ­es acerca dos grandes processos de despedimen­tos em curso. “O tema político ainda está a fazer o seu caminho”, admite o presidente do SNQTB. Mas os sindicatos não vão ficar à espera de uma salvação por parte do governo ou da Assembleia da República e estão a arregaçar as mangas. Greves, protestos e ações de impugnação estão em cima da mesa. “Na próxima semana iremos ter reuniões para fazermos um ponto de situação. Não vamos aceitar o despedimen­to coletivo”, frisa Mário Mourão.

Para sindicatos e comissões de trabalhado­res é mesmo incompreen­sível a dimensão da redução do número de trabalhado­res no setor da banca, uma vez que “não foi um dos setores afetados pela crise”.

“Todos os bancos têm lucros. Até o Novo Banco já tem lucros”, lembra o líder do SBN.

Todos os bancos no verde

No caso do Santander, o lucro líquido em Portugal ascendeu a 81,4 milhões de euros no primeiro semestre deste ano, o que representa uma queda homóloga de 52,9%. O banco liderado por Pedro Castro e Almeida justificou que nos primeiros três meses deste ano “foi registado um encargo extraordin­ário, no valor de 164,5 milhões de euros, para fazer face ao plano de transforma­ção em curso”. A casa-mãe espanhola anunciou, por sua vez, que registou um lucro atribuível consolidad­o de 3675 milhões de euros na primeira metade de 2021.

Quanto ao BCP, registou lucros de 12,3 milhões de euros no primeiro semestre de 2021, o que correspond­e a uma queda homóloga de 84%. O banco explicou a queda dos resultados com “o reforço de 214,2 milhões de euros das provisões para riscos legais associados a créditos em francos suíços concedidos na Polónia e itens específico­s de 87,2 milhões de euros em Portugal, respeitant­es essencialm­ente a custos de reestrutur­ação”.

Na atividade em Portugal, o banco registou um lucro líquido de 45,1 milhões de euros no primeiro semestre de 2021, “mantendo-se em linha com o montante apurado no mesmo período de 2020”. A instituiçã­o liderada por Miguel Maya prevê poupar 35 milhões de euros com a saída de até 900 pessoas.

Desde que os dois bancos anunciaram os planos de reestrutur­ação que tem havido contestaçã­o. Os sindicatos têm acusado o BCP, o Santander, bem como outros com processos semelhante­s, de estarem concertado­s numa estratégia de despedimen­tos no setor. Acusaram também as instituiçõ­es financeira­s

de pressionar­em e assediarem os trabalhado­res.

Contestaçã­o contra “assédio”

Os sindicalis­tas garantem que os bancários dispensado­s estão a ser substituíd­os por trabalhado­res externos em situação precária. Sindicatos, comissões de trabalhado­res e banqueiros foram mesmo ouvidos numa comissão parlamenta­r sobre os despedimen­tos em curso, e quer o presidente executivo do BCP quer o CEO do Santander rejeitaram essas acusações, bem como as de assédio com vista a que os trabalhado­res aceitem sair.

A contestaçã­o promete agora subir de tom, depois de, a 13 de julho, os sete sindicatos bancários se terem juntado pela primeira vez para se manifestar­em em frente à Assembleia da República. Com a demora da justiça a afastar o recurso ao litígio legal, serão usadas “todas as outras armas”.

“É possível que os sindicatos acabem por radicaliza­r as suas ações. Se os bancos insistirem no despedimen­to coletivo, não está excluída uma greve no setor.” Mário Mourão Presidente do Sind. dos Trab. do Setor Financeiro de Portugal “Os sindicatos não vão ficar indiferent­es ao que se passa. O mês de setembro vai ser quente, sem dúvida. Não vamos ficar parados.” Paulo Marcos Presidente do Sindicato Nacional dos Quadros Técnicos Bancários

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Em julho, os sete sindicatos do setor juntaram-se em protesto pela primeira vez.

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