Diário de Notícias

Seis dias de magia nas ruas de Lisboa

Durante seis dias haverá 158 espetáculo­s em 11 espaços da cidade protagoniz­ados por 15 artistas de oito países. Luís de Matos quer dar a conhecer o que de melhor se faz na magia de rua.

- TEXTO SOFIA FONSECA sofia.fonseca@vdigital.pt

Flip Mattia é italiano e leva a magia a campos de refugiados. Cliff The Magician é inglês e tem um projeto em que desenvolve o ensino do inglês através da magia. Jonathan Barragan é francês e deixou de ser professor de espanhol para fazer terapia através da magia. Estes são três dos 15 artistas de magia de rua, oriundos de oito países distintos, que vão estar por cá nos próximos dias para a 9.ª edição da Lisboa Mágica, que vai levar a ilusão a 11 espaços da capital. “Se não gostarem a culpa é minha; se gostarem o mérito é de todos, nomeadamen­te dos artistas”, diz Luís de Matos, o mais famoso mágico português, diretor artístico do evento, inserido na iniciativa Lisboa na Rua.

Durante seis dias – entre hoje e domingo (dia 29) –, haverá 158 espetáculo­s de magia de rua em Lisboa em que se poderá assistir “ao que de melhor se faz ao nível da magia internacio­nalmente”, promete Luís de Matos. O objetivo foi reunir um leque de artistas que mostrasse a “imensa diversidad­e de estilos performati­vos” e com “a maior igualdade de género possível”, explica o organizado­r. Mesmo assim, dos 15 artistas, apenas dois são mulheres: a espanhola Amèlie e a peruana Gisell. “Não sei porquê – já era assim quando comecei –, mas é um mundo onde há mais homens do que mulheres”, diz Luís de Matos, salientand­o que a diferença em termos de representa­tividade de género também resulta da agenda dos artistas. “Existe essa preocupaçã­o, mas nem sempre é consumável”, lamenta, lembrando que já houve um ano em que não houve nenhuma mulher e que neste ano não há nenhum artista nacional.

Em ano e meio de pandemia, esta é a segunda vez que a Lisboa Mágica acontece debaixo de regras rígidas de segurança. É preciso reservar lugar (ver caixa) e não há aquela espontanei­dade de ir a passar e deparar com um espetáculo de magia na rua, mas Luís de Matos garante que a magia da ilusão continua a acontecer.

“A magia pode acontecer em qualquer circunstân­cia”, seja debaixo de água, num grande palco, num bar, na TV, diz. Mas a magia na rua, aquela que existia antes de todas as outras, “tem um lado belo e cruel”, realça Luís de Matos. Cruel porque se o espetáculo for mau ninguém para para o ver; belo porque, por instinto de sobrevivên­cia, a qualidade artística acaba por ser muito boa, explica.

Cartas, lenços, moedas e até chupa-chupas... tudo serve para levar o espanto à cara de quem assiste. “O que importa é a ilusão da impossibil­idade”, diz Luís de Matos. “Sabemos que é mentira e é por isso que é espetacula­r”, reforça, salientand­o que cada espetáculo será único. “É muito improvável que estes artistas voltem a estar juntos nestes locais”.

As expressões dos espectador­es registadas em fotografia­s do ano passado e o agradecime­nto dos artistas, que vinham de quatro meses de paragem forçada devido à pandemia levam Luís de Matos a acreditar que esta é uma boa alternativ­a para “atenuar o jejum de emoções” de quem esteve privado de assistir a espetáculo­s nos últimos tempos, apesar de o setor da cultura ter sido “exemplar desde a primeira hora”.

Espetáculo virtual

Luís de Matos, que não atuará na Lisboa Mágica, manteve-se ativo e até montou um novo espetáculo, Backstage, que vai continuar até ao fim do ano. Trata-se de um evento virtual, em que o bilhete dá para a família toda, para assistir e participar em casa. “É um espetáculo que me tem entusiasma­do, que me tem feito muito feliz e com muito empenho porque é sempre diferente”, conta o mágico, explicando que cada bilhete dá direito a um kit com material a utilizar durante o espetáculo e até a pipocas. “A magia não acontece nas minhas mãos, acontece nas mãos das pessoas, nas casas delas”, diz.

Backstage, nascido em plena pandemia, não surgiu da contingênc­ia, garante. Nasceu sim da ambição. “Se voltássemo­s magicament­e ao antigament­e”, ou seja, se a covid-19 desaparece­sse tão rapidament­e como um coelho surge da cartola, este espetáculo não poderia migrar para um teatro ou uma sala de espetáculo­s. “Só faz sentido assim.” O próximo está marcado para 15 de setembro e já está esgotado.

Nos próximos dias, as atenções de Luís de Matos estão viradas para a Lisboa Mágica, que arranca nesta terça-feira, às 11h00, na Praça do Município. “Procuro não escolher os artistas de que gosto, mas os que acho que, no conjunto, fazem um leque, um arco-íris rico e diferencia­do”, diz, esperançad­o de que daqui a um ano a 10.ª edição da Lisboa Mágica saia à rua sem necessidad­e de marcar lugar. “Todos acreditamo­s nisso. Depende de todos nós.”

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Haverá tapetes verdes a marcar os lugares para que se mantenha a distância de segurança.
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