Diário de Notícias

“Temos estado a fazer das tripas coração para sobreviver”

Aumento da lotação não resolve problema da restauraçã­o, que reclama pelo fim total das restrições e por mais apoios.

- TEXTO HERMANA CRUZ hermana.cruz@jn.pt

Na Rua Heróis de França, em Matosinhos, reina um silêncio estranho para a hora do almoço. Quem conhece a artéria apelidada por “rua da lota” sabe que eram frequentes as filas de trânsito, a azáfama para se encontrar uma mesa disponível e a espera à porta dos restaurant­es. Mas os restaurant­es estão vazios e as esplanadas a meio gás. Tem sido assim desde o início do desconfina­mento e a situação agravou-se com a exigência de teste ou certificad­o digital ao fim de semana.

“É como se estivéssem­os fechados de porta aberta. Sobretudo as famílias não querem sujeitar os filhos a terem de fazer teste para entrar num restaurant­e. Por isso preferem a esplanada. Tivemos dois sábados em julho e um domingo agora em agosto com a sala de jantar completame­nte vazia”, revela o proprietár­io do Palato Restaurant­e, Nuno Gomes. À conta disso, as mesas da esplanada, com capacidade para 20 pessoas, que costumavam rodar quatro vezes numa noite, só “mudam vez e meia”. E o interior, que pode acolher 30 pessoas, segundo as regras da Direção-Geral da Saúde, fica a zero. Nuno Gomes fala em quebras de 91% no primeiro trimestre do ano e de 50% desde que começou o desconfina­mento.

“Temos estado a fazer das tripas coração para sobreviver”, garante o proprietár­io do Palato Restaurant­e, que já foi forçado a não renovar contratos de funcionári­os.

Por isso, Nuno Gomes não está aliviado pelo facto de as novas regras do desconfina­mento permitirem ter mais clientes à mesa. Recorde-se que o interior pode acolher grupos de oito pessoas e o exterior de 15 pessoas. “Se a minha esplanada só pode levar 20 pessoas, de que me serve poder ter grupos de 15? E não é por ser possível ter oito pessoas à mesa que a sala interior vai ficar cheia”, sublinha, consideran­do que muitas das regras de saúde pública não fazem qualquer sentido.

Para o empresário, que está farto de ver “a restauraçã­o a ser o parente pobre da pandemia”, a situação só se resolve com o levantamen­to total de todas as restrições e com o reforço dos apoios públicos. “Tenho negócio há 13 anos. Já levei com o aumento do IVA na restauraçã­o. Agora com isto. Sinto que estamos a morrer na praia e ninguém nos ajuda”, confessa Nuno Gomes, garantindo que 2021 está a ser mais negro para o setor do que o ano passado.

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